Ally e Ryan

Ally e Ryan

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Mulheres com deficiência terão atendimento exclusivo em hospital


O Hospital‘Peróla Byington’ irá oferecer assistência ginecológica e psicológica. Atendimento será feito sempre no ultimo sábado do mês.

As mulheres que possuem algum tipo de deficiência física ouintelectual terão a partir deste sábado (28/07) um atendimento exclusivo e especial no hospital Pérola Byington, em São Paulo. O novo serviço oferece desde assistência ginecológica até acompanhamento com psicólogos e nutricionistas.

A estudante de Direito Edna Silva teve paralisia infantil e passou a maior parte da vida na cadeira de rodas. Aos 41 anos, é a primeira vez que vai ao ginecologista. “É difícil encontrar um ginecologista porque, nos postos de saúde, dão prioridade à gestante”, disse.

Já faz dois meses que ela está com um sangramento e conseguiu ser atendida no projeto Sábado sem Barreiras, dedicado a pessoas com deficiências físicas e mentais. O serviço foi inaugurado esta manhã pelo governador Geraldo Alckmin e pretende atender mil mulheres por ano.

As pacientes vão passar por consultas médicas e fazer exames como ultrassom, mamografia e papanicolau, usando equipamentos especiais. O atendimento será feito sempre no ultimo sábado do mês.

O fim de semana foi escolhido porque assim fica mais fácil para os parentes acompanharem o paciente. O foco não é tratar as deficiências, mas cuidar da mulher.

“Ela menstruou, ela teve vontade de ter relações, ela quis engravidar e, muitas vezes, isso não foi discutido, porque é uma forma de não-inclusão, porque, quando ela vem ao ginecologista, ela se liberta. Ela diz: ‘eu sou mulher como as outras’”, afirma Albertina Duarte Taquiute, coordenadora do Programa do Adolescente da Secretaria de Saúde e assessora da Organização Pan-americana de Saúde para Assuntos da Mulher.

O governo pretende ampliar o serviço, porque os exames periódicos são fundamentais para detectar doenças como câncer em seu estágio inicial, auxiliando o tratamento. “Pretendemos levar essa proposta para os demais serviços de saúde do governo. É um atendimento voltado à mulher com deficiência, com atendimento completo na área ginecológica, desde consulta com especialistas, exames, e, se precisar, cirurgia”, disse o governador paulista.

As consultas no programa Sábado Sem Barreiras serão sempre das 8h às 12h e devem ser agendadas pelo telefone (11) 3248-8123.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Lei de Cotas

A chamada Lei de Cotas (Lei 8.213 de 1991) completou nesta terça-feira 21 anos de sua sanção. Mesmo depois de mais de duas décadas em vigor, ainda existe muito preconceito sobre a capacidade produtiva da pessoa com deficiência. A avaliação é do secretário Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoas com Deficiência, Antônio José Ferreira. “Ainda temos muitos desafios. Os maiores são superar, ainda, os preconceitos e o desconhecimento que o empresário têm acerca das potencialidades e da capacidade da pessoa com deficiência”, disse à Agência Brasil.

Atualmente, existem cerca de 306 mil pessoas com deficiência formalmente empregadas no Brasil. Desse total, cerca de 223 mil foram contratadas beneficiadas pela Lei de Cotas. Ela prevê, no Artigo 93, que toda empresa com 100 ou mais funcionários deve destinar de 2% a 5% (dependendo do total de empregados) dos postos de trabalho a pessoas com alguma deficiência.

“Junto com o Ministério do Trabalho, estamos fazendo uma grande campanha de sensibilização dos empresários. Não indo só na questão de aplicar multa, mas também de conscientizar e de capacitar o empresariado. É mais fácil nós adaptarmos as empresas às pessoas, do que as pessoas às empresas”, destacou o secretário. A empresa que desrespeitar a Lei de Cotas e negar oportunidade de trabalho às pessoas com deficiência poderá pagar multa de R$ 1.617,12 a R$161.710,08.

