Ally e Ryan

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quarta-feira, 14 de julho de 2010

PRINCÍPIOS EDUCACIONAIS DE VYGOTSKY E AS BORBOLETAS DE ZAGORSKI

Borboletas de Zagorsk [BBC, 1992]: Parte IV



Os Princípios da Escola de Zagorski

O efeito fundamental que encontramos no desenvolvimento agravado pela deficiência é o duplo papel que desempenha a insuficiência orgânica no processo desse desenvolvimento e da formação da personalidade da criança. Por um lado, à deficiência é o oposto: a limitação, a debilidade, a diminuição do desenvolvimento, e, por outro lado, precisamente porque cria dificuldade, estimula um avanço elevado e intensificado. A tese central da deficiência atual é a seguinte: toda deficiência cria estímulos para elaborar uma compensação. Por isso o estudo dinâmico da criança deficiente não pode limitar-se a determinar o nível de gravidade da deficiência, mas que inclui obrigatoriamente a consideração dos processos compensatórios, ou substitutivos, sobre estruturados e nivelados no desenvolvimento e na conduta da criança. (VYGOTSKY,1997, p. 14).

Iniciamos com a citação de Vygotsky sobre a importância de buscar instrumentos adaptativos que venham a contribuir com a pessoa deficiente a na superação das dificuldades impostas pela própria deficiência. Novas formas de comunicação ocorrem em Zagorski com a linguagem manual, na busca da superação dos problemas orgânicos. Como os alunos cegos e surdos não têm como fazerem uso da linguagem pelos meios convencionais, são habilitados na linguagem alternativa, que lhes permite comunicar-se com o mundo.

O dia em Zagorski começa com atividades de comunicação por meio do alfabeto manual com uma só mão. Aos alunos que apresentam resíduos visuais, a sinalização é realizada no ar a uma pequena distância. Para os alunos com cegueira total, a atividade é desenvolvida unicamente por meio de toque na mão da pessoa, ou seja, a linguagem própria dos surdoscegos, que são movimentos de LIBRAS na mão do aluno para que o mesmo possa sentir os movimentos e ler as palavras. Essa comunicação não é apenas utilizada no interior de Zagorski, há um trabalho desenvolvido pelos professores do Instituto que envolve atividades extra-classe com passeios e horários de assembléia onde os alunos trocam informações.

A comunicação dentro do lar é poder, é interagir com o mundo, visto que ela permite revelar às pessoas os nossos sentimentos e os conhecimentos adquiridos em nossas experiências. Assim, identificamos o primeiro princípio de Vygotsky empregado no Lar de Zagorski, os alunos aprendem, desde sua chegada ao lar, a linguagem manual para que os hábitos de comunicação ocorram constantemente. A linