Meu nome é Ari Vieira, sou especializado em educação para pessoas com deficiência pela PUCSP. Quero ajudar os docentes a debater o tema inclusão das pessoas com deficiência e/ou mobilidade reduzida nas escolas. O blog será também uma importante ferramenta de consulta para quem for implantar a temática da inclusão na mobilidade urbana.
Ally e Ryan
sábado, 27 de abril de 2013
quinta-feira, 25 de abril de 2013
Pessoas com deficiência, idosos e cuidadores
10/04/2013 - Izabel Maria Madeira de
Loureiro Maior*
A
nova relação trabalhista ameaça os dois lados.
É inadiável equilibrar as relações do trabalho de
uns com o “capital” finito de outros, essencialmente quando são idosos e
pessoas com deficiência.
Com a Emenda Constitucional nº 72, de
2 de abril de 2013 (PEC das empregadas domésticas), entendo que os legisladores
e a sociedade conseguirão melhorar a vida de muitos trabalhadores domésticos
antes desvalorizados por patrões “capitalistas selvagens”. Entretanto, é muito
difícil contornar a diferença desprezada pela PEC, ao equiparar o tomador de
serviços “pessoa física” com “pessoa jurídica – empresa lucrativa” em muitos
aspectos. Como decorrência, surgiu um óbvio desequilíbrio e sérias
consequências. Os “empregadores dentro da lei” irão manter trabalhadores
domésticos até onde puderem arcar com as novas obrigações. Fatalmente, muitos
não conseguirão encarar com as exigências. Quero destacar que não cabe
responsabilizar os trabalhadores domésticos pelo desajuste, já que não foi
causado por eles na busca dos direitos trabalhistas presentes no texto
constitucional para outros trabalhadores urbanos e rurais.
Por criação e tradição familiares
sempre remunerei corretamente as pessoas que me prestam serviços domésticos,
pois se trata de trabalhadores assalariados como eu, sempre com carteira
assinada no valor verdadeiro, INSS, férias acrescidas de um terço e 13º
salário. Por saber que o trabalho deles contribuiu para minha maior dedicação
aos estudos e à minha carreira profissional, procurava compartilhar algum
adicional conseguido. Essa é prática de relações trabalhistas na qual acredito.
No momento, minha imensa preocupação
se assenta sobre os cálculos que estou tentando fazer e absorver. As pessoas
idosas, pessoas com deficiência e outras, que precisam de cuidadores para
sobreviver e viver com dignidade, autonomia e independência foram esquecidas
com a nova ordem, como infelizmente acontece. Esses cidadãos não existem em
nenhum artigo, parágrafo ou inciso da nova legislação. Adeus equiparação de
oportunidades, pois sabemos que o elemento de despesa que mais sobrecarrega o
custo adicional da deficiência é a contratação dos serviços dos cuidadores.
Em média, para não haver exploração
do trabalhador doméstico e do cuidador, uma pessoa que necessita de 24 horas de
atenção para as atividades da vida diária como alimentação, asseio, banho e
acompanhamento em outras tarefas, contrata duas a três pessoas que se revezam
em sua casa. De repente, a maneira como a medida historicamente justa foi
tomada desconheceu as consequências para um grupo em desvantagem. Foram
alteradas as regras de contratos existentes e toda a viabilidade de receber o
cuidado. Nas contas a serem feitas, de um lado estão aposentadorias, pensões e
salários minguados dos “patrões dependentes”. O mercado de trabalho no Brasil
rejeita trabalhadores com deficiência ou os contrata, ilegalmente, por salários
abaixo dos demais. Esses “patrões” não podem assumir as tarefas dos cuidadores,
justamente porque os cuidadores existem para lhes atender, com dignidade para
as duas partes, naquilo que é básico: ir ao banheiro (que não tem hora
marcada), receber alimento e um copo de água e apoio em atividades de estudo,
trabalho e lazer. Caso a assistência do cuidador ultrapasse, mesmo que em
poucos minutos, as oito horas diárias, já serão horas extras, adicional noturno
e tudo mais. Mesmo no período diurno, se a pessoa com deficiência ou a idosa
não conseguir “se virar” durante o intervalo de descanso do cuidador, a lei não
irá socorrê-las e mesmo o cuidador que vier em seu auxílio estará infringindo a
lei. Na nova empresa-casa as regras são as do cartão de ponto. Por quê?