De acordo com a Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Estado de São Paulo, as 306 mil carteiras de Trabalho assinadas de pessoas com deficiência representam apenas 0,7% do total de empregos formais do país, onde há 46 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, das quais 29 milhões em idade economicamente ativa.

Segundo o órgão, se todas as empresas do país cumprissem a Lei de Cotas, mais de 900 mil pessoas com deficiência teriam que estar empregadas. “Hoje nós já temos avançado. O governo federal está colocando 150 mil vagas no Pronatec [Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego] a fim de qualificar as pessoas com deficiência para justamente acessar às vagas que a Lei de Cotas tem trazido”, disse Ferreira.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)


Confira carta de Esclarecimento à Sociedade sobre o TDAH, seu diagnóstico e tratamento

Brasília, 13 de Julho de 2012

Carta de Esclarecimento à Sociedade sobre o TDAH, seu diagnóstico e tratamento.

Recentemente, uma série de matérias sobre o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) tem sido veiculada pela mídia jornalística não especializada. Em boa parte dessas matérias, profissionais apresentados como especialistas em saúde e educação (embora seus currículos informem não terem publicações científicas sobre o assunto) transmitem opiniões pessoais como se fossem informações científicas.

Pior, suas opiniões não refletem os conhecimentos atuais sobre o transtorno, que é reconhecido pela Organização Mundial da Saúde e sobre o qual constam centenas de publicações em bancos de dados (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/) descrevendo claramente as graves consequências nas esferas acadêmica, familiar, social e profissional. Tais opiniões equivocadas são nocivas para pacientes, familiares e para a população como um todo.

A afirmação de que o TDAH “não existe”, de que os medicamentos aprovados pela ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária para o tratamento desse transtorno são “perigosos” e tornam as crianças “obedientes” é, na melhor das hipóteses, expressão pública de ignorância em relação ao tema, investigado cientificamente de modo extenso por pesquisadores de todo o mundo, muitos deles brasileiros. Na pior das hipóteses, configura crime porque veicula informações erradas sobre tema de saúde pública. Incontáveis Associações Médicas ao redor do mundo já se posicionaram não deixando dúvidas sobre a validade do TDAH (vide posicionamento da Associação Médica Americana em Referências no final do texto).

Tais matérias induzem os leitores à falsa conclusão que há dúvidas não apenas quanto à existência do TDAH, como sobre os benefícios do tratamento medicamentoso. Obviamente, tais textos jamais citam qualquer artigo científico, nenhum dado de pesquisa, demonstrando os tais efeitos “perigosos” ou graves. E, numa prova incontestável da natureza parcial e enganosa, em desrespeito aos princípios básicos do jornalismo, deixam de citar centenas de artigos científicos que documentam fartamente os benefícios, a eficácia e a segurança dos medicamentos usados no tratamento do TDAH. Recentemente, um grande estudo publicado no mais importante jornal Inglês de Psiquiatria documentou que o metilfenidato é a medicação mais eficaz em Psiquiatria e uma das mais eficazes em toda a Medicina (vide em Referências no final do texto).

Os sintomas que caracterizam o TDAH não são comportamentos infantis comuns, meras variações da normalidade, que médicos, pais e professores querem “controlar”. Seria o mesmo que dizer que diabete é um mero aumento de açúcar no sangue, uma simples variação do normal observado na população. Noventa e cinco por cento das crianças e adolescentes não tem a intensidade e gravidade de sintomas que os portadores de TDAH, do mesmo modo que 90% dos adultos não têm níveis elevados de açúcar. Diagnósticos são frequentemente estabelecidos pela intensidade e gravidade. A lista é grande: hipertensão arterial, glaucoma, osteoporose, hipertireoidismo, etc. Todos eles, à semelhança do que ocorre no TDAH, cursam com graves consequências para o indivíduo. Proposições do tipo “quem não esquece alguma coisa de vez em quando?” ou “quem não responde impulsivamente de vez em quando?” são, além de superficiais, irrelevantes: todos os sintomas do TDAH ocorrem em frequência e intensidade não observada em indivíduos normais. O diagnóstico do TDAH é realizado através de entrevista clínica e há extensa literatura científica sobre a fidedignidade deste procedimento. A sugestão de que a ausência de exames complementares tornaria o diagnóstico “frágil” novamente reflete inacreditável desconhecimento de saúde mental: também não há exames para os diagnósticos de Depressão, Autismo, Transtorno do Pânico, Esquizofrenia, Transtorno Obsessivo-Compulsivo, Transtorno Bipolar, etc.

A comunidade científica Brasileira, aqui representada por mais de 20 associações e grupos de pesquisa, reitera que o TDAH pode ser diagnosticado de modo fidedigno e seu tratamento, se bem conduzido, tem grandes chances de diminuir os prejuízos que esses indivíduos apresentam ao longo da vida. Embora tratamentos não farmacológicos possam auxiliar bastante no manejo terapêutico do TDAH, todos os artigos científicos disponíveis indicam que o tratamento farmacológico é a primeira escolha para a maioria dos portadores.

Fornecer informações equivocadas e ocultar dados científicos bem documentados é dificultar ou retardar o acesso da população ao diagnóstico ou a tratamento, é a expressão de uma das mais perversas formas de discriminação social: a Psicofobia.

Referências

1. Diagnosis and Treatment of Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder in Children and Adolescents. Larry S. Goldman, MD; Myron Genel, MD; Rebecca J. Bezman, MD; Priscilla J. Slanetz, MD, MPH; for the Council on Scientific Affairs, American Medical Association - JAMA. 1998;279(14):1100-1107

2. Putting the efficacy and general medicine medication into perspective: review of meta- analysis. Stefan Leucht, Sandra Hierl, Werner Kissling, Markus Dold and John M. Davis. British Journal of Psychiatry, 2012, 200:97-106

Entidades signatárias

1 - Associação Brasileira de Psiquiatria

2 - Associação Brasileira do Déficit de Atenção

3 – Sociedade Brasileira de Pediatria

4 – Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil

5 – Associação Brasileira de Neurologia, Psiquiatria Infantil e profissões afins

6 – Academia Brasileira de Neurologia

7 – Sociedade Brasileira de Neuropsicologia

8 – Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul

9 – Sociedade Interdisciplinar de Neurociência Aplicada à Saúde e Educação

10 – Associação Brasileira de Dislexia

11 – Ambulatório dos Estudos de Aprendizagem do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Neurologia e Pediatria)

12 – DISAPRE – Laboratório de Pesquisa em Distúrbios da Aprendizagem e da Atenção – Faculdade de Ciências Médicas - Universidade de Campinas

13 – Laboratório de Investigações Neuropsicológicas – Universidade Federal de Minas Gerais

14 – Laboratório de Neuropsicologia do Desenvolvimento – Universidade Federal de Minas Gerais

15 - Unidade de Psiquiatria da Infância e Adolescência (UPIA) da Universidade Federal do Estado de São Paulo (UNIFESP-EPM)

16 – Centro de Referência para Criança com TDAH Instituto de Pediatria e Puericultura Martagão Gesteira – Universidade Federal do Rio de Janeiro

17 – Ambulatório de Neuropsicologia Pediátrica do Serviço de Neurologia do Complexo Hospitalar Professor Edgar Santos da Universidade Federal da Bahia

18 – Ambulatório de Distúrbio de Aprendizagem da Santa Casa da Misericórdia de São Paulo

19 – GEDA - Grupo de Estudos e Pesquisa do Déficit de Atenção da Universidade Federal do Rio de Janeiro

20 – NANI – Núcleo de Atendimento Neuropsicólogo Infantil – Universidade Federal do Estado de São Paulo

21 - Comunidade Aprender Criança – Instituto Glia

22 – Núcleo de Investigações da Impulsividade e da Atenção da Universidade Federal de Minas Gerais

23 – Centro de Orientação Escolar - Hospital da Criança Santo Antonio da Santa Casa de Porto Alegre

24 – Laboratório de Clínica Cognitiva do Instituto de Psicologia da Universidade Federal da Bahia

25 - Programa de Déficit de Atenção/ Hiperatividade do Hospital de Clinicas de Porto Alegre da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

26 – Serviço de Psiquiatria Infantil da Santa Casa do Rio de Janeiro

27 - Grupo de Pesquisa em Neurodesenvolvimento, escolaridade e aprendizagem – CNPq

28 - Ambulatório de Déficit de Atenção (AMBDA) da Universidade Federal de Minas Gerais

29 – Instituto ABCD

(Fonte: ABDA - Associação Brasileira do Déficit de Atenção)

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Braille, por um ensino-aprendizado mais consistente e coerente


Na condição de professor do ensino regular, de familiar ou amigo de pessoa com deficiência visual, aprender o Braille se torna essencial para ampliar as possibilidades de interação comunicacional, tornando-os mais independentes no contato com a leitura, registros e expressão por meio da escrita.

O aprendizado do Braille surge, então, como um recurso facilitador que contribui efetivamente para a eliminação da barreira na comunicação escrita e lida por pessoas cegas. Muito embora seja indiscutível os benefícios trazidos pelo aprendizado desse método tátil, atualmente a crescente demanda por recursos tecnológicos e o uso de computadores equipados com leitores de tela e sintetizadores de voz, fez com que o Método Braille fosse visto como menos relevante, principalmente com o argumento de ser um sistema complexo e pouco difundido entre a sociedade em geral. Isso também deve a um ensino sem direcionamento adequado.

O fato é, que se existe um desconhecimento sobre o sistema Braille , deve-se investir esforços para que este código seja mais divulgado e passe a integrar o repertório de conhecimento de todas as pessoas. Na escola, por exemplo, o professor beneficiará o aluno cego ao propor atividades adaptadas em relevo, criando ambientes de aprendizagem que fomentem a equidade em relação aos resultados educativos de todos os alunos, com práticas que facilitem o acesso ao currículo comum. Em casa, o familiar ou amigo que convive com a pessoa cega será provocado a compartilhar das suas experiências e compreender suas produções, oferecendo-lhes oportunidade de contribuir, interagir e fazer as trocas necessárias. É através do incentivo familiar que a pessoa com deficiência visual se sentirá mais segura, pois este constitui o primeiro núcleo social de convívio, interações e aprendizados, seja no aspecto cognitivo, emocional e afetivo. No contexto social temos que o domínio do Braille será útil, por exemplo, no setor comercial de produtos ou serviços, nas relações estabelecidas com as pessoas e na quebra das barreiras que impedem uma plena comunicação e, destas, posso citar cardápios, rótulos, contratos, informativos, folders, placas, entre outros dispositivos que viabilizam o acesso e a permanência da pessoa nos espaços, consumindo informação e interagindo com as pessoas.

O Sistema Braille foi criado pelo francês Louis Braille, jovem cego que dedicou seus esforços pelo bem da humanidade. Nascido em 1809 nas proximidades de Paris, perdeu a visão ainda criança em decorrência de um acidente enquanto brincava na oficina de seu pai. Foi aluno do Instituto Real para Jovens Cegos, primeira escola para cegos no mundo, fundada no ano de 1784, na cidade de Paris, por Valentin Haüy. Louis Braille morreu, aos 43 anos sem que seu sistema fosse reconhecido oficialmente. A expansão e adoção do sistema Braille pelo mundo aconteceu de forma lenta e desordenada. Foi trazido para o Brasil pelo jovem José álvares de Azevedo em 1854, que aqui chegando incentivou a criação do Imperial Instituto dos Meninos Cegos, hoje Instituto Benjamin constant, localizado na cidade do Rio de Janeiro.

Como braillista e defensora da democratização do código Braille deixo o alerta de que o aprendizado do Braille precisa seguir a orientação de um profissional habilitado, já que demanda um conhecimento específico sobre as técnicas para uso e aplicação deste sistema em diversas situações. São diferentes os procedimentos, técnicas e etapas empregadas para ensinar uma criança cega ou um adulto que perdeu a visão. ainda temos que considerar as peculiaridades das construções simbólicas e conceituais por meios visuais ou táteis e como ocorre esse aprendizado. A leitura tátil, requer das pessoas cegas muito treinamento motor, perceptivo e sensorial. Uma boa percepção tátil é fundamental para identificação das diferentes disposições dos pontos Braille que representam as letras ou símbolos matemáticos, químicos, musicais e outros, existentes na escrita em tinta. As pessoas que enxergam quando aprendem o sistema Braille, muitas vezes, recorrem a desenhos do símbolo para memorizarem o formato de cada letra. Embora façam uso da visão para ler essas figuras coloridas, recheadas de efeitos visuais, esta não constitui a melhor estratégia trabalhada para a assimilação do código. A leitura de imagens serve como um apoio inicial, mas não como único recurso empregado. Assim como nem todo cego usuário de Braille domina as técnicas para o ensino do código, nem todo vidente possui condições para ensiná-lo de maneira a satisfazer Às necessidades do aprendiz. O aprendizado mecânico e sem instruções só reforça a superficialidade do emprego deste sistema em detrimento da qualidade.

Desse modo uma instrução má orientada quanto ao ensino do Braille estaria na contramão das tentativas para a sua democratização, pois supre uma necessidade imediata de aprendizado. Futuramente corremos o risco de que esse aprendizado não seja consolidado e caia no esquecimento ou, ainda, conserve vícios e erros, gerando prejuízos para o processo de inclusão. O fracasso proveniente de um ensino mau direcionado e sem critérios servirá sempre de justificativa para que as pessoas cegas ou com visão fiquem cada vez mais resistentes ao uso e aplicação do Braille no dia-a-dia como fator de inclusão social e acessibilidade. A demanda é crescente e aprender o Braille é uma ação urgente e necessária nos dias de hoje e não podemos deixar que essa conquista seja atropelada por imagens meramente ilustrativas. E nesse caso o aprendiz também é responsável por suas escolhas...

Luciane Maria Molina Barbosa


sexta-feira, 13 de julho de 2012

Quem e quantas são as pessoas com deficiência no Brasil?

A matéria abaixo foi extraída do site Inclusive.


Por Vinicius Gaspar Garcia *

Responder a essa pergunta não é tarefa simples, trivial ou consensual, nem mesmo depois que o IBGE passou a incluir nos Censos Demográficos a temática da deficiência e incapacidade funcional. Isso ocorre por uma razão muito simples: variam os critérios para definição de quem são pessoas com deficiência no Censo e, por exemplo, para fazer jus as vagas reservadas no mercado de trabalho via “Lei de Cotas”.

Em poucas palavras temos, de um lado, critérios técnicos, clínicos e objetivos para definir o direito ou não de usufruir uma série de direitos; de outro, uma auto-declaração subjetiva sobre graus variados de dificuldades para determinadas ações.

De maneira geral, quando pensamos em pessoas com deficiência de imediato remetemos aos cadeirantes, cegos, pessoas com deficiência auditiva e/ou deficiência intelectual/cognitiva. Tal contingente de pessoas representa exatamente o mesmo universo apurado pelo IBGE no Censo Demográfico? Não, é preciso ter cautela e usar os dados com discernimento.

De maneira correta, pois o recenseador não poderia inquirir tecnicamente as pessoas sobre sua deficiência ou exigir laudo médico para sua comprovação, o IBGE solicita uma avaliação funcional sobre o grau de dificuldade das pessoas para andar/subir escadas, ouvir e enxergar, além de uma pergunta direta sobre a deficiência mental/intelectual. O entrevistado, assim como faz para outras variáveis como renda ou trabalho, responde se tem total, grande ou alguma dificuldade permanente para realizar tais ações (ou se não tem nenhuma dificuldade).

