Por diversas vezes neste blog, comuniquei que estaria me pautando em alunos com TGD, que apresentam maiores prejuízos nas áreas de comunicação, compartilhamento social e flexibilidade intelectual, por entender que são estes que causam maior impacto e dificuldades na percepção de possibilidades pedagógicas no cotidiano escolar. No item sobre a comunicação, abordei a perspectiva da escola com alunos que não apresentam comunicação verbal ou não verbal.
Entretanto, cabe agora reafirmar que as competências apresentadas pelas crianças com TGD, nas áreas de prejuízo já conhecidas, são muito variadas. Isto está implicado diretamente na construção do trabalho em sala de aula, e consideramos importante tratar tais variações um pouco mais amplamente nesse item.
Se nos mantivermos inflexíveis mediante as diferenças de nossos alunos e esperarmos que simplesmente se adaptem às nossas estratégias em sala de aula, contribuiremos pouco para o desenvolvimento de novas competências em cada um deles. Se isto é uma realidade da prática pedagógica, com qualquer aluno, para efetivar a inclusão escolar daqueles que apresentam TGD, tal perspectiva torna-se ainda mais evidente e a transformação das práticas escolares passa a ser imprescindível. De nada adianta esperarmos que alunos com TGD, e com ausência de comunicação verbal e não verbal, possam nos mostrar, de imediato, sua hipótese em relação à lógica do código escrito. Da mesma forma, em nada poderá nos ajudar, e ao aluno com TGD, esperarmos reações comuns a outros alunos ao ingressarem na escola, se ele apresentar grande rigidez mental e nenhuma experiência anterior com o ambiente escolar.
Entre os alunos que chegam às escolas com o diagnóstico de Espectro Autista encontram-se, não poucas vezes, crianças que respondem muito rapidamente às intervenções em sala de aula, aderindo rapidamente às tarefas escolares e mostrando, com o decorrer do tempo, um desempenho bastante significativo nas atividades e avaliações realizadas na escola. Neste caso, costumam estar as crianças com Transtorno de Asperger, Autismo com alto funcionamento, entre outros. No entanto, mesmo com tais características de envolvimento nas atividades escolares, podem estar presentes manifestações como: pouco compartilhamento social e/ou interesse restrito; pautas estereotipadas, repetitivas e/ou pouco contextualizadas; pouco interesse em atender a solicitações em sala de aula, embora aptos a fazê-lo, entre outras.
Alunos com tais características requerem a atenção da escola para o desenvolvimento de competências importantes. Mas é recorrente que, mediante o desempenho acadêmico apresentado por eles, os professores não prestem a devida atenção às competências que estão por ser desenvolvidas, chegando, às vezes, a reforçar os prejuízos na área de compartilhamento social ou da comunicação. Isso se dá quando o aluno, ao preferir a informática à companhia dos colegas, seja dado acesso ao computador de forma isolada e em substituição aos momentos de convívio social, como o recreio. E também, ainda mais, quando se permite que a alimentação seja feita em separado dos colegas e que o aluno permaneça em atividades diferenciadas da turma, em momento e espaço distintos dos demais.
As observações anteriores não pretendem desqualificar as iniciativas de oferecer e garantir ao aluno o acesso aos seus interesses. Pelo contrário, compreendemos que, para os alunos com TGD, bem como para os demais, os interesses devem ser pauta da proposição de atividades. Apenas chamamos a atenção aqui para o fato de que estas iniciativas não podem ficar restritas ao aluno com TGD, evitando-se, entre outras coisas, que este aluno ocupe um lugar "autista" na escola. É importante oportunizar situações de interesse conciliadas com o envolvimento de outros alunos, propondo atividades em que o aluno com TGD necessite entrar em relação e troca com algum colega, evitando-se reforçar os prejuízos na área do compartilhamento social e oportunizando os desafios necessários para o desenvolvimento de habilidades neste campo.