Até aqui, tanto para mim, pessoa com
deficiência, servidora pública, que precisa de cuidador, como para minha sogra
de 92 anos, pensionista federal, portanto ambas com recursos que não acompanham
o reajuste do mínimo salário desse país e a inflação, teremos de pensar
imediatamente em outra forma de existir que não seja indecente. Com a nova
equação, não fecham os cálculos para manter o emprego dos cuidadores e a nossa
sobrevivência. Se nos transformássemos em empresas lucrativas, aí sim, a carga
de direitos trabalhistas estaria condizente.
Meu ponto é que não se trata de
usurpar os direitos conquistados tão tardiamente pelos trabalhadores
domésticos. O que percebo como inadiável é equilibrar as relações do trabalho
de uns com o “capital” finito de outros, essencialmente quando são idosos e
pessoas com deficiência, os quais não se caracterizam por ter rendimentos altos
nem serem exploradores de ninguém. A alternativa será a institucionalização
dessas pessoas em casas de repouso e abrigos? Não seria mais humano e solidário
aproveitar o debate e resgatar aqueles que não conseguem “pagar” de forma
alguma?
Sem a mediação do Estado e da
sociedade, que não pensaram no caso de cuidadores e naqueles que dependem de
sua presença, o cobertor curto vai desfavorecer os dois lados. É urgente a
instituição de política pública que ofereça serviços de cuidadores e outras boas
alternativas. Com a palavra os órgãos de promoção dos direitos das pessoas
idosas e das pessoas com deficiência.
Referências: EM nº 72, de 2 de abril de 2013, disponível em www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc72.htm,
acesso em 08/04/2013.
* Médica fisiatra e docente da
Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Consultora em
inclusão social, políticas públicas e acessibilidade. Foi coordenadora da CORDE
e Secretária Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência de
2002 a 2010.
Educação inclusiva: Uma questão urgente.
Tereza Cristina
Rodrigues Villela.
É comum ouvir ou ler, ainda nos dias
atuais, que os movimentos de luta por inclusão nas classes do sistema regular
de ensino formado por pessoas com deficiência, suas famílias e educadores,
estão desconectados da realidade educacional do país. Não é raro que seja
apresentada uma longa argumentação no sentido de que as escolas teriam
suficientes desafios ao receber alunos sem deficiência física, intelectual,
motora, ou sensorial, seja por falta de infraestrutura básica, pela incipiência
de políticas públicas que assegurem formação inicial e continuada de educadores
e gestores educacionais, ou ainda pelo fato de as escolas já receberem
estudantes tão heterogêneos quanto existem entre esses grupos de estudantes;
são comuns afirmações discriminatórias como: “tenho 40 alunos normais e um com
deficiência”. As licenciaturas e os cursos de formação inicial e continuada de
educadores e de gestores da educação ganham muito ao possibilitar aos
estudantes o questionamento quanto ao que é geral e ao que é específico às
pessoas com deficiência.
É fato que as políticas públicas no sentido de assegurar formação inicial e continuada dos educadores para a atuação com estudantes com deficiência são parcas, e os cursos de formação comumente fragmentados e com pouco tempo de duração, oferecidos a poucos educadores e gestores. Entretanto, o preparo não é algo estático, que tenha um fim; os saberes necessários a práticas inclusivas de educação formal vão sendo construídos e não se encerram. Os gestores da educação e os educadores tem buscado mais por informações quanto a ações promotoras de inclusão educacional de estudantes com deficiência e a internet, por exemplo, também é uma ótima ferramenta para isso.
Ainda há muito por fazer para que as
edificações escolares estejam construídas de acordo com as normas técnicas de
acessibilidade para receber estudantes com deficiência; os prédios mais novos
deveriam respeitar normas de acessibilidade, mas nem sempre é assim. Em grande
parte dos casos, as medidas a serem adotadas são simples e de baixo custo.
