Ally e Ryan

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quinta-feira, 7 de abril de 2011

Orientação e mobilidade da pessoa com deficiência visual

Orientação é o processo de utilizar os sentidos remanescentes para estabelecer a própria posição e o relacionamento com outros objetos significativos no meio ambiente. (WEISHALN, 1990)

Essa habilidade de compreender o ambiente é conquistada pelas pessoas com deficiência visual desde seu nascimento e vai evoluindo no decorrer de sua vida. Por isso, professor, você deve saber da necessidade de nova orientação, por parte da criança, toda vez que houver mudanças no espaço.

Tal orientação poderá durar instantes ou até semanas, dependendo da complexidade da situação. As crianças cegas, durante o processo de orientação, podem sentir dificuldades espaciais com relação aos quatro tipos de orientações a partir da consciência de sua localização. Os quatro tipos de orientações são:

 pontos fixos, quando está parado;

 pontos fixos, quando está em movimento;

 pontos em movimento, quando está parado;

 pontos em movimento, quando está em movimento. (PATHAS,1992)


Você deve ensinar ao seu aluno deficiente visual que o processo de orientação tem como princípio três questões básicas:

 Onde estou?

 Para onde quero ir? (Onde está o meu objetivo?)

 Como vou chegar ao local desejado?


Mas, para o aluno elaborar essas questões, ele deverá passar pelo processo que envolve as seguintes fases:

• percepção, captar as informações presentes no meio ambiente pelos canais sensoriais;

• análise, organização dos dados percebidos em graus variados de confiança, familiaridade, sensações e outros;

• seleção, escolha dos elementos mais importantes que satisfaçam as necessidades imediatas de orientação;

• planejamento, plano de ação, como posso chegar ao meu objetivo, com base nas fases anteriores;

Para, então, chegar à:


• execução, a mobilidade propriamente dita, realizar o plano de ação através da prática.


(WEISHALN, 1990) Todo o processo se dá de forma dinâmica e, caso haja mudanças dos objetivos iniciais, há a possibilidade de alteração.

Na orientação existem referenciais que facilitam a mobilidade da pessoa deficiente visual: pontos de referência, pistas, medição, pontos cardeais, autofamiliarização e "leitura de rotas".

WEISHALN (1990) define mobilidade como, a habilidade de locomover-se com segurança, eficiência e conforto no meio ambiente, através da utilização dos sentidos remanescentes.

Os sentidos remanescentes envolvem as percepções não visuais, como a audição, o tato (sistema háptico), o olfato, a cinestesia, a memória muscular e o sentido vestibular.

Para a pessoa cega se movimentar de um ponto para outro é preciso não apenas "ler" ou seguir rotas, mas estar alerta, orientada em relação ao seu destino, construindo, mesmo involuntariamente, um mapa mental da mudança.

Você, professor, pode estar utilizando plantas táteis durante a orientação de seu aluno para a mobilidade. A planta tátil pode ser confeccionada no alumínio, marcado por carretilha de costura, ou em cartolina, utilizando sucatas, materiais de diferentes texturas, cola plástica, fios colados e outros materiais que dêem relevo. Mas, não se esqueça, nessa planta é importante marcar o ponto de referência (onde eu estou). Quando a criança está nas primeiras séries é importante que, além de utilizar tais materiais, você deve fazer com que ela trace o caminho para sua exploração e pedir que reconstrua o espaço. Dessa forma, irá transferir as relações espaciais simples da sala de aula para uma maquete construída progressivamente, à medida que for descobrindo novos ambientes. Nessa atividade você poderá avaliar o grau de sua compreensão. É de extrema importância que o aluno vivencie o espaço para compreendê-lo: caso a sala de aula seja quadrada, a base da maquete deve ter a mesma forma. No caso da sala de aula, o ponto mais importante é a porta, depois a mesa do professor, a carteira do aluno deficiente visual, as demais carteiras e as janelas.

SENTIDO VESTIBULAR OU LABIRÍNTICO

O sentido vestibular provê informações sobre a posição vertical do corpo e dos componentes rotatórios e lineares dos movimentos sobre o eixo de uma volta em graus (ao dobrar uma esquina 90 graus) (LAMBERT, 1986).