Seguindo a mesma linha de raciocínio, podemos refletir sobre o trabalho em sala de aula com o aluno com TGD que apresenta prejuízos importantes na comunicação (ausência de comunicação e linguagem), compartilhamento social e flexibilidade mental. Se a criança apresenta essas características, será preciso que as intervenções pedagógicas se pautem inicialmente nos aspectos de ensino e aprendizagem pertinentes ao campo do desenvolvimento cognitivo relativo à familiarização com o ambiente, ao melhor domínio da rotina escolar, ao estabelecimento de vínculos e estratégias de comunicação/antecipação e à destinação de sentido à experiência no meio social da escola. É necessário que a criança consiga, aos poucos, prever a rotina escolar, ao mesmo tempo em que amplia sua flexibilidade mental frente aos acontecimentos não previstos da escola. Durante esse período inicial, os profissionais da escola precisam buscar um equilíbrio entre estratégias de acolhimento às necessidades desse aluno e a oferta da vivência do dia-a-dia da escola, sem efetuar grandes modificações que possam postergar o alcance destas competências por parte da criança.
É comum que aspectos básicos como permanecer em sala de aula, participar da refeição com os colegas, alimentar-se com autonomia, manifestar seus desejos e necessidades, demonstrar iniciativa de adesão aos rituais escolares (fila de entrada, seguir com a turma para a sala de aula...) não sejam exercidos facilmente desde os primeiros dias pelo aluno. Tais aspectos constituem os primeiros passos do desenvolvimento desta criança na escola e são, na maioria dos casos, conquistados com muito esforço e superação por parte da criança e de seus colegas e professores. Estas não são conquistas sem importância, pois há relatos de famílias em que, a partir deste desenvolvimento na escola, a criança conseguiu generalizar esses aprendizados, passando a participar de situações sociais na família, entre amigos e vizinhos, demonstrando grandes avanços no comportamento e interação.
Constitui fator facilitador do desenvolvimento de atitudes no interior da sala de aula, visando a iniciar intervenções pedagógicas formais, oferecer à criança com TGD referências de conduta e participação por meio de seus pares. Assim sendo, é importante a realização de atividades em dupla ou em grupo. Além disso, a disposição de carteiras de modo que permita à criança com TGD observar seus pares é mais eficaz do que a disposição da turma em fileiras. Quando a atividade assim o exigir, é importante que a criança esteja posicionada em local mais central entre os pares, permitindo-lhe a visualização dos colegas ao lado e à frente.
Durante as atividades em sala de aula, a atitude de dirigir-se ao aluno verbalmente é fundamental, tanto para a criança com TGD quanto para que as demais crianças possam identificá-la como um colega, de quem são esperadas as mesmas condutas. Esta identificação promove o desenvolvimento espontâneo de intervenções, por parte dos colegas, muito eficazes para referenciar a criança com TGD na sua conduta dentro da escola.
As estratégias sugeridas no item da comunicação podem ser utilizadas para o desenvolvimento do trabalho em sala de aula, fazendo-se as devidas adequações aos objetivos desse espaço e do tema em questão. Deve-se ficar atento à progressiva aquisição de flexibilidade mental por parte da criança com TGD, de modo a nos orientarmos na flexibilização de estratégias e de oportunidades de oferta de novos desafios cognitivos, e não incorrermos no risco de reter a criança em seu desenvolvimento.
O tempo necessário para que o aluno com TGD comece a fornecer respostas ao investimento pedagógico em sala de aula é muito variável de criança para criança. Também é variável a condição de envolvimento e execução nas tarefas escolares a cada momento da escolarização. Por outro lado, podem ocorrer respostas surpreendentes, demonstrando aquisições de conhecimento por parte deste aluno que a escola até então desconhecia.
Oi Ari,
ResponderExcluirGostei da abordagem do texto. Na maioria das vezes o "conteúdo" é o mais importante na escola, e nos esquecemos do princípio básico da instituição que é justamente o convívio social. Interesante saber como esse convívio afeta de forma positiva essa cça com TGD. Fica aí a lição para nós educadores e, por que não dizer, onde o convívio social saudável não é importante??
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ResponderExcluirOi Cris, a educação inclusiva nos proporciona outras visões educacionais que na educação regular não acontece. Costumo dizer aos professores aqui da Baixada que para algumas pessoas conviver socialmente é mais importante que assimilar conhecimento. beijos
ResponderExcluirAS VEZES FICO PENSANDO,A SOCIALIZAÇÃO DO ALUNO COM TGD
ResponderExcluirÉ MAIS IMPORTANTE QUE OS CONTEUDOS EM SI ,MAS SERA PORQUE QUE O ESTADO NA HORA DE COBRAR CONHECIMENTO DESSE ALUNO NAO LEVA EM CONSIDERAÇÃO ESSA SOCIALIZAÇÃO?