Ally e Ryan

Ally e Ryan

domingo, 14 de setembro de 2014

Explicando inclusão


A inclusão é para todos

O termo inclusão não abarca apenas pessoas que poderiam ser excluídas da Educação devido a dificuldades de aprendizagem. Ele abrange todas as crianças e todos os jovens, com saúde e desenvolvimento típicos ou não, de todas as etnias e as classes sociais, pois expressa o direito à educação de maneira ampla: qualquer dificuldade de aprendizado que se tenha, seja ela decorrente de qualquer condição, deve ser acolhida e solucionada pela escola. No caso dos alunos com deficiência, a inclusão parece ser mais evidente, mas isso não significa que os colegas considerados típicos não se beneficiem dela. "Estudos comprovam que alunos que estudam com coleguinhas com deficiência também aprendem mais", observa a psicopedagoga Sheila Pinheiro. Por que isso acontece? Porque, uma vez que a escola se engaja na busca por soluções de aprendizado, todos saem ganhando.

Chega de desculpas

"Não aprendi isso na faculdade" e "Não estamos preparados para recebê-lo" são algumas das justificativas ouvidas pelos pais quando um professor ou uma escola torce o nariz diante da obrigação de receber um aluno com deficiência. Mas o fato é que 1) Sim, a inclusão é uma obrigação e 2) Essas desculpas desqualificam a própria noção de educação, já que ensinar é muito mais do que transmitir um determinado conteúdo a uma criança típica - ensinar é saber ensinar a todos, e achar soluções para que isso aconteça. "Caso não se sinta preparada, a escola pode entrar em contato com a secretaria de educação de sua cidade e pedir orientação e verba", lembra a psicopedagoga Sheila Pinheiro. Mary Lopes reforça: "O pedagogo deve ter a capacidade de ensinar, seja lá para quem for".

Todos vão à escola?

Por lei, a criança brasileira em idade escolar deve estar matriculada. Em raros casos de doenças graves, quando um fator físico a impede de ir à escola (e isso seja comprovado por meio da declaração de um médico), é possível que a secretaria de educação local encaminhe um professor à casa dela. Mas é preciso pensar que esse tipo de situação é exceção, pois a regra é que todos frequentem a sala de aula. No caso de crianças com deficiência, o que pode ser feito é também encaminhá-las, no contraturno (quando não estão na escola), a um serviço de auxílio especial - este pode ser realizado na sala de recursos presente na própria escola ou em outra instituição especializada no atendimento à sua condição - como forma de complementar a sua educação.

Inclusão real

Aceitar alunos com dificuldades de aprendizado é uma coisa; garantir a eles o real acesso ao conteúdo é outra. Em outras palavras, a inclusão na prática é diferente da do papel. "Dar a vaga porque existe a lei não é suficiente", ressalta a psicopedagoga Sheila Pinheiro, lembrando que, a partir do momento em que a escola recebe uma criança com deficiência, todos, do porteiro ao diretor, têm de participar do processo de inclusão. "A diferença deve ser aceita com naturalidade, afinal, todos somos singulares", argumenta Mary Lopes, lembrando que, em casa, toda criança é reflexo dos valores familiares. Assim, é importante que todos os pais, tenham eles filhos considerados típicos ou não, abram-se à inclusão e transmitam o princípio da igualdade no dia a dia.

Adaptações curriculares

Elas são essenciais para que a escola seja de fato inclusiva. Não adianta querer ensinar o mesmo conteúdo para todos os alunos, muito menos se utilizando do mesmo método. "É preciso ensinar o que a criança pode aprender dentro das possibilidades dela", lembra Carmen Lydia da S. Trunci de Marco, diretora do Colégio Pauliceia. A psicopedagoga Sheila Pinheiro concorda e orienta: "A primeira pergunta é: ‘o que a criança sabe?’ Partindo dessa resposta, vem ‘aonde quero que ela chegue?’". Com uma meta clara, mirando as habilidades a serem conquistadas, professores e coordenadores têm de pensar em soluções concretas para que currículo seja transmitido de maneira funcional, com vistas no que realmente é preciso saber para se viver bem em sociedade. Ou seja: mais prática e menos teorização abstrata.

