Ally e Ryan

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sexta-feira, 22 de agosto de 2014

A educação inclusiva avança no Brasil: cursos, livros e palestras oferecem apoios na formação de professores


Dados recentes da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), mostram que no mundo, as pessoas com deficiência estão entre os grupos de maior risco de exclusão escolar. Segundo o último Censo Populacional (IBGE, 2010), o Brasil têm 45,6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, o que representa 23,9% da população. A maioria das crianças e adolescentes com deficiência já estuda em escolas regulares. Em 2013, 77% (648 mil) das matrículas de alunos com deficiência estavam em classes comuns.

É um número expressivo, mas que ainda gera muitas expectativas e desafios quando o assunto é Educação Inclusiva. “Sou bastante otimista com relação à ela. Fico muito bravo quando alguém diz que nada mudou com relação às pessoas com deficiência. Mudou sim, e para melhor”, diz professor e psicólogo educacional Emílio Figueira (44). “A Educação Inclusiva é uma delas. Claro, muita coisa precisa ser melhorada, aperfeiçoada. Temos relatos de casos que deram errados. Mas também temos muitos relatos de sucesso. Tudo é uma questão de processo. E processos precisam respeitar etapas. Assim como as questões que envolvem pessoas com deficiência são culturais, precisam de tempo para mudanças de mentalidades!”, conclui o educador.

Considerado uma referência em Educação Inclusiva no país, Figueira é autor de livros como “O que é Educação Inclusiva”, “Conversando sobre educação inclusiva com a família”, “A deficiência dialogando com a arte”, “Psicologia e pessoas com deficiência”, “Caminhando em silêncio: uma introdução à trajetória das pessoas com deficiência na história do Brasil”, dentre outros.

Para Figueira, sendo “um processo em que se amplia a participação de todos os estudantes nos estabelecimentos de ensino regular, a Educação Inclusiva é uma reestruturação da cultura, da prática e das políticas vivenciadas nas escolas de modo que estas respondam à diversidade de alunos. É uma abordagem humanística, democrática, que percebe o sujeito e suas singularidades, tendo como objetivos o crescimento, a satisfação pessoal e a inserção social de todos”.

Sua história é um misto de experiências próprias e atividades profissionais em prol de pessoas com deficiência. Figueira nasceu com uma deficiência motora, paralisia cerebral, que compromete a fala e movimentos. Muito cedo nos anos 70 foi para a AACD numa época onde a reabilitação ainda estava no início no Brasil. E isto fez toda a diferença em sua vida. Foram nove anos de muitas terapias e estímulos que renderam a sua autonomia. Graças ao tratamento e motivação que recebeu na AACD, mesmo tendo muitas coisas contra como uma sociedade ainda segregadora, optou por estudar. Foi jornalista em vários meios de comunicação nos anos 80 e 90. Formou-se em psicologia e em teologia, fazendo em seguida cinco pós-graduações e um doutorado em psicanálise. Hoje está concluindo doutorado em teologia, exerce várias atividades, tem 49 livros e 88 artigos científicos publicados no Brasil e exterior, textos montados no teatro.

Em uma entrevista exclusiva, o professor observou: “A Educação Inclusiva atenta a diversidade inerente à espécie humana, busca perceber e atender as necessidades educativas especiais de todos os sujeitos-alunos, em salas de aulas comuns, em um sistema regular de ensino, de forma a promover a aprendizagem e o desenvolvimento pessoal de todos. Uma prática pedagógica coletiva, multifacetada, dinâmica e flexível requer mudanças significativas na estrutura e no funcionamento das escolas, na formação humana dos professores e nas relações família-escola, resultando em uma força transformadora, apontando para uma sociedade inclusiva”.

Curso e Palestras

Especializado e apaixonado pela modalidade da educação a distancia, Emilio Figueira está comemorando cinco anos ministrando cursos online de Educação Inclusiva. Nesse período teve como alunos em fase de graduação ou especialização, mestrandos, doutorandos, professores, diretores, pedagogos, psicólogos, psicopedagogos e pessoas em geral. O educador aborda em suas aulas as bases históricas, as legislações e conceitos básicos da Educação Inclusiva, as características de cada tipo de aluno com necessidades educacionais especiais e as dicas pedagógicas para cada um, elaborar as estratégias pedagogias e executá-las na elaboração e andamento de uma sala de aula inclusiva e serem agentes multiplicador do conceito e filosofia da Educação Inclusiva. Seu principal curso é de 180 horas e totalmente online pela UNICEAD, com certificado de aperfeiçoamento profissional aceito por várias escolas, concursos públicos e prefeituras como pontos e/ou plano de carreira de funcionários e educadores.

Superando suas próprias limitações, nos últimos quatro anos, Figueira tem viajado sempre sozinho por vários Estados brasileiros, cidades, ministrando palestras sobre “As pessoas com deficiência na era da inclusão escolar e social” em escolas, universidades, clubes, entidades, instituições, ao mais variado público. São mais de 38 palestras ministradas onde de maneira multimídia o autor fala um pouco da história das pessoas com deficiência no Brasil, os três momentos pedagógicos voltados aos educandos com necessidades educacionais especiais, a ansiedade no processo de Educação Inclusiva, o desenvolvimento global do aluno e os efeitos positivos das deficiências e pontos para uma boa Educação Inclusiva.

Na palestra “Pessoas com Deficiência e Suas Interações no Mercado de Trabalho”, com uma abordagem um pouco diferente do convencional, Emílio Figueira destaca que uma inclusão no mercado de trabalho dependerá também de uma boa convivência no ambiente profissional. Se o empregador e funcionários com ou sem deficiência se atentar para esse detalhe, mais que as metas produtivas, as interações sociais serão experiências enriquecedoras para todos os envolvidos no ambiente. Surgirão as aprendizagens mútuas entre todos os envolvidos no processo.

MAIS INFORMAÇÕES:

Professor Emilio Figueira – www.emiliofigueira.com.br

Experiência com estudante estimula escola a incluir mais pessoas com deficiência em cursos técnicos


A estudante Fabrícia de Souza Lopes (18) em reunião com representantes da SDH/PR e direção do SENAI

A estudante Fabrícia de Souza Lopes (18) há um ano e seis meses realiza um novo sonho: ser a primeira pessoa da família a concluir um curso de qualificação profissional. A aluna, com deficiência física, é uma das primeiras pessoas com essa característica a ingressar em curso da unidade educacional do Serviço Nacional da Indústria (SENAI) em Araripina, município localizado na região do Sertão do Araripe, em Pernambuco. Fabrícia se prepara para se tornar técnica em segurança do trabalho e já planeja ingressar no ensino superior.

Mesmo morando na zona rural de Araripina, a dificuldade de locomoção nunca foi impedimento para Fabrícia que sempre buscou qualificação profissional. Navegando de site em site, viu um anúncio de cursos gratuitos oferecidos pelo Senai no âmbito do programa nacional de qualificação técnica e tecnológica.

“Meus pais sempre precisaram trabalhar na roça e não conseguiram estudar, mas eu sentia vontade. Quando vi o anúncio de matrícula dos cursos profissionalizantes e soube que, ao me matricular, teria direito a transporte para ir estudar, pensei que seria a oportunidade perfeita”, explica a estudante.

Por ser aluna vinculada ao programa nacional, Fabrícia recebe R$ 2 por hora aula, como auxílio para transporte e alimentação. Por estar em um curso de 160 horas, e já que utiliza o transporte municipal gratuito para moradores de áreas rurais, o recurso foi usado para melhorar a qualidade de vida da família.

“Minha família percebeu que eu podia melhorar de vida mais rápido com os estudos. Hoje eu falo em fazer faculdade, também na área de segurança do trabalho e ninguém mais me critica. Tudo o que penso atualmente é em continuar nessa carreira”, explica a estudante.

Inclusão


O empenho da estudante foi determinante para incentivar os profissionais da unidade educacional do Senai – Araripina a realizar busca ativa de pessoas com deficiência aptas a ingressar em cursos profissionalizantes oferecidos na região.

A ação será realizada em parceria com a Secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR), por meio do Programa Nacional de Atenção à Pessoa com Deficiência, que articulou uma rede de mobilização na cidade com a participação de associações comunitárias, secretarias e escolas municipais.

Atualmente, o Senai de Araripina possui 14 alunos com deficiência num universo com cerca de dois mil estudantes. Em janeiro desse ano, era oito alunos em cursos profissionalizantes oferecidos de acordo com a vocação econômica do municípios, responsável por 95% da produção industrial de gesso no país.

“Para o Senai é uma situação muito desconfortável, principalmente, porque os exemplos que temos refletem o quanto a formação contribuem para o desenvolvimento pessoal dos alunos com deficiência. Se chegam tímidos e cheios de medo, aos poucos se tornam alegres e cheios de planos”, explica Fernando Olegário, psicopedagogo da unidade do Senai Araripina.

Podem entrar em cursos tecnológicos todas as pessoas que tenham concluído os Ensinos Fundamental e Médio. De acordo com dados do Censo Escolar, existem 60 pessoas com deficiência com Ensino Médio completo na cidade e outras 302 com Ensino Fundamental. A redução deste déficit é o principal objetivo da parceria, que teve como articulador o consultor da SDH/PR que atua na região, Roberto Paulo do Vale Tiné.
As entidades e instituições farão a identificação e abordagem de pessoas com deficiência com Ensinos Médio e Fundamental completos, para incentivar a inclusão nos cursos. O Senai de Araripina será responsável por realizar as matrículas.

Quem trabalha não perde benefício


De acordo com Ana Lúcia Rodrigues Lima, gestora da Secretaria de Assistência Social do município, a principal dificuldade enfrentada para mudar o índice de ocupação das vagas é a resistência das pessoas com deficiência que já possuem benefícios assistenciais.

“O problema é a desinformação, mas também o medo de perder a renda. Medo de ir para o mercado de trabalho e não dar certo, perder o emprego e sem o benefício. Temos trabalhado para explicar que isso não ocorre, mas nem sempre acreditam em nós”, explica Ana Lúcia.

A pessoa com deficiência que entra para o mercado de trabalho tem benefício suspenso, mas nunca cancelado, podendo ser reativado no momento em que ficar sem emprego novamente.

A representante da Associação Comunitária da Bela Vista, Irene Gomes Leite, essa desinformação somente ser combatida com a participação de pessoas com deficiência e troca de experiência entre esse público. Deficiente física e com outros familiares também deficientes, ela acredita que entidades representativas devam atuar como multiplicadoras dessas políticas.

“Nosso papel é levar exemplos até esse público, para que percebam que a realidade é outra e não aquela que eles temem. Muitas vezes, o benefício é a única renda da família e é preciso também tratar desse problema considerando essa característica, do deficiente como provedor de renda doméstica”, explica Irene.

Fonte: http://www.inclusive.org.br