Entretanto, muitas vezes, a afirmação de que os educadores e as escolas não
estão preparados, tem sido usada como subterfúgio para que não haja qualquer
mudança arquitetônica ou nas práticas pedagógicas, a despeito dos mecanismos
legais nacionais e internacionais de direitos humanos e tem sido utilizada como
pretexto para que as escolas evitem receber estudantes com deficiência.
Raramente os pais de pessoas com
deficiência estão preparados para receberem esses filhos, mas não se questiona
a obrigação destes em recebê-los. E, notadamente, quando buscam e tem acesso à
informações preparam-se no cotidiano conforme as situações vão surgindo. E é
exatamente assim que o educador pode preparar-se. Os cursos de formação ajudam
muito, mas é efetivamente nas situações da prática educacional que a preparação
vai se construindo e se edificando, ou seja, seria inútil esperar que as
escolas e os educadores estejam preparados antes de receber estudantes com
deficiência.
As situações cotidianas nas escolas e
nas salas de aula são distintas, assim como também são distintos os alunos,
independentemente de terem ou não alguma deficiência física, sensorial, ou
intelectual e é no contexto de ensino-aprendizagem que o professor pode
preparar-se, reconstruindo-se, aprendendo a cada dia ao mesmo tempo em que
ensina. Nesse sentido, as atitudes e práticas, algumas indicadas pelos diversos
estudos na área da educação regular e especial, outras pelo simples bom-senso,
podem favorecer a aprendizagem e o acesso ao conteúdo tanto ou mais do que a
arquitetura da escola.
Estudantes são antes de tudo pessoas
com interesses, vontades e capacidades diferentes, o que não encontra
similaridade entre pessoas com deficiência: quanto a elas, o que pode ser
similar por vezes são as necessidades quanto a acessibilidade arquitetônica,
descrições, uso de materiais e explicações concretas, escrita e língua e
habilidades linguísticas pouco aceitas em classes do sistema regular de ensino
adeptas a modos bancários de transmissão de conhecimento, estes sim
desconectados da realidade global, que exige escolas que preparem os alunos
para ações cidadãs e para o mercado de trabalho.
É comum também, por outro lado, a
retórica de que a presença de estudantes com deficiência seria uma dificuldade
para os demais estudantes, que sairiam da escola menos preparados para o
mercado de trabalho; assim, a presença de estudantes com deficiência nas salas
de aula do sistema regular de ensino seria mera socialização, não
necessariamente atrelada a aprendizagem.
Ora, quanto à educação bancária,
aquela que só verbaliza informações e aguarda do estudante passivo uma resposta
ensaiada e que busca a uma forma homogênea de ensinar e aprender fictícia,
prepara os estudantes para o mercado de trabalho atual?
A presença de estudantes com e sem
deficiência de origens culturais e formas de construção de conhecimentos
distintas na mesma sala de aula, oferece a possibilidade de trabalho conjunto e
favorece que sejam pensadas formas de compreensão diferentes e várias
inteligências e habilidades distintas. tão importante quanto dominar os
conteúdos curriculares é a capacidade de compreender o outro, de trabalhar em
equipe e assim fazendo-se entender colocando-se na posição do outro, o que vai
forjando em nós, educadores e estudantes a criatividade da qual deve estar
imbuída a relação ensino-aprendizagem, capaz de favorecer potencialidades dos
estudantes bem como saberes e a reflexão cotidiana do educador sobre sua
prática pedagógica.
Processos inclusivos de educação não
são fáceis, são necessários e urgentes, sobretudo em uma época que nos desafia
a ampliar a prática de uma educação que atenda verdadeiramente a todos os
alunos, cujo tempo é hoje e não podem esperar.
Tereza Cristina Rodrigues Villela:
pedagoga, mestre em Educação Especial e doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação Especial da Universidade Federal de São Carlos - UFSCAR, na linha de pesquisa "Práticas Educativas, processos e problemas".
Tutora de disciplinas acadêmicas voltadas a formação de professores para a inclusão de estudantes com deficiência visual nas classes comuns do sistema regular de ensino em 2010 e 2011.
Ppalestrante em cursos de formação de professores e pesquisadora nas áreas de estratégias de ensino, comunicação e interação social, voltadas a estudantes com deficiência visual.
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