Pais: confiança no valor da escola

É natural que os pais de crianças com deficiência se sintam inseguros diante da inclusão na escola regular. Entre as questões que cruzam suas mentes, em geral estão a possibilidade de seu filho não receber tratamento adequado (ou, pior, ser maltratado por colegas) e a real chance de ele aprender. A boa notícia é que, em geral, a criança com deficiência é bem acolhida por seus coleguinhas. Em relação ao aprendizado, como acontece com qualquer outra criança, é preciso acompanhar dia a dia a sua evolução, participando ativamente da vida escolar de seu filho. "A escola é o melhor para a criança, sempre. O ser humano aprende com os seus pares - na convivência, o cérebro é estimulado.


sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Inclusão para um mundo melhor


Entenda como ela é praticada na educação e por que a escola inclusiva é direito de todos


Educar para Crescer
 
A escola inclusiva é uma vantagem para todos!
 

 

A Constituição Brasileira, de 1988, prevê o direito universal à Educação em seu artigo 208. O Estatuto da Criança e do Adolescente, de 1990, garante o mesmo. Em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases (Lei 9394/96) definiu regras a respeito da inclusão escolar, que foram reforçadas pela Política Nacional de Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, publicada em 2007. Todos esses passos foram dados em direção a uma educação a que todos tenham acesso, independentemente de dificuldades físicas e intelectuais - e de qualquer outra natureza.

"Não há como dissociar a inclusão educacional da social", afirma a psicopedagoga Mary Lopes Frizanco, de São Bernardo do Campo (SP), lembrando que a exclusão escolar no Brasil também atinge os pobres e outros grupos vítimas de preconceito. "As escolas tiveram o prazo de 10 anos, dado pelo MEC, para se adaptar à realidade da inclusão. Esse período acabou em 2010, mas ainda estamos caminhando nesse sentido", pondera a especialista em educação especial, que publicou, entre outros livros, Esclarecendo as Deficiências (Editora Ciranda Cultural). 

Nesse entretempo, houve, na prática, uma grande diminuição de instituições de ensino especializadas em crianças com deficiência e a consequente maior abertura das escolas regulares para esses alunos. Agora, falta consolidar essa realidade. "Buscamos um modelo educacional que contemple todos. O encanto e o alimento da educação é a diversidade", declara Carmen Lydia da S. Trunci de Marco, psicóloga, pedagoga e diretora do Colégio Pauliceia, em São Paulo, que tem tradição de mais de 30 anos na prática da inclusão. 

A psicopedagoga e especialista em inclusão Sheila Pinheiro, também da capital paulista, defende que não só os possíveis "excluídos" se beneficiam da inclusão, mas todas as crianças. "Todos nós temos particularidades que devem ser compreendidas e respeitadas", ressalta. "E a criança que aprende desde cedo a lidar com as diferenças dos amiguinhos será certamente um adulto mais tolerante". 

Com a inclusão, assim, estamos construindo não apenas uma escola melhor, mas um mundo mais justo. 
 
 
  

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Pessoas com síndrome de Down fazem sucesso no mercado de trabalho


Felipe Ribeiro dá os primeiros passos como DJ. Foto: reprodução do Facebook


A entrada no mercado de trabalho não é fácil para ninguém. Dúvidas sobre que carreira seguir, por onde começar, como conseguir o primeiro emprego sem ter tido nenhuma experiência são alguns dos desafios de iniciais. Imagine então para jovens com síndrome de Down, que enfrentam um forte preconceito e a desconfiança sobre sua capacidade.

Felizmente, esse quadro vem mudando e hoje é cada vez mais comum vermos pessoas com síndrome de Down e outras deficiências se destacando no ambiente profissional. Nesse texto apresentamos algumas dessas histórias.

Quando fez 15 anos Felipe Ribeiro quis uma festa. A comemoração teve um DJ que convidou o aniversariante a conhecer seu espaço de discotecagem. A partir desse dia, ele decidiu que também queria tocar nas festas e persistiu no sonho até o ano passado quando pode finalmente fazer um curso. Com síndrome de Down, Felipe, hoje com 21 anos, descobriu sua aptidão e agora se prepara para começar a trabalhar de fato.
Já há algum tempo muito se discute sobre a inclusão e o desenvolvimento de pessoas com deficiência intelectual, mas pensar no que esses cidadãos farão após tornarem-se adultos ainda não é ponto de discussão forte na sociedade.

“Para qualquer filho o que queremos é que eles sejam felizes, amem e sejam amados e ganhem seu dinheiro, tenham uma realização pessoal. E eu queria isso para o Felipe. Por isso lutei para descobrir as aptidões dele”, conta a mãe do DJ, Maria Irene Ribeiro.

Por isso, o jovem fez curso de computação, aulas de forró e outras danças e esportes, além da escola e das atividades na Associação de Pais e Amigos Vitória Down. Mas foi na combinação de música e animação que ele encontrou seu sonho profissional.