Houve uma pequena mudança, mas é possível compatibilizar os dados do Censo de 2000 e 2010 e apresentar a seguinte tabela:



No meu entendimento, tentando fazer um exercício para aproximar os dados do Censo daquele conjunto de pessoas com deficiência, digamos, “tradicionais”, é mais correto incluir nessa categoria apenas aqueles que declararam “total” ou “grande” incapacidade para andar, ouvir ou enxergar, além dos que disseram “sim” sobre a deficiência mental/intelectual. Dessa forma, excluímos desse grupo aqueles que disseram ter apenas “alguma dificuldade”, chamando-os de pessoas com “limitação funcional leve”.

Procedendo dessa forma, o número de pessoas com deficiência no Brasil teria variado de 7,0 milhões em 2000 para 12,7 milhões em 2010, representando 6,7% da população. Já o contingente de pessoas com limitação funcional foi de 17,2 milhões em 2000 para 32,8 milhões em 2010 (17,2% da população).

Importante: reparem que o governo, entidades, movimento social e mesmo pesquisadores, na grande maioria das vezes, _não _fazem esta distinção. Consideram-se “pessoas com deficiência” _todos_ que declararam qualquer nível de incapacidade: 24 milhões em 2000 (14,3% da população) para 45,6 milhões em 2010 (24,0% do total de brasileiros). Assim, ao lançar o programa Viver sem Limites, o Governo Federal fala em atender aos 45 milhões de brasileiros com deficiência; ao mesmo tempo que entidades e ONGs chamam atenção e alertam para o fato de que a deficiência atinge ¼ da população brasileira em 2010.

Me parece uma certa imprecisão, uma tentativa de “forçar o argumento”, tanto de um lado como de outro.

Estou dizendo com isso que a questão da deficiência é menos importante? Claro que não. Primeiro porque, mesmo com critérios mais restritivos, estamos falando de 12,7 milhões de pessoas com deficiência no Brasil (6,7% da população). Segundo, na verdade, não importa se somos cinco, dez ou 50 milhões, quando falamos em acessibilidade ou em sociedade inclusiva, falamos de todos, sem distinção.

Por último, reconhecemos hoje a importância em quantificar e identificar a realidade sócio-econômica dos milhões de pessoas com deficiência no Brasil, especialmente para o balizamento de políticas públicas. Mas o nosso horizonte deve ser um futuro em que não seja preciso categorizar os indivíduos, classificar a deficiência ou qualquer outro atributo pessoal, uma sociedade que seja, como diz o filósofo Vladimir Saflate, “indiferente às diferenças”, pautada pelo igualitarismo e justiça social.

* Diretor de Relações Institucionais do CVI-Brasil

Fonte: http://www.deficienteciente.com.br/

 

terça-feira, 3 de julho de 2012

Censo IBGE: 46% das pessoas com deficiência recebem até 1 salário mínimo



Cerca de 45,6 milhões de brasileiros têm pelo menos uma deficiência, segundo estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgado nesta sexta-feira com base em dados colhidos em 2010. Entre as pessoas maiores de 10 anos que se declaram com deficiência e têm algum tipo de trabalho, 46,4% ganha no máximo um salário mínimo. Já entre a população sem qualquer deficiência, essa era a realidade de 37,1%, o que indica uma diferença de mais de 9 pontos percentuais entre os dois grupos.

Segundo a coordenadora do Comitê do Censo Demográfico do IBGE, Andréa Borges, o levantamento aponta que para corrigir essas distorções são necessárias políticas públicas mais fortes que incentivem essa parcela da população a aumentar seu grau de instrução, o que interfere diretamente nos níveis de rendimento.

“Os dados revelam que a maioria das pessoas que têm deficiência está concentrada em níveis de instrução e de rendimento muito baixos. Já existem políticas públicas nesse sentido, mas elas podem ser melhoradas para que haja maior incentivo para que essa parcela de brasileiros não pare de estudar ao concluir o ensino fundamental, mas que vá adiante. Enquanto 10,4% dos que não têm deficiência tem (ensino) superior completo, apenas 6,7% das pessoas com deficiência estão nesse patamar”, ressaltou.