Os movimentos para a direita ou para a esquerda exercem grande influência no equilíbrio e a pessoa deficiente visual precisa vivenciar situações desse tipo para não se desorientar ou desequilibrar-se. O professor e a família devem trabalhar juntos para desenvolverem essa habilidade na criança, aproveitando, sempre que possível, atividades contextualizadas e agradáveis para que a criança não apresente resistência para realizá-las.

Para desenvolver atividades visando a orientação e mobilidade é imprescindível que o professor conheça o desenvolvimento da criança.

Segundo VYGOTSKY, numa perspectiva da teoria sócio-histórica, faz-se necessário que o professor tenha claro e saiba fazer e explorar, durante sua prática, a relação entre o processo de aprendizagem e o desenvolvimento da criança.

Para VYGOTSKY, o desenvolvimento humano é em parte definido pelos processos de maturação do organismo, porém é a aprendizagem que possibilita o desabrochar de processos internos por meio de contato do homem com seu meio. Durante o desenvolvimento humano, os aspectos biológico e cultural se entrecruzam e se relacionam mutuamente, dando origem ao aspecto sócio-biológico. Portanto, a inserção sócio-cultural do bebê não é suficiente para o seu pleno desenvolvimento. Os elementos de natureza biológica contribuem para o processo de aprendizagem, porém, subordinados aos processos culturais.

Até os dois anos e meio os processos psicológicos do homem são elementares, suas ações, principalmente de ordem biológica, visam satisfazer suas necessidades imediatas. Exemplos:

O ato de sucção do bebê (ações reflexas); balançar o chocalho (reações automatizadas); fechar os olhos diante de um brinquedo que vem de encontro a sua face (processos de associação simples). VYGOTSKY afirma que os processos psicológicos superiores são de natureza sócio-histórica "artificial", que se desenvolve a partir dos processos psicológicos "naturais". Entretanto, a atividade psicológica superior não pode ser considerada como evolução biológica de uma aprendizagem social, da interiorização de significados sociais derivados da atividade cultural. Os processos psicológicos superiores são conquistados durante as realizações de experiências e participações em atividades compartilhadas com os demais dentro de uma determinada cultura.

No desenvolvimento do ser humano a aprendizagem ocupa o papel principal, especialmente com relação às funções psicológicas superiores, tipicamente humanas e são sobre essas funções que se desenvolvem as principais práticas escolares.

Vygotsky comenta que para o processo de ensino-aprendizagem ocorrer, nem sempre o professor deve estar presente. A presença do outro pode ser representada por meio de objetos, pela organização do espaço e significados no universo cultural do qual o aprendiz faz parte. No caso do deficiente visual é imprescindível a presença do mediador para estar ajudando-o no momento de sua leitura do contexto em que está inserido, já que sua visão está prejudicada.

Segundo SCHOLL (1993), a criança deficiente visual cresce e se desenvolve de forma semelhante àquelas que enxergam, devido ao crescimento ser sequencial e as etapas poderem ser identificadas. Porém, apresenta diferenças, cada criança se desenvolve de acordo com seu ritmo e potencialidades, apesar da limitação visual. Ainda assim, as semelhanças entre todas as crianças são maiores do que as diferenças.

É por meio da visão que a criança estabelece suas primeiras relações com o meio e percebe formas, tamanho, distância, posição e localização de objetos. A falta da visão poderá acarretar à criança grandes prejuízos se ela não for mediada em seu contato e interação com o mundo.

É importante que o professor saiba que se receber um aluno que nasceu cego ou perdeu sua visão prematuramente, até os 5 primeiros anos de vida, ela não conserva imagens visuais úteis para a aprendizagem - o que exige reorganização perceptiva que é tudo aquilo que percebemos pela visão e deve ser adquirido pelo tato, audição, olfato, sentido cinestésico e outros.

A criança cega se relaciona com o ambiente por outros canais sensoriais, tendo uma imagem diferente das pessoas que enxergam ou daquelas que perderam a visão após a formação de conceitos visuais. O professor deve mediar essa leitura do ambiente em que ela está inserida para que possa compreendê-lo e não deve esquecer que é impossível imaginar o que seja uma imagem apenas auditiva, tátil ou olfativa de um objeto ou situação, por mais que se esforce.


Quem enxerga possui a imagem visual daquele objeto ou situação que tenta imaginar.

Não é só na escola que se dá a aprendizagem. A língua oral é um exemplo disso, pois é adquirida e aprendida no meio social, sem nenhuma intenção para aprendizagem.

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