“A música é minha vida. E quero ganhar dinheiro para casar e ter uma família”, diz Felipe, que namora uma moça, que também tem a síndrome de Down, há 11 meses. Ele ganhará seus primeiros cachês em outubro, mês em que já tem duas festas agendadas para tocar, além de uma para setembro que está em negociação.

O curso que ele fez foi ministrado pelo DJ Léo Santos e oferecido pelo Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) em parceria com o Senac.

CAPACITAÇÃO

Depois de um bom tempo batalhando até a mãe conseguir inscrevê-lo em um curso de DJ, Felipe está conseguindo realizar seu sonho e começar a trabalhar. Mas as portas dos processos de capacitação são muito complicadas para quem tem síndrome de Down, assim como outras deficiências intelectuais.

Além disso, muitas empresas não aceitam essas pessoas. Por isso a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Cariacica tem promovido um programa de orientação para vida e trabalho.
Primeiro há uma etapa de capacitação, treinando habilidades manuais e a coordenação motora. Depois é feito um trabalho para desenvolver a autonomia, o relacionamento pessoal e explicar detalhes como a documentação para esses jovens. A partir daí, a Apae tem conseguido emprego para alguns deles.
“As empresas que são nossas parceiras e contrataram pessoas com deficiência intelectual estão muito satisfeitas. Antes de eles começarem a trabalhar, vamos até o local e damos uma palestra para os funcionários sobre inclusão”, explica a terapeuta ocupacional Desirée Pesca, que trabalha com qualificação profissional há nove anos pela Apae.

Um dos jovens encaminhados é Diogo Souza, 26. Hoje ele é empregado como ajudante na Transportadora Pajuçara, em Cariacica. Antes ele já havia trabalhado em uma empresa do ramo alimentício por três anos. “Eu ajudo na limpeza, na arrumação, na organização e a retirar o lixo. Gosto de vir trabalhar, no serviço tenho vários amigos”, fala Diogo.

A encarregada administrativa da Pajuçara, Marília Aguiar, diz que ele é um dos melhores funcionários. “Ele é superorganizado e chama atenção dos outros quando sujam o que ele arrumou”, diz.

SUPERPROTEÇÃO IMPEDE INSERÇÃO NO MERCADO

Um dos maiores desafios para inserção dos portadores de síndrome de Down no mercado de trabalho é a superproteção familiar. Além da dificuldade com a aceitação das empresas, há muitas vezes o desconforto e o medo dos pais e responsáveis sobre como os jovens se comportarão e serão tratados no emprego.
Mas a desenvoltura como profissional depende muito de como é o tratamento em casa. “Essas pessoas têm um atraso no desenvolvimento, mas têm condições de trabalho. A vida adulta envolve certa capacidade de autonomia e isso terá muita relação com o contexto familiar, inicialmente”, explica a coordenadora do curso de psicologia da UVV e doutorando em psicologia, mediação materna e desenvolvimento de crianças com síndrome de Down, Luciana Bicalho Reis.

Esses jovens precisam ser estimulados para que tenham uma boa cognição e socialização. “O trabalho é importante porque é algo que caracteriza o adulto, é uma atividade que confere independência. Se não forem orientados, essas pessoas ficarão privadas disso”, ressalta Luciana.

AUTONOMIA

A questão da autonomia é a chave de todo esse processo. O cientista social e presidente da Federação das Apaes no Espírito Santo, Washington Luiz Sieleman Almeida, alerta que esses jovens precisam ser conscientizados da condição deles e de suas possibilidades e dificuldades.

“O empoderamento tem que ser feito já na família. A deficiência intelectual não é uma sentença de morte, é uma condição de vida e a pessoa tem que ser adaptar a isso. Eles precisam sim de uma atenção diferenciada para desenvolver suas tarefas, mas é necessário que se desenvolva uma autogestão”, defende.

DERRUBANDO PRECONCEITOS

Fernanda Honorato


Aos 34 anos, é a primeira repórter com síndrome de Down no país. Trabalha no “Programa Especial”, da TV Brasil, desde 2006. Exibido aos sábados, ele é voltado para inclusão de pessoas com deficiência física ou intelectual. 

Ángela Bachiller


Tornou-se vereadora na Câmara da cidade de Valladolid, Espanha, em 2013. Com síndrome de Down, Ángela, 29 anos, ocupou a vaga de outro vereador acusado de suborno e teve sua candidatura apoiada pelas associações de pessoas com deficiência.

Débora Seabra



Com 10 anos de carreira, é a primeira professora com síndrome de Down do Brasil e atua em uma instituição privada em Natal, no Rio Grande do Norte. Ela, aos 33 anos, é professora auxiliar da educação infantil.

Texto original de Carla Sá, publicado no jornal A Gazeta.