A situação é mais complicada para quem possui deficiência intelectual ou motora. De acordo com o levantamento, o maior percentual (cerca de 28%) tem renda entre meio e um salário mínimo. Além disso, o percentual de pessoas economicamente ativas com 10 ou mais anos é menor para pessoas com deficiência intelectual: 22% para homens e 16% para mulheres.

Entre as pessoas com deficiência visual, 63,7% dos homens 43,9% das mulheres têm vida economicamente ativa. A mesma diferença foi verificada pelo IBGE no nível de ocupação, que ficou em 17,4% para pessoas com deficiência intelectual e 48,4% para pessoas com deficiência visual. As pessoas com deficiência visual ou auditiva também ganham mais, concentrando-se na faixa de ganhos de um a dois salários mínimos, 29% e 28,4%, respectivamente.

O levantamento aponta ainda que, em 2010, a população ocupada com pelo uma das deficiências investigadas representava 23,6% (20,3 milhões) do total ocupado (86,3 milhões) no País. Além disso, mais da metade (53,8%) dos 44 milhões de pessoas com deficiência em idade ativa (10 anos ou mais) estava desocupada ou não era economicamente ativa.

Em relação ao total da população desocupada ou não economicamente ativa, que somava 75,6 milhões em 2010, as pessoas com deficiência representavam 31,3%. O documento constatou também que a maioria das pessoas com deficiência ocupadas era empregada com carteira assinada (40,2%), uma diferença de 9 pontos percentuais em relação à população sem nenhuma das deficiências investigadas (49,2%).

Fonte: Portal Terra

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Trabalhadores com deficiência representam 23,6% do total de ocupados no Brasil, diz IBGE

De todos os 86,4 milhões de brasileiros ocupados, 20,4 milhões apresentam alguma deficiência

Por Débora Melo

Dados do Censo 2010 apontam que 23,6% da população ocupada tinha ao menos alguma deficiência (visual, auditiva, motora, intelectual). Os números foram divulgados nesta sexta-feira (29) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Para Jefferson Mariano, analista socioeconômico do IBGE, “o número é alto”. “A legislação passou a estabelecer a obrigatoriedade de que as grandes empresas incorporassem a população deficiente no mercado de trabalho, no seu quadro de funcionários”, diz. “Temos um número alto por conta dessas políticas”, completa.

O levantamento constatou ainda que a maioria dos ocupados que relataram ao menos uma deficiência tinha carteira de trabalho assinada (40,2%) –o percentual, no entanto, ainda é menor que o dos ocupados que não têm deficiência alguma (49,2%). No caso de pessoas que empregam, observou-se que o percentual na população ocupada com pelo menos uma das deficiências investigadas (1,8%) foi também menor do que o referente às pessoas sem qualquer dessas deficiências (2,1%).

Em relação aos rendimentos recebidos, o Censo 2010 constatou que 46,4% dos ocupados com ao menos um tipo de deficiência recebiam até um salário mínimo (R$ 510, na época). No universo das pessoas sem qualquer deficiência, esse percentual era de 37,1%.

A condição da deficiência como fator limitante na inserção da pessoa no mercado de trabalho atinge tanto a população masculina quanto a feminina, segundo o IBGE. Nesse aspecto, a deficiência intelectual foi a que mais limitou a inserção no mercado de trabalho: apenas 14,2% das mulheres e 20,2% dos homens nessas condições estavam ocupados.

No caso da deficiência visual, que foi a que mais incidiu sobre a população, 60,6% dos homens e 39,8% das mulheres com algum tipo de dificuldade para enxergar estavam ocupados.

Embora entre as pessoas com deficiência a taxa de ocupação seja mais alta entre os homens, na comparação feita com aqueles que não apresentam qualquer deficiência nota-se que a questão prejudica mais os trabalhadores do sexo masculino. A taxa de atividade de homens de 35 a 39 anos é de 91%, mas cai para 81% no caso de homens com alguma deficiência. Já no caso das mulheres essa diferença é menos gritante: 72% das mulheres de 35 a 39 anos estavam ocupadas, número que cai para 66% no caso de mulheres com alguma deficiência (diferença de seis contra dez pontos percentuais)

Portal UOL