O argumento do direito de escolha da família é
defendido pela Federação Nacional das Apaes. Presidente da federação, Aracy
Maria da Silva Lêdo diz que, “se a criança tem uma deficiência múltipla,
especial, precisa de atendimento especial”:
— Inclusão já fizemos há tempos, ao tratar essas
crianças com fonoaudiólogos, psicólogos, fisioterapeutas, em turmas menores —
afirma Aracy, criticando a estrutura das escolas comuns: — Os auxiliares que
colocam para atender alunos com deficiência não têm formação adequada.
No entanto, maior que o direito de escolha da
família seria o direito da criança à educação, explica Maria Teresa Eglér
Mantoan, coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e
Diferença da Unicamp. Ela ressalta que uma convenção internacional de 2006
determinou a obrigação de educação inclusiva e que, no Brasil, esse texto se
tornou um decreto-lei em 2009, o que, destaca ela, significa que foi
incorporado à Constituição:
— O direito aqui é do aluno, e é indisponível. Pai
nenhum pode segregar o filho. E escola especial não caracteriza o que é uma
escola, o lugar de formação de uma geração e de desenvolvimento de cidadania.
Esse direito não pode retroceder. Hoje, 76% das crianças com deficiência já
estão em escolas comuns no país.
Outro argumento usado por defensores da educação
especial é que o tempo de aprendizado de alunos com deficiência seria
diferente, diz a coordenadora de Educação da Federação Nacional das Apaes,
Fabiana Oliveira:
— Além disso, promovemos convívio com crianças sem
deficiência, em ações como festivais.
A educadora da Unicamp Maria Teresa Mantoan rebate:
— O tempo de aprendizado é diferente mesmo entre os
alunos sem deficiência.
Além disso, se as escolas regulares nunca tiverem
de lidar com situações reais envolvendo alunos com deficiência, nunca vão
realmente se preparar para eles, sublinha a educadora:
— Esse debate é uma questão política. Está havendo
pressão de instituições como as Apaes, que não querem perder verba.
Perguntada sobre o suposto lobby, Aracy defende-se:
— Fazemos a parte que o governo deixa de fazer.
Atendemos a 250 mil crianças e adolescentes — diz Aracy, afirmando, porém, que
não procede o rumor que chegou a correr de que as Apaes sofreriam o risco de
fechar.
Mãe de Rafael, de 8 anos, portador de síndrome de
Down, Carla Codeço, arquiteta e uma das autoras de um blog sobre inclusão, o
Paratodos, preferiu a escola regular para o filho, aluno da Escola Parque, no
Rio:
— Na creche, ele entrou ainda sem andar, mas, só de
ver as outras crianças do mesmo tamanho andando, em um mês já começou a andar
também. Numa turma comum, a criança está de igual para igual com os outros. E,
para as crianças sem deficiência, também é importante esse convívio com a
diferença. Quando forem arquitetos, vão pensar em rampas; quando forem médicos,
vão saber lidar melhor com as famílias que têm esse tipo de caso. (Alessandra
Duarte)
Fonte: http://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/educadora-defende-convivio-de-alunos-com-deficiencia-em-turma-comum-11005109#ixzz4YHaVZLT4