Ally e Ryan

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sábado, 12 de fevereiro de 2011

Folha de São Paulo - matéria sobre emprego para pessoa com deficiência

ANÁLISE

Vaga deve vir acompanhada de estrutura de trabalho adequada

JAIRO MARQUES
COLUNISTA DA FOLHA

Empregar pessoas com deficiência apenas de olho no peso que a multa pelo não cumprimento da Lei de Cotas terá no orçamento -e vai ter- está diretamente relacionado ao insucesso do objetivo maior da legislação: diminuir a exclusão social.

Colocar um cego com seu cão-guia em um ambiente de produção pode representar um ganho nas relações entre os profissionais, pelo convívio com a diversidade, mas pode ser um desastre se essa ação for mal preparada.

Caso não haja condições reais para que o deficiente desempenhe suas atividades -com softwares específicos, facilidades arquitetônicas, respeito às necessidades individuais-, muito provavelmente a estatística irá ganhar mais um desistente da vaga ou um desinteressado.
Não dá para produzir sem conseguir usar o banheiro que não foi adaptado, sendo visto como um "estranho no ninho" ou "café com leite".

As melhores experiências de inserção têm sido de empresas que não repetem o discurso da "falta de qualificação e interesse" desses profissionais.

Em vez disso, fomentam programas de treinamento e sabem onde encontrar as pessoas de que precisam.

Parte importante do ônus da ausência de profissionais com deficiência nos postos de trabalho precisa ser posta na conta do poder público.

Se o transporte coletivo não atende nem o cidadão "andante", ele tende a maltratar um bocado o cadeirante. Sem calçadas decentes, não há como sair à rua. Nem todo mundo está disposto e tem condições de enfrentar essa situação.

Até regras de "proteção social" pesam. Diante do trauma de um acidente que deixa como sequela a paraplegia, por exemplo, o receio do futuro pode empurrar o cidadão para uma aposentadoria precoce por invalidez.

Uma vez feita a opção, fica proibido ao deficiente voltar ao mercado com carteira de trabalho assinada. Diante dessa rigidez e sem previsão de processos de readaptação intermediários, a inatividade acaba sendo mais forte entre o certo e o duvidoso.

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