Defino o capacitismo como a concepção presente no social que
tende a pensar as pessoas com deficiência como não iguais, menos humanas, menos
aptas ou não capazes para gerir a próprias vidas, sem autonomia, dependentes,
desamparadas, assexuadas, condenadas a uma vida eternamente economicamente
dependentes, não aceitáveis em suas imagens sociais, menos humanas.
São algumas características: há sempre uma boa dose de
paternalismo, que tolera que os elementos dominantes de uma sociedade expressem
profundo e sincera simpatia pelos membros com deficiência, enquanto, ao mesmo
tempo, sustente-os numa acondicionamento de subordinação social e econômica.
Os dominantes serão os protetores, guias, líderes, modelos, e
intermediários para pessoas com deficiência. Estes últimos, os desamparados,
dependentes, assexuadas, economicamente improdutivos, fisicamente limitados,
imaturos emocionalmente, e aceitáveis apenas quando eles são discretos (Hahn,
1986, p.130).
Segundo Fiona Kumari Campbell o capacitismo, que está para o
segmento da pessoa com deficiência o que o racismo significa para os afrodescendentes
ou o machismo para as mulheres, pode ser associado com a produção de poder, e
se relaciona com a temática do corpo e por uma ideia padrão corporal perfeita.
É um neologismo que sugere um afastamento da capacidade, da aptidão, pela
deficiência. A tradução para o português, segundo Anahi Guedes Mello, deve
seguir o espanhol e o português de Portugal orientar-se para o capacitismo.
O Trabalho de Jones (1972, 172) adicionou uma informação
importante, a respeito do racismo argumentando que as relações baseadas na raça
são estruturadas: «Com o apoio intencional ou não intencional de toda a
cultura”. Isto é fundamental para os estudos do capacitismo, pois, como Richard
Delgado (2000) denunciou a situação dos membros de minorias raciais é
semelhante ao que vivem as pessoas com deficiência. O mesmo foi discutido por
Adriana Dias em Raça e Deficiência: quando o feminino é marcado por
discriminações múltiplas, o racismo se soma ao capacitismo para gerar
isolamentos vários, estigmas sobrepostos.
“O sofrimento, agravado por uma consciência de incurabilidade
tende a deixar o indivíduo ainda mais consciente de sua solidão”. (Cox 1948,
apud Delgado 2000, 132) Neste sentido, o capacitismo é profundamente subliminar
e embutido dentro da produção simbólica social.
Faz parte de uma ‘grande narrativa’, uma concepção
universalizada e sistematizada de opressão sobre o conceito da deficiência.
Campbell (2001, 44) sustentou que capacitismo (ableism), é: “uma rede de
crenças, processos e práticas que produza um tipo particular de compreensão de
si e do corpo (o padrão corporal), que se projeta como o perfeito, o que seria
o típico da espécie e, portanto, essencial e totalmente humano. Deficiência é,
assim disseminada como um estado diminuído do ser humano. Essa crença deve ser
combatida.
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