Ally e Ryan

Ally e Ryan

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

As Cidades e a Acessibilidade.

Descrição da imagem: figura em formato retangular, sendo A primeira letra I (eu em inglês), o desenho de um coração e a palavra acessibilidade.


- Verônica Camisão.
Na última década, investimentos políticos e financeiros consideráveis têm sido feitos por governantes de inúmeras cidades visando um meio urbano mais inclusivo para toda a população. No Brasil, as iniciativas atentas a este tema também têm se multiplicado, tornando-se, em alguns casos, uma preocupação na pauta das políticas públicas.
O processo de projetar-se um meio ambiente cada vez mais abrangente e menos restritivo tem-se apresentado como uma tendência mundial moderna que se propaga, como os demais processos que conferem qualidade de vida ao ser humano. Nesse sentido, seguir os princípios de um desenho universal ou inclusivo passou a significar, intrinsecamente, buscar reconhecer e respeitar a diversidade física e sensorial entre as pessoas e as modificações pelas quais passa o nosso corpo, da infância à velhice.
Inspirados pela noção do desenho universal, passou-se a pretender atender em muitas iniciativas do poder público e nos projetos urbanos das duas últimas décadas, à maior gama possível de pessoas, planejando-se espaços e dimensões apropriados para interação, alcance e uso de produtos em geral, independentemente do tamanho, postura ou mobilidade do usuário.
Não obstante os esforços de políticos, urbanistas e administradores, dentre outros, a ideia de inclusão, na maioria dos projetos de intervenção urbana, foi ainda fragmentária e as questões relativas à acessibilidade arquitetônica e urbanística, acabam por ser tratadas de modo tópico e de forma isolada. Muitos não perceberam que o cumprimento das normas técnicas de acessibilidade é apenas o primeiro passo para se buscar alcançar esse conceito bem mais amplo de desenho universal. É inclusive comum as pessoas entenderem desenho universal como uma terminologia em código para deficiência (Harper, 1998).
Acreditamos que, para alcançar-se o resultado esperado e os benefícios advindos de um meio ambiente inclusivo, será preciso antes, entender os conflitos entre os discursos e as práticas no processo de construção de um espaço urbano inclusivo, identificando os principais atores e a abrangência de sua interferência nesse processo.
Inclusão e Desenho Universal.
Em 1992, já se considerava que mais de 50% da população brasileira era composta de idosos, pessoas obesas, pessoas com estatura excessivamente alta ou baixa (crianças incluídas), pessoas com alguma deficiência e mulheres no 8º e 9º meses de gestação (Papanek, 1992). Em 2000, o censo do IBGE, mostrou que 14,5% dos brasileiros poderiam ser considerados pessoas com pelo menos alguma deficiência. (FGV, 2003). O mesmo recenseamento projetava para 2025, um crescimento demográfico de 69%, da parcela da população com idade acima de 60 anos (Neri, 2003) e, portanto, passível de algum tipo de restrição física a médio prazo. Segundo esses dados, a maioria de nós chegará à terceira idade, e por vezes vivenciando alguma limitação física ou sensorial que poderá comprometer nossa autonomia. Essas projeções parecem reforçar a ideia de que o investimento em acessibilidade se reverterá em garantia de maior independência para alguns e em algum benefício para todos.
Ora, estes números parecem indicar que o desenho do meio construído deve continuar a merecer atenção ainda maior dos urbanistas pelo seu “poder” facilitador ou inibidor de inclusão social. E não se pode negar a vocação do desenho da “boa forma da cidade” como elemento de integração e sua capacidade de propiciar, democraticamente, que os espaços urbanos sejam usufruídos sem restrições.
Embora no cotidiano não se leve em consideração, o meio ambiente pode reforçar uma deficiência ou diminuir sua importância. Sob o enfoque do desenho universal, o projeto busca conferir suporte para a inclusão e a participação plena das pessoas em todos os aspectos da vida comunitária, e nos mostra o quanto a sua concepção pode interferir socialmente.
Observa-se que, do ponto de vista econômico e social, é de interesse do Estado o incentivo à eliminação de barreiras arquitetônicas e a construção de um meio ambiente integrador, que facilite o desenvolvimento e produtividade de todo indivíduo. Apesar do número significativo de pessoas com alguma deficiência - conforme observamos - as iniciativas para atenção a esses grupos na América Latina, muitas vezes se limitam a soluções pontuais de acessibilidade, ou seja, soluções apenas para situações específicas.
Vemos, ainda hoje, iniciativas para fazer acessível, por exemplo, apenas uma única avenida, aonde se localiza uma clínica de reabilitação, permanecendo o restante da cidade, inacessível. Assim, torna-se evidente a necessidade de considerar a acessibilidade no planejamento macro, como um elemento habitual de todo projeto urbanístico.
No entanto, parece-nos rara a compatibilização eficiente entre as demandas geradas para realização do espaço urbano acessível e o atendimento às especificidades dos demais projetos. Inúmeros são os atores que protagonizam e interferem na gestão para um meio ambiente inclusivo: políticos, administradores, economistas, urbanistas, paisagistas, empreiteiros, fiscais, profissionais das empresas concessionárias de serviços públicos. Some-se a estes a ação de técnicos em tráfego, associações de moradores, associações de pessoas com deficiência, mídia, e outros grupos, o que gera conflitos, tensões e impasses nesse complexo processo de construção.
Acrescentamos a isto a observação de que, quando os critérios para um desenho universal não estão inseridos desde a fase de planejamento no processo de produção projetual, geralmente o resultado requer uma reavaliação e reparos, que agregam custos e comprometem a integridade do projeto.
Pelo que temos observado em várias experiências realizadas no Brasil e inclusive dentre aquelas em que participamos visando a incorporação do conceito de acessibilidade ampla, essa incompreensão também pode ser notada e tem interferido na qualidade de grande parte das intervenções.
Assim, consideramos que, aliada ao conhecimento técnico, deve haver gestão interdisciplinar na implantação dos projetos. Como observamos, os inúmeros fatores de interferência numa iniciativa visando acessibilidade ampla & desenho universal em áreas urbanas, transformam seu processo num complexo quebra-cabeças.
Urbanismo Inclusivo.
No processo de inserção de acessibilidade ampla na execução de projetos de urbanização, renovação urbana e transporte público, dentre outros, deve-se estimular a incorporação do conceito de desenho universal de forma transversal e coerente com os temas globais dos projetos de desenvolvimento.
Na preparação de um projeto, é importante destacar as recomendações específicas para seu desenho e manutenção e de classificação das prioridades nas etapas, buscando a qualidade das soluções:
1. Levantamento - Deve-se proceder ao levantamento detalhado da área a ser estudada, através de trabalho de campo. Todos os elementos pré-existentes devem ser assinalados com precisão.
2.
·  Diagnóstico - A primeira etapa de execução do projeto sobre mobilidade urbana deve ser a análise da área a ser estudada, apoiada nas especificações e recomendações das normas técnicas vigentes, locais e regionais, sobre acessibilidade.
3. Rede de percursos acessíveis - Em adaptações para tornar-se uma área urbana acessível, é importante definir itinerários que assegurem percursos ininterruptos, sem barreiras, integrando as áreas prioritárias a serem utilizadas.
Na análise de um espaço urbano, por exemplo, deve-se examinar os itinerários que interligam avenidas principais, ruas secundárias, paradas e acessos aos transportes públicos e estacionamentos de veículos. Dentre outros itens, devem ser analisados com especial atenção:
·         pavimentação.
·         desníveis.
·         largura e declividade dos passeios.
·         localização e acesso ao mobiliário urbano.
·         elementos que avancem sobre a área de pedestres.
·         sinalização visual e informativa.
·         semáforos e sinais sonoros.
·         vagas em estacionamentos públicos.
·         situação de acesso, deslocamento e interação aos equipamentos em parques e praças.
4. Compatibilização dos projetos - o planejamento e disposição do equipamento urbano (tais como sinalização, telefones públicos, quiosques, semáforos, iluminação, lixeiras, bancos, etc.) devem ser feitos de forma integral e atendendo à acessibilidade. Isto implica numa coordenação detalhada entre os diferentes elementos dos projetos, que devem ser executados sempre a partir de um plano urbanístico único, incorporando todos os elementos do mobiliário urbano.
5. Normas técnicas - Devem ser aplicadas as normas técnicas referentes à acessibilidade, nos projetos de arquitetura, urbanismo e transporte, assim como no planejamento de equipamentos, acessórios, comunicações e serviços. No Brasil, recentemente passamos a contar com importantes instrumentos para o implemento da acessibilidade em geral e em relação ao urbanismo inclusivo.
O Decreto Federal Nº 5.296, de 02 de dezembro de 2004, engloba um conjunto bastante completo de determinações para um meio físico acessível, e tornou obrigatória a observância das normas de Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos - NBR 9050, da ABNT-Associação Brasileira de Normas Técnicas. Estas normas, em continuada revisão, são a mais importante fonte de consulta técnica sobre o tema do Desenho Inclusivo no país.
Mais recentemente e em nível global, contamos com a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, promulgada pela ONU, e que vigora internacionalmente a partir de 03 de maio de 2008. Nesse extenso documento, há inúmeras menções à incorporação dos princípios do Desenho Universal em referência a diversos setores.
6. Fiscalização na execução das obras - Devido ao conhecimento relativamente recente dos temas de Desenho Universal, ressalta-se a importância da fiscalização com ênfase nesses quesitos.
7. Trabalhar em conjunto com as organizações comunitárias
- É importante trabalhar em sintonia com as organizações comunitárias locais e em especial com as associações de pessoas com deficiência e de idosos, considerando que a acessibilidade é um pré- requisito para a vida plena destas pessoas.
Gestões para Acessibilidade e as Políticas Públicas.
Parece-nos que através das experiências já implantadas para acessibilidade de vias urbanas no território nacional, muitas das questões e impasses gerados durante as etapas de projetos e de realização das obras, poderiam ser em parte compreendidos, e talvez melhor solucionados se enfocados em consonância com as demais políticas públicas implementadas nas cidades brasileiras.
Por exemplo, ao analisarmos os resultados ou a conservação da maioria das remodelações realizadas para acessibilidade de vias públicas. Vêem-se casos em que, mesmo antes do término das obras de reurbanização, alguns dos estabelecimentos comerciais das ruas reformadas, já ocupavam com mesas e equipamentos as áreas executadas para uso como faixa livre de pedestres e cuja intenção seria a de garantir um percurso livre nas calçadas.
Também se constata frequentemente o estacionamento de motocicletas sobre as calçadas, bem como sua ocupação por vendedores ambulantes, imediatamente após o encerramento das obras para acessibilidade. Consideramos, portanto, que a fiscalização continuada visando o cumprimento da legislação referente a essas questões, deve constituir parte integrante de qualquer processo para eliminação de barreiras urbanísticas.
A acessibilidade está sujeita a dinâmicas e modificações incessantes. Qualquer sítio tornado acessível não pode ser considerado definitivamente como tal, uma vez que há inúmeros fatores externos que interferem indefinidamente e, portanto, devem ser avaliados constantemente.
Para garantia de que as adaptações e equipamentos instalados durante um empreendimento visando a acessibilidade permaneçam íntegros e eficientes, torna-se necessário estruturar um sistema de manutenção continuado. De outra parte, para se facilitar essa conservação, especialmente no caso de vias públicas, há que se estimular a cooperação popular, através de conscientização e educação.
Uma campanha de divulgação bem conduzida torna-se uma importante ferramenta para que as pessoas vizinhas à área remodelada entendam o objetivo das obras e tornem-se solidárias à sua execução. Afinal, serão esses os mais afetados pelo incômodo gerado pelas reformas e também os mais beneficiados posteriormente.
À medida que os moradores incorporem o porquê das intervenções urbanas e atentem ao seu próprio direito às calçadas livres, passam, eles mesmos, a exercer a vigilância dessas áreas. Da mesma forma, também no trânsito, além da fiscalização, é a conscientização que pode impedir o estacionamento em frente à rampa de pedestres ou na vaga especial para pessoas com deficiência.

Referências Bibliográficas:

1.    Alvarez, Eduardo e Camisão, Verônica. Guia Operativa Sobre Accesibilidad - BID- Banco Interamericano de Desenvolvimento, Washington, 2005.

2.    Harper, Leon (1999). Report on Meeting on Universal Design. National Endowment for the Arts. NY

3.    Lynch, Kevin (1981). A Boa Forma da Cidade. MIT. Edições 70. Lisboa. 440 p

4.    Mace, Ron (1998). Proceedings of the I International Conference on Universal Design, Hofstra University, NY USA

5.    Neri, Marcelo (2003). Mapa da Exclusão Digital. Centro de Políticas Sociais. Fundação Getúlio Vargas. Rio de Janeiro. CD ROM.

6.    Papanek, Victor ( 1985) Design for the Real World: Human Ecology and Social Change . London. Thames and Hudson.

7.    Sassaki, Romeu Kazumi (1993). Informe Especial. In: Revista Integração. Ed. 22. São Paulo.

Do livro: Celebrando a Diversidade. Pessoas com Deficiência e Direito à Inclusão.
Edição 2010.
Organização: Flavia Boni Licht e Nubia Silveira.
Apoio:
Planeta Educação - em especial, Elisete Oliveira Santos Baruel e Érika de Souza Bueno.
Capítulo X - Pelo Uso dos Espaços.
Artigo: As Cidades e a Acessibilidade.
Autora: Verônica Camisão - Rio de Janeiro.
arquiteta, consultora da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, do Instituto Interamericano de Deficiência e Desenvolvimento Inclusivo e do Centro de Vida Independente do Rio de Janeiro;
representante do Brasil no ICTA/América Latina e na Rehabilitation International; integrante do Grupo Técnico de Acessibilidade do Real Patronato da Espanha.

sábado, 27 de outubro de 2012

Lívia Motta é especialista em narrar eventos a cegos

Matéria publicada hoje na VEJA SÃO PAULO. Minha amiga Lívia é maravilhosa.

Formada em letras, a profissional ganha a vida com audiodescrição

Lívia em ação, no teatro: “É uma mágica fazê-los ‘enxergar’” (Foto: Ivan Dias)
Descrição da imagem: Lívia Motta sorrindo com fone no ouvido, usando óculos, segurando o roteiro na mão apoiada numa mesa de áudio.
 
26.out.2012por Carolina Giovanelli
 
Sentado no fundo da plateia do Teatro Sérgio Cardoso, na Bela Vista, um grupo de pessoas debatia no último sábado (20) suas impressões sobre o espetáculo de dança do coreógrafo Ismael Ivo que acabara de ser apresentado ali. “Gostei dos movimentos bruscos dos bailarinos”, falava um. “Achei algumas cenas esquisitas, de clima bastante tenso”, comentava outro. Apesar de discorrerem com detalhes sobre o que lhes agradava ou desagradava, esses espectadores haviam experimentado a montagem na total escuridão, já que o grupo era formado por deficientes visuais. Seus ouvidos, entretanto, ficaram bem abertos durante todo o tempo. Pelos fones que tinham recebido na entrada do local, eles acompanharam durante a peça a voz suave da especialista Lívia Motta descrevendo os passos de dança contemporânea, o cenário, o jogo de luzes e a decoração do teatro, entre outros detalhes.
 
 
 
A profissional ganha a vida realizando trabalhos de audiodescrição, como a técnica é conhecida, nos mais variados eventos culturais, de óperas a exposições. Com sete anos de experiência no ofício, Lívia tornou-se a maior referência nessa área na capital. “É uma mágica fazer o cego ‘enxergar’, o que o ajuda a sentir-se incluído e respeitado”, comenta. Munida de um microfone, ela costuma atuar dentro de uma cabine. Sua voz chega aos deficientes por meio de fones de ouvido. Algumas pessoas ao redor, quando notam a cena curiosa, começam a prestar atenção e, não raro, ficam emocionadas com as reações dos cegos durante os shows. “Com essa iniciativa, podemos não apenas aproveitar tudo, mas também conversar em pé de igualdade com qualquer um sobre o que ocorreu no palco”, diz a professora Cristiana Cerchiari, tão fã da técnica de narração que já convidou cerca de vinte amigos para acompanhá- la nos passeios adaptados.
 
 

A consultora cultural Paula França: novas opções de lazer  (Foto: Ivan Dias)
 
Descrição da imagem: a foto mostra a consultora Paula França sentada numa poltrona, com as pernas cruzadas e sorrindo; no fundo da imagem outras pessoas estão sentadas.
 
Formada em letras em Itajubá, no interior de Minas Gerais, Lívia mudou-se para São Paulo após seu casamento, em 1975. Cursou mestrado em linguística na PUC em 1997, mas sua vida mudou dois anos depois, ao receber uma ligação telefônica. Do outro da linha, pediam uma doação ao Instituto Laramara, dirigido a deficientes visuais. Lívia respondeu: “Posso ajudar, mas prefiro colaborar com meu trabalho. Sou professora de inglês”. A partir daí, especializou-se nas aulas para cegos. O aprendizado da língua estrangeira por parte dos alunos especiais virou o tema de seu doutorado, um semestre do qual ela cumpriu na Inglaterra. No exterior, teve seu primeiro contato com materiais audiodescritivos. Na volta para o Brasil, fez alguns serviços informais até desenvolver, em 2006, seu primeiro trabalho oficial na área, na peça O Santo e a Porca, de Ariano Suassuna, no Teatro Vivo. A demanda para outros programas culturais veio naturalmente. Hoje, Lívia realiza em média cinco trabalhos por mês. Cobra aproximadamente 2.500 reais por atuação.
 
Seu processo de criação consiste em assistir às montagens diversas vezes a fim de escrever um roteiro detalhado em cerca de uma semana. Antes de apresentá-lo, ela exercita as cordas vocais, bebe bastante água e checa os aparelhos para que não haja nenhum erro técnico. Após o espetáculo, faz questão de perguntar aos presentes quais partes curtiram ou não, além de enviar uma ficha de avaliação para preencherem. “Em um desses comentários, disseram que seria bacana se eu anunciasse quem entra no local, já que, muitas vezes, o melhor amigo do cego está em alguma poltrona próxima e ele pode nem ter percebido”, explica. A consultora cultural Paula França, fã de óperas, é uma das que não faltam a essas atividades. “Para mim, a Lívia merecia ser aplaudida de pé”, afirma. “Ela nos oferece novas opções de lazer.”
 

Adriana e William, em seu casamento, no fim de 2010: fones de ouvido no altar 
(Foto: Acervo pessoal)
 
Descrição da imagem: a imagem mostra o casamento de William e Adriana, ela trajando vestido de noiva e ele alinhado em terno, um padre a frente de ambos celebra o matrimônio e alguns convidades aparecem do lado esquerdo.
 
Com o tempo, surgiram convites para que Lívia realizasse outros serviços, a exemplo de desfiles de moda, missas e congressos. O mais curioso deles ocorreu em dezembro de 2010: um casamento entre dois de seus amigos, a pedagoga Adriana Barsotti, cega desde os 7 anos, e o professor de informática William Cesar Rodrigues, que possui apenas 10% da visão nos dois olhos. Os noivos entraram na igreja com fones de ouvido, equipamento que também foi usado pelos convidados com deficiência. “Foi um momento muito bonito na minha vida”, lembra Adriana. “Graças à narração, pude sentir cada detalhe da cerimônia. Ganhamos nosso melhor presente de casamento.”
O DISCURSO AFINADO DE LÍVIA MOTTA
Local de nascimento: Itajubá, em Minas Gerais (radicada em São Paulo desde 1975)
 
Formação: graduação em letras na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Itajubá, com mestrado e doutorado na PUC-SP
 
Profissão: audiodescritora, há sete anos
 
Trabalhos: cinco por mês. Descreve peças de teatro, espetáculos de dança, óperas, filmes, exposições e eventos sociais a cegos
 
Nota do blog: as descrições das imagens foram feitas por mim.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Inclusão e diversidade


 
A matéria abaixo foi extraída do site Bengala Legal. O texto foi escrito pelo educador Reinaldo Bulgarelli*.
Diversidade é o conjunto de diferenças e semelhanças que nos caracterizam, não apenas as diferenças. Diversos não são os outros que estão em situação de vulnerabilidade, desvantagem ou exclusão. Essa maneira de encarar a diversidade como uma característica de todos nós e não de alguns de nós faz toda diferença quando trabalhamos o tema. Não se trata de incluir os que ficaram do lado de fora porque eles são os diversos. Eles ficaram do lado de fora porque estamos cometendo injustiças e não porque são “desajustados” e os incluídos são os perfeitos.
Portanto, aproximando essa reflexão de nossas vidas, de nossas organizações, é evidente que não estamos falando apenas de oportunidades iguais para todos. É isso e mais um pouco. Abrir espaços, incluir, buscar quem está do lado de fora, reconhecer identidades, compor equipes caracterizadas pela diversidade é um passo muito importante para sermos justos e reconhecermos na prática a dignidade de todas as pessoas.
Ao incluir, tudo é repensado para considerar a todos, o que exige atingir níveis mais altos de excelência na qualidade da educação oferecida, além de gerar aprendizados importantes na interação que acontece entre as pessoas em sua diversidade humana. A diversidade não pode, assim, ser obstáculo para a qualidade, mas uma ponte para o sucesso das pessoas, das organizações e o desenvolvimento da sociedade.
Como se preparar para a inclusão senão incluindo? Todos devemos nos preparar, evidentemente, mas a “perfeição” não pode ser desculpa para não incluir porque jamais seremos “perfeitos” sem a participação do outro que está do lado de fora. Assim, há muitas formas de discriminar e deixar as coisas como estão. Uma delas é pedir para os excluídos aguardarem na exclusão enquanto buscamos a perfeição dentro de nossas instituições…
Inclusão – mais do que dentro e fora, uma transformação do todo
Organizações inclusivas distribuem oportunidades com equidade, oferecem condições de desenvolvimento para todos, reconhecem as pessoas e têm apreço pela diversidade a ponto de considerá-la em suas escolhas, na tomada de decisões em relação a todos os seus públicos e atividades.
Organizações inclusivas ampliam nossa capacidade de realizar boas escolhas individuais e coletivas, favorecendo o próprio desenvolvimento, o desenvolvimento da organização e o desenvolvimento da sociedade onde vivemos.
Incluir é ação, é disposição para o encontro, para a mudança. É gesto concreto de inclusão de pessoas e das perspectivas que elas trazem consigo.
Incluir é movimento de mão-dupla: na direção do outro e de abertura para que o outro se achegue.
Incluir é gesto que considera a existência do outro, reconhece que há outras perspectivas além da sua ou do padrão dominante, com sua versão única de verdade, beleza, normalidade etc.. Incluir é atividade na qual todos se transformam. E sem que ninguém desapareça!
Se alguém deixa de existir, o que acontece é um extermínio e não inclusão.
Se para estar incluído for necessário sumir com alguma característica essencial, não é inclusão verdadeira. Ela deve considerar as pessoas para gerar interações verdadeiras e não desconsiderá-las ou desprezar algum aspecto ou característica.
Incluir é agir para que o outro exista e não um movimento para tornar o outro semelhante a si ou o movimento de negar-se para que só o outro exista.
Desaparecer com o outro, com suas características e perspectivas, é gesto de colonizar, de invadir, de assediar e não de incluir transformando-se e transformando o ambiente.
Incluir é gesto que exige a disposição de todos os envolvidos para o encontro, o diálogo, a troca, o enriquecimento mútuo, algo que acontece no processo de considerar e acolher outras possibilidades de ser, de saber, de fazer, de exercer o poder (todos têm poder!).
Ninguém inclui ninguém! Não há alguém que inclui ativamente e alguém que é incluído passivamente.
Incluir supõe interagir, disposição de todos e não de um. Inclusão é relação, interação e é na qualidade das relações que a diversidade ganha seu maior sentido e potencializa sua riqueza.
Ser inclusivo é dispor-se ao novo, ao inusitado, à transformação.
Inclusão, como interação de qualidade, destrói a ideia de fora e dentro que o termo sugere para dar-se conta de que há um todo transformado pela postura e pelas práticas inclusivas.
Juntar ou juntar-se às pessoas pode ser apenas formar uma aglomeração estática. Interações são transformadoras. Transformam as pessoas e os ambientes.
Incluir é fonte de renovação, de vitalidade, antídoto contra a mesmice. Não se fica o mesmo quando se inclui.
Ninguém inclui o que é igual, o mesmo, mas o que é outro, o que é diferente de si, o que tem algo a acrescentar àquilo que se é, que se sabe, que se pode ou que se faz.
Incluir é gesto que implica em diferenciar-se e em diferenciar para que haja um encontro verdadeiro de perspectivas, interesses, experiências, necessidades e contribuições singulares.
Quem tem medo da diferença e se sente ameaçado por ela, não se dispõe ao encontro, à transformação, à afirmação do que se é e do que o outro é para construir algo novo, um novo lugar, um ponto de chegada que não é o mesmo, mas outro.
Inclusão é resultado do gesto de incluir que faz com que todos se sintam acolhidos em suas singularidades para contribuir com o todo na realização da missão do grupo e da instituição.
Inclusão surge na interação e a fortalece, ampliando as possibilidades de cooperação entre as pessoas, de resolver conflitos e de chegar a um bom termo em relação aos desafios.
Inclusão acontece na construção de ambientes promotores de justiça, de interações colaborativas, da criatividade e de soluções inovadoras para os desafios que afetam uma comunidade ou toda uma sociedade.
Inclusão diz respeito à criação de um ambiente no qual cada um tenha a oportunidade de participar plenamente na criação do sucesso da relação, da missão escolhida, do desafio enfrentado, e no qual todos são valorizados em suas diferentes habilidades, conhecimentos e atitudes.
Inclusão pode formar algo parecido com mosaicos e eles são importantes do ponto de vista da geração de relações justas, equânimes, com oportunidades iguais para todos. Mas a composição de mosaicos pode significar inclusão incompleta por três motivos:
·         O que fez com que alguns ficassem do lado de fora? Sem postura crítica, não há como rever atitudes e práticas. Processos de exclusão podem continuar e gerar inclusões injustas.
·         Mosaicos são estáticos. A adição de valor da diversidade, assim, é apenas potencial. Sem gestão, não há solução! Apenas contemplar a diversidade e compor grupos diversos pode não gerar riqueza além da riqueza já presente. A interação é fundamental.
·         Inclusão precisa de gestão. Sem gestão, pode acontecer o “efeito picles”: todos ficam rapidamente parecidos, com o mesmo jeito, a mesma postura, as mesmas ideias, aparentemente ou não, como estratégia de sobrevivência, por conveniência ou convicção de que há apenas um padrão, o dominante, é o que deve prevalecer.
A gestão da diversidade deve tornar nosso ambiente de trabalho mais dinâmico, favorecer interações criativas, trocas, aprendizados conjuntos. Gestão necessita de intervenção na realidade e não apenas contemplação dessa realidade.
Podemos pensar na imagem dos caleidoscópios para mostrar essa inclusão dinâmica, com foco na qualidade das relações que acontece para além de se estar presente num espaço, num grupo ou equipe.
São identidades, singularidades, experiências, histórias de vida, perspectivas, possibilidades, diferenças e semelhanças que se arranjam e se reinventam em múltiplas composições para gerar, com interações dinâmicas, criatividade, inovação, excelência a serviço da sustentabilidade dos negócios e da sociedade.
Como não somos peças de um mosaico ou de um caleidoscópio, cabe lembrar que nós humanos podemos levar o outro dentro da gente quando interagimos. Não há um dono da verdade, um marcador identitário ou característica nossa que fique ilesa à interação quando é inclusiva, respeitosa, com apreço pela diversidade e suas possibilidades.
Na troca, nos enriquecemos mutuamente. Não são “verdades” que permanecem intocáveis, mas que geram algo novo, que enriquecem nossa vida individual e institucional.
Eu não preciso ser o outro para compreendê-lo, considerar suas perspectivas e necessidades no planejamento das atividades, mas eu posso considerar o outro porque há respeito, consideração, gosto pela diversidade. Exige gestão!
O mix formado neste processo inclusivo não some com as diferenças, mas acrescenta, amplia, transforma em algo novo que considera tudo e atinge novos patamares, novas realidades. Estamos falando de interações criativas com a incorporação de novos horizontes plurais, mais ricos, ampliando nossa visão e nossa capacidade de dar respostas aos desafios do nosso tempo e lugar.
Podemos aprender uns com os outros para sermos mais e fazermos mais, mas para isso precisamos enxergar os outros, dar valor aos outros, sentir falta dos outros, dessa ampliação de horizontes que representam. Não basta, portanto, dizer não à discriminação. É preciso dizer sim à diversidade por meio de práticas que supõem inclusão e gestão da diversidade.
*Sócio-diretor da Txai, educador e atua na área social desde 1978, sobretudo com direitos humanos. É coordenador acadêmico dos cursos de responsabilidade social na FGV/SP (Curso Princípios e Práticas de Responsabilidade Social Empresarial e Curso Princípios de Gestão para Organizações do 3º. Setor) e professor convidado da UNICAMP (Instituto de Economia – Especialização em Gestão da Sustentabilidade e Responsabilidade Corporativa). Foi professor do Instituto Palas Athena no projeto “Valores que não têm Preço” e um dos responsáveis pela implantação e realização do curso de responsabilidade social da ESPM em 2002. É autor do livro “Diversos Somos Todos” sobre valorização, promoção e gestão da diversidade nas organizações – Editora de Cultura/2008. Foi membro do UNICEF, diretor da Fundação Projeto Travessia, Diretor da Fundação BankBoston, diretor da Secretaria do Menor do Estado de São Paulo e um dos fundadores do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua em 1985. Foi indicado ao Prêmio Nacional de Direitos Humanos em 2002 por sua atuação na área da infância e adolescência. Recebeu o Prêmio África-Brasil em 2007 pela realização de ações afirmativas no campo das relações raciais e diversidade.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

As “invisibilidades” das pessoas com deficiência



O texto abaixo foi escrito pela socióloga Marta Gil*.
A “invisibilidade” na área da Deficiência já se tornou uma velha conhecida. As pessoas com deficiência a sentem na pele, nas mais diversas situações; os que estão perto delas ou trabalham na área têm muitas histórias dela para contar.
Para Harry Potter e seus amigos, a invisibilidade trazia vantagens e, portanto, era desejável. Com a capa mágica, podiam se aventurar, descobrir segredos e identificar vilões. A capa os protegia, dava acesso a informações preciosas ou mesmo favorecia escapadelas.
Não é esse o caso das pessoas com deficiência. Porém, já que repetimos tantas vezes essa afirmação e até comprovamos sua ocorrência, vale a pena refletir sobre isso.
Mas, por que usar o plural? Porque acho que há dois tipos de invisibilidade. A nossa velha conhecida é aquela que ignora as características das pessoas com deficiência, camuflando-as com frases como “Para mim, todos são iguais”; “O que me interessa são pessoas”; “Trato todos do mesmo jeito” ou variações parecidas. Essas frases, que aparentemente traduzem sentimentos louváveis, podem esconder um perigo, embora as intenções de quem fala sejam as melhores e as mais nobres possíveis
Perigo? Como assim? Ele reside na não consideração de características que fazem parte da natureza da pessoa com deficiência. Se os traços diferenciais são “pasteurizados” em nome desta igualdade que não respeita a diversidade – ao contrário, passa um trator sobre ela -, então essas características ficam, sim, “invisíveis”. Resultado: escolas – e demais espaços sociais – não têm materiais em braile, em português simplificado ou com audiodescrição; surdos não têm intérpretes de Libras; rampas, elevadores, softwares, pisos táteis nem são contemplados em orçamentos etc. etc.
Como alerta Reinaldo Bulgarelli: As pessoas não são “alminhas vagando por aí”; têm corpos, características, desejos e necessidades, que formam sua identidade. Quando esta não é sequer considerada em nome de uma suposta “igualdade”, elas se tornam “invisíveis”, porque algumas de suas características são solenemente ignoradas. Aí, a presença nos espaços sociais se torna difícil ou até mesmo inviável, para muitas. Isso explica por que nem sempre são vistas por nós.
Esse tipo de invisibilidade deve ser combatido, sempre. A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, que o Brasil ratificou com equivalência constitucional, é o instrumento mais potente que dispomos para garantir a visibilidade. A Convenção traz um novo olhar, tendo como base os Direitos Humanos. Um de seus pilares é a Acessibilidade, em todos os significados do termo. A ausência de acessibilidade configura discriminação – e discriminar é crime. Simples assim.
Ana Paula Crosara, que tinha uma deficiência física, costumava dizer que esperava o dia em que entrar e sair de um carro fosse algo corriqueiro, deixando de ser “um espetáculo”, que atraía olhares curiosos. Esse outro tipo de “invisibilidade” é desejável, pois vem da naturalidade: indica que as condições para que as pessoas com deficiência possam participar da sociedade estão asseguradas. Assim, elas podem “aparecer” e todos podemos conviver com tranquilidade, segurança e respeito.
A “invisibilidade desejável” beneficia a todos, porque considera a diversidade funcional de cada um. Ela cria um círculo virtuoso: ao olhar de frente o diferente, a sociedade inventa alternativas e busca soluções; à medida que a acessibilidade aumenta, mais pessoas entram na roda e a diferença passa a ser percebida e celebrada como parte da riqueza da Vida.
Para termos direitos iguais, nossas diferenças precisam ser vistas, reconhecidas e aceitas.
* Marta Gil é socióloga, consultora na área da Deficiência, coordenadora do Amankay Instituto de Estudos e Pesquisas e Fellow da Ashoka Empreendedores Sociais e colaboradora do Senai-SP e do portal Planeta Educação.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Barreiras atitudinais: obstáculos à pessoa com deficiência na escola

Caro leitor,
Acompanhe o reflexivo artigo “Barreiras atitudinais: obstáculos à pessoa com deficiência na escola” dos pesquisadores Francisco J. Lima e Fabiana Tavares dos Santos Silva.
“As barreiras atitudinais são perpetuadas na e pela ação da escola e só será por meio da educação que se poderá erradicar tais barreiras ou, pelo menos, minimizar seus efeitos danosos.”
RESUMO
Este artigo apresenta algumas das barreiras atitudinais mais comumente praticadas contra os alunos com deficiência na escola. Tais barreiras interferem, e mesmo impossibilitam a educação desses alunos. Compreendem posturas afetivas e sociais, traduzindo-se em discriminação e preconceito. Apresentam-se nas escolas regulares, bem como nas especiais. As barreiras atitudinais são perpetuadas na e pela ação da escola e só será por meio da educação que se poderá erradicar tais barreiras ou, pelo menos, minimizar seus efeitos danosos. Oferece-se um breve esboço de taxonomia das barreiras atitudinais. Resgata-se a história de exclusão da pessoa com deficiência para explicar a existência de barreiras atitudinais ainda hoje praticadas contra essas pessoas, repudiando o uso dessa explicação como justificativa para a manutenção de um modelo educacional segregador. Conclui-se que as barreiras atitudinais marginalizam a pessoa com deficiência, deterioram-lhe a identidade de pessoa humana e restringem-lhes as possibilidades de desenvolvimento e de relação social. Por fim, convida-se a todos ao reconhecimento das barreiras atitudinais, a fim de que, pela transformação individual, se alcance a transformação do coletivo, tornando a sociedade excludente de hoje numa sociedade inclusiva já!
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
 
As pessoas com deficiência têm, desde sempre, convivido com a confusão entre o que realmente são, pessoas humanas, e o que se pensa que elas são: “deficientes”.
Corrobora para a perpetuação dessa “confusão” a visão social construída historicamente em torno da deficiência como sinônimo de doença, de dependência, de “indivíduos sem valor”, de sofrimento, de objeto de purgação dos males cometidos por seus pais, entre outras. Tais visões estereotipadas sempre marginalizaram as pessoas com deficiência e, por vezes, nutriram nelas a crença descabida de que são incapazes.
Com efeito, “não é a distinção física ou sensorial que determina a humanização ou desumanização do homem. Suas limitações ou ilimitações são determinadas social e historicamente” (BIANCHETTI e FREIRE, 2004, p. 66).
Contrário ao sentido da inclusão, o modelo médico da deficiência conduz as pessoas a confundir a deficiência com doença. De fato, algumas doenças podem gerar deficiências; sendo estas, o resultado das doenças e não a doença em si.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (Programa de Ação Mundial para as Pessoas com Deficiência, 1982) deficiência é toda perda ou anomalia de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica. Infelizmente, a confusão que se faz entre a deficiência e a doença, bem como o próprio preconceito que se tem da doença, tem servido para afastar as pessoas com deficiência da sociedade. No imaginário social, a deficiência (principalmente a mental) tem foros de doença, exigindo, portanto, cuidados clínicos e ações terapêuticas (EDLER CARVALHO, 2000). Esse modelo clínico sempre serviu como justificativa para ações segregadoras nos mais diversos ambientes e situações sociais.
Na escola, microcélula da sociedade, essa realidade não se distancia do contexto macro. Assim sendo, as leis que exigem a inclusão das pessoas com deficiência não são suficientes para que a transformação ocorra ou para que todos alcancem, de fato, a igualdade nas oportunidades e no próprio direito. Na verdade, estamos no início de uma mudança que implica um esforço de modernização, reestruturação social.
É relevante lembrar que, durante séculos, as pessoas com deficiência foram chamadas de inválidas, de incapacitadas, defeituosas, deficientes e excepcionais. Depois, pessoas deficientes; pessoas portadoras de deficiência; pessoas com necessidades especiais e pessoas especiais. Mais recentemente, passaram a ser denominadas de pessoas com deficiência (termo utilizado de 1990 até os dias de hoje) (SASSAKI, 2006).
Conferir o valor de “pessoas” àqueles que tinham e têm deficiência foi uma ação muito relevante para a conquista da cidadania das pessoas com deficiência. E isso só ocorreu, segundo Sassaki (2003), em torno de 1981, quando a ONU “atribuiu” o valor de pessoas àqueles que tinham deficiência, igualando-os em direito e dignidade à maioria dos membros de qualquer sociedade ou país. No Brasil, conferiu-se, pela primeira vez, o título de Pessoa a um indivíduo com deficiência na Constituição de 1988.
Não obstante, o status de pessoa, recentemente adquirido, não impediu as pessoas com deficiência de continuarem a sofrer com as várias formas de barreiras atitudinais, comunicacionais, de acessibilidade, entre outras.
De acordo com Sassaki (2003), em junho de 1994, com a Declaração de Salamanca, preconizou-se a educação inclusiva. Contudo, nem isso, nem o fato de se ter passado a reconhecer os indivíduos com deficiência como pessoas foram suficientes para derrubar barreiras atitudinais, as quais dificultam e, mesmo impedem, o ingresso e permanência de crianças com deficiência nas escolas.
Assim, e esteados no entendimento de que as barreiras atitudinais alicerçam as demais, buscamos mostrar, neste artigo, como a manutenção de estigmas e de ações de marginalização em relação às pessoas com deficiência estão presentes no cotidiano da escola e como se enraízam no ambiente escolar.
As barreiras atitudinais na escola
 
É emergencial a promoção da Pedagogia contemplando a todos os sujeitos sociais, e não de uma Pedagogia da pessoa com deficiência. Promover uma Pedagogia da deficiência constitui uma das primeiras barreiras atitudinais percebidas no âmbito da Educação.
As barreiras atitudinais não são únicas, elas surgem à medida que a sociedade se transforma. Assim, novos contextos deparam-se com novas barreiras que surgem de diferentes formas. No passado, contudo, as barreiras atitudinais não eram vistas como tais.
Falar, pois, dos estigmas e da marginalização da pessoa com deficiência é refletir sobre um processo socialmente construído desde a sociedade primitiva até a contemporaneidade. Independentemente do período histórico, o homem tende a tomar como centro de tudo seu próprio grupo de convivência; como conseqüência, o outro é pensado, visto/sentido subjetivamente por meio de valores, modelos, definições pessoais do que é a existência.
Segundo Rocha (1985, p. 8), no plano intelectual, isso pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a diferença; no plano afetivo, como sentimento de estranheza, medo, hostilidade, etc. O fato é que, no contato com alguém que desestabiliza o que internalizamos como normalidade, são misturados fatores intelectuais, racionais, emocionais e afetivos que, muitas vezes, geram imagens e informações impróprias, disposições psíquicas ou afetivas em relação à determinada pessoa ou grupo.
Do início da civilização à pós-modernidade, o que mudou é que “a seleção natural tomou uma nova forma: de seleção natural física, passou a ser uma seleção ‘natural’ social” (GLAT, 1995, p. 19). Sob essa lâmina, nega-se ao outro até o mínimo de independência necessária para falar de si mesmo.
Assim, as pessoas que exercem a função de “cuidador” da pessoa com deficiência, muitas vezes, a emudecem, decidindo por ela desde a mínima ação mais rotineira (como o que vestir, a hora de dormir, etc.) até as mais delicadas, por envolverem aspectos biológicos, sociais e afetivos (como o acesso à escolarização, a vivência da sexualidade, etc.). E isso ocorre até mesmo quando a pessoa com deficiência atinge a idade adulta. A justificativa para essa ação consiste na afirmativa de que se está fazendo o melhor para a pessoa com deficiência – um melhor que, na maioria dos casos, não lhe permite a vivência como pessoa humana, mas como posse de alguém.
Na sociedade primitiva, os homens selecionavam e eram selecionados pelos grupos quando atendiam aos requisitos de força, agilidade, destreza, raciocínio rápido, etc. As pessoas que apresentavam essas habilidades numa escala mais baixa sempre eram deixadas para trás. Na sociedade atual, o processo é divergente? Ou mais, na vida intra-escolar, o processo é distinto ou o olhar dos sujeitos contemporâneos continua a categorizar os “bons” e os “fracos”? Essas são questões polêmicas, pois nos remetem a vários movimentos ideológicos que permeiam os eventos sociais, dos mais simples (como pedir uma informação a alguém) aos mais elaborados (como conseguir exercer uma profissão, sem que as pessoas com deficiência sejam avaliadas, apenas e tão somente, por sua deficiência).
Em cada época, para cada grupo social, as respostas seriam bem divergentes. Hoje, buscamos tratar diferentemente as pessoas diferentes para igualá-las em direito, ou seja, desejamos uma sociedade inclusiva.
Como alcançar a transformação social se há uma distância entre quem são as pessoas com deficiência, as imagens que outros sujeitos sociais criam em torno dessas pessoas e, para efeito de aceitação social, quem elas deveriam ser? Vistas pela sociedade como desviantes, essas pessoas enfrentam impedimentos muito mais difíceis de lidar do que a própria deficiência sensorial, física ou intelectual.
Uma deficiência é, muitas vezes, detectável de imediato. Em decorrência dessa percepção, as pessoas sem deficiência podem apresentar atitudes traduzidas em curiosidade, crença na inferioridade, fragilidade e dependência da pessoa com deficiência ou mesmo de repulsa a essa pessoa.
As barreiras atitudinais, porém, nem sempre são intencionais ou percebidas. Por assim dizer, o maior problema das barreiras atitudinais está em não as removermos, assim que são detectadas. Exemplos de algumas dessas barreiras atitudinais são a utilização de rótulos, de adjetivações, de substantivação da pessoa com deficiência como um todo deficiente, entre outras.
Também constituem barreiras atitudinais na escola (ou em outros espaços sociais) aquelas que se apresentam na forma de:
·         Ignorância: desconhecer a potencialidade do aluno com deficiência.
·         Medo: ter receio de receber a um aluno com deficiência, ou mesmo a um outro profissional da Educação que apresente alguma deficiência; temer em “fazer ou dizer a coisa errada” em torno de alguém com uma deficiência.
·         Rejeição: recusar-se a interagir com a pessoa com deficiência, um aluno, familiares deste ou outro operador da educação.
·         Percepção de menos-valia: avaliação depreciativa da capacidade, sentimento de que o aluno com deficiência não poderá ou só poderá em parte.
·         Inferioridade: acreditar que o aluno com deficiência não acompanhará os demais. Isso é incorrer num grave engano, pois todas as pessoas apresentam ritmos de aprendizagem diferentes. Assim sendo, ninguém acompanha ninguém; cada um faz seu percurso singularmente, mesmo a proposta docente sendo coletiva e una.
·         Piedade: sentir-se pesaroso e ter atitudes protetoras em relação ao aluno com deficiência. Estimular a classe a antecipar-se às pessoas com deficiência, realizando as atividades por elas, atribuindo-lhes uma pseudo-participação.
·         Adoração do herói: considerar um aluno como sendo “especial”, “excepcional” ou “extraordinário”, simplesmente por superar uma deficiência ou por fazer uma atividade escolar qualquer; elogiar, exageradamente a pessoa com deficiência pela mínima ação realizada na escola, como se inusitada fosse sua capacidade de viver e interagir com o grupo e o ambiente.
·         Exaltação do modelo: usar a imagem do estudante com deficiência como modelo de persistência e coragem diante os demais.
·         Percepção de incapacidade intelectual: evitar a matrícula dos alunos com deficiência na instituição escolar, não deixando que eles demonstrem suas habilidades e competências. Achar que ter na sala de aula um aluno com deficiência é um fato que atrapalhará o desenvolvimento de toda a turma.
·         Efeito de propagação (ou expansão): supor que a deficiência de um aluno afeta negativamente outros sentidos, habilidades ou traços da personalidade. Por exemplo, achar que a pessoa com deficiência auditiva tem também deficiência intelectual.
·         Estereótipos: pensar no aluno com deficiência comparando-o com outros com mesma deficiência, construindo generalizações positivas e/ou negativas sobre as pessoas com deficiência.
·         Compensação: acreditar que os alunos com deficiência devem ser compensados de alguma forma; minimizar a intensidade das atividades pedagógicas; achar que os alunos com deficiência devem receber vantagens.
·         Negação: desconsiderar as deficiências do aluno como dificuldades na aprendizagem.
·         Substantivação da deficiência: referir-se à falta de uma parte ou sentido da pessoa como se a parte “faltante” fosse o todo. Ex: o deficiente mental, o cego, o “perneta”, etc. Essa barreira faz com que o aluno com deficiência perca sua identidade em detrimento da deficiência, fragilizando sua auto-estima e o desejo de aprender e estar na escola.
·         Comparação: comparar os alunos com e sem deficiência, salientando aquilo que o aluno com deficiência ainda não alcançou em relação ao aluno sem deficiência, colocando este em posição superior ao primeiro. Na comparação, não se privilegiam os ganhos dos alunos, mas ressaltam-se suas “falhas”, “faltas” e “deficiências”.
·         Atitude de segregação: acreditar que os alunos com deficiência só poderão conviver com os de sua mesma faixa etária até um dado momento e que, para sua escolarização, elas deverão ser encaminhadas à escola especial, com profissionais especializados.
·         Adjetivação: classificar a pessoa com deficiência como “lenta”, “agressiva”, “dócil”, “difícil”, “aluno-problema”, “deficiente mental’”, etc. Essa adjetivação deteriora a identidade dos alunos.
·         Particularização: afirmar, de maneira restritiva, que o aluno com deficiência está progredindo à sua maneira, do seu jeito, etc.; achar que uma pessoa com deficiência só aprenderá com outra com a mesma deficiência.
·         Baixa expectativa: acreditar que os alunos com deficiência devem realizar apenas atividades mecânicas, exercícios repetitivos; prever que o aluno com deficiência não conseguirá interagir numa sala regular. Muitos professores passam toda a vida propondo exercícios de cópia, repetição. Isso não ajuda o aluno a descobrir suas inteligências, competências e habilidades múltiplas.
·         Generalização: generalizar aspectos positivos ou negativos de um aluno com deficiência em relação a outro com a mesma deficiência, imaginando que ambos terão os mesmos avanços, dificuldades e habilidades no processo educacional.
·         Padronização: fazer comentários sobre o desenvolvimento dos alunos, agrupando-os em torno da deficiência; conduzir os alunos com deficiência às atividades mais simples, de baixa habilidade, ajustando os padrões ou, ainda, esperar que um aluno com deficiência aprecie a oportunidade de apenas estar na escola (achando que, para esse aluno, basta a integração quando, de fato, o que lhe é devido é a inclusão).
·         Assistencialismo e superproteção: impedir que os alunos com deficiência experimentem suas próprias estratégias de aprendizagem, temendo que eles fracassem; não deixar que os alunos com deficiência explorem os espaços físicos da escola, por medo que se machuquem; não avaliar o aluno pelo seu desenvolvimento, receando que ele se sinta frustrado com alguma avaliação menos positiva.
As barreiras atitudinais podem estar baseadas em preconceitos explícitos ou a eles dar origem. como vimos, elas aparecem em nossa linguagem, tanto quanto em nossas ações ou omissões.
Logo, muitas ações aparentemente sem importância nutrem, no dia-a-dia, as barreiras atitudinais; por exemplo, quando se acredita que só as pessoas que têm amigos, parentes ou mesmo alunos com deficiência é que devem buscar a inclusão. (Essa idéia, além de fortalecer as barreiras de atitude, constitui um conceito equivocado de inclusão, pois o ato de incluir não se refere apenas às pessoas com deficiência, mas a todos os grupos vulneráveis, a todas as pessoas, enfim, a toda a sociedade. O objetivo não é restringir, mas acolher a singularidade de cada indivíduo. Daí é que muitos de nós já estão engajados no processo de transformação social, mesmo porque desejamos uma sociedade mais humana).
A suposição do professor de que ter um aluno com deficiência é uma providência divina para que ele possa praticar o bem e a ética constitui igualmente uma barreira atitudinal. Nessa linha, alguns professores manifestam a crença de que a pior coisa que pode acontecer a um estudante é nascer com deficiência. Na verdade, uma das piores coisas que pode acontecer a um aluno é não ser visto como sujeito social, pessoa humana que tem conhecimentos preexistentes, expectativas, sonhos, desejos, etc.
As pessoas não são iguais, logo, as diferenças existentes entre as várias manifestações de deficiência não podem ser niveladas de uma só maneira, principalmente, por baixo. Desconsiderar a singularidade de cada aluno é uma barreira atitudinal que interfere na aprendizagem do estudante.
Ao professor, cabe ficar alerta para que não estimule essas barreiras ou as nutra com seu próprio exemplo, uma vez que muitas outras barreiras atitudinais podem ser praticadas na escola. Para evitá-las, é mister que nos atentemos para nosso comportamento e sentimentos em relação ao aluno com deficiência. As barreiras atitudinais, por vezes, estão imbricadas de tal forma que se confundem, confundindo ao professor. Mas isso não pode servir de argumento para a manutenção tácita de preconceitos e discriminações entre os alunos, contra os alunos, ou contra quem quer que seja.
Considerações finais
Identificar as barreiras atitudinais contribuirá para erradicar ou, ao menos, minimizar o processo de exclusão social, pois, ao tomarmos consciência do que fazemos, poderemos procurar meios para a transformação coletiva e individual – desta dependerá a primeira. Portanto, a escola que se deseja inclusiva deve trabalhar na perspectiva de envolver todos na transformação constante do projeto político-pedagó gico e de cada pessoa como ser social e atuante.
As barreiras atitudinais não são concretas, em essência, na sua definição, no entanto, materializam- se nas atitudes de cada pessoa. Com efeito, não há como explicitar todas as suas formas numa lei, mesmo porque não se têm classificados todos os tipos de barreiras atitudinais. Esse é um desafio para as pessoas que se preocupam com a educação, a sociedade e a inclusão.
Com efeito, a forma de exclusão manifestada nas falas de alguns profissionais da saúde e da educação, bem como de alguns pais e de estudantes sem deficiência (por exemplo, designando um aluno como “especial”, adjetivando-o como “agressivo” e substantivando- o como o “down”, o “surdo”, o “retardado”, o “doido”, etc.) leva, como vimos, o aluno com deficiência a uma situação de segregação, sustentando o modelo de educação especial, fortalecendo o preconceito e a marginalização da pessoa com deficiência no contexto escolar.
Para além dos ambientes das escolas regulares, públicas ou privadas, também nos ambientes destinados aos alunos rotulados como “especiais” (nas escolas especiais), encontramos muitos dos componentes que conservam as barreiras atitudinais. Sustentando- se em bases científicas, filosóficas, históricas e/ou populares, essas “escolas especiais” esteiam-se em preconceitos e/ou barreiras atitudinais que, no entendimento dos defensores de tais “escolas especiais”, são apenas ações em prol do “melhor para a pessoa com deficiência”.
Esse “melhor para a pessoa com deficiência” contudo, tem sido o principal argumento usado para justificar ações que, em última instância, são manifestações explícitas das muitas barreiras atitudinais que de tão danosas, são abomináveis. Se as bases históricas, científicas e filosóficas servem para explicar o porquê das barreiras atitudinais hoje vivenciadas, elas não podem, contudo, servir de justificativa para a manutenção de tais barreiras.
O argumento de que “sempre foi assim” e “é difícil de mudar” é, portanto, irrelevante e descabido quando se pretende de fato construir uma escola para todos; não esta escola que está aí, mas uma outra escola, justificável pela necessidade de reconhecermos que “TODOS” não permite exceção.
Já o temor desse reconhecimento e do que ele significa, certamente, explicam o porquê de tanta resistência para transformar a escola excludente dos dias de hoje em uma escola inclusiva para já. E explica simplesmente porque a ação de explicar significa, nada mais nada menos que interpretar, explanar, dar motivo dos próprios atos, tornar inteligível. Justificar consiste em argumentar, provar a veracidade de algo, demonstrar a razão dos procedimentos. Logo, há um intercâmbio entre essas duas ações no que se refere ao recurso da argumentação. Assim, ao explicarmos uma barreira atitudinal, damos argumentos que elucidam uma situação que originou determinado comportamento da sociedade em relação à pessoa com deficiência. Entretanto, esse comportamento não deve se sustentar (ser justificado) esteado em sua explicação.
Nesse sentido, afirmações do tipo “é compreensível que a sociedade haja dessa forma”, “sempre foi assim…” ou “os alunos com deficiência não acompanham o programa” maquiam uma atitude negativa diante da pessoa com deficiência.
Esse tipo de “justificativa”, portanto, nutre a inércia social, o conformismo, o comodismo, os estereótipos, sustentando a existência das salas especiais, que, geralmente, focalizam a deficiência em detrimento da essência humana. Logo, não há justificativa racional, ética, moral ou científica para a manutenção de alunos com deficiência em ambientes segregados, seja em escolas especiais, seja em ambientes especiais na escola. No âmbito da educação escolar, há diversas formas de exclusão – pelo obstáculo e impedimento ao acesso e ingresso da pessoa com deficiência, pela expulsão das que ingressam e são impossibilitadas de permanecer porque professores, gestores e pais acreditam que elas devem estar naqueles ambientes especializados.
“Independentemente do lócus das barreiras, elas devem ser identificadas para serem enfrentadas, não como obstáculos intransponíveis e sim como desafios aos quais nos lançamos com firmeza, com brandura e muita determinação” (EDLER CARVALHO, 2006, p. 128).
Destarte, convidamos a todos para investigar, nomear as diversas barreiras atitudinais corporificadas na escola e na sociedade como um todo, a fim de fazer entender que a inclusão precisa ser um objetivo de cada um. Assim sendo, pensemos conjuntamente em como iniciar uma transformação individual para uma transformação no coletivo.
A inclusão só será concretizada eficientemente quando cada um de nós reconhecer as barreiras que nutrimos e buscar minimizá-las, erradicá-las. “A inclusão é uma visão, uma estrada a ser viajada, mas uma estrada sem fim, com todos os tipos de barreiras e obstáculos, alguns dos quais estão em nossas mentes e em nossos corações” (MITTLER, 2003, p. 21).

REFERÊNCIAS

- BIANCHETTI, Lucidio e FREIRE, Ida Mara (orgs). Um olhar sobre a diferença: Interação, trabalho e cidadania. 6ª ed. São Paulo: Papirus, 2004.
- EDLER CARVALHO, Rosita. Removendo barreiras para a aprendizagem: educação inclusiva. 5ª ed. Porto alegre: Mediação, 2006.
- Educação Inclusiva: com os pingos nos “is”. 4ª ed. Porto Alegre: Mediação. 2006
- GLAT, Rosana. Questões atuais em educação – A integração social dos portadores de deficiências: uma reflexão. Rio de Janeiro: Livraria Sette Letras, 1995.
- MITTER, Peter. Educação inclusiva: Contextos sociais. Porto Alegre: Artmed, 2003.
- ROCHA, Everardo P. Guimarães. O que é etnocentrismo. 2. ed. São Paulo, 1985. 95 p.
- SASSAKI, Romeu K. Vida Independente: história, movimento, liderança, conceito, filosofia e fundamentos. São Paulo: RNR, 2003.

http://www.deficienteciente.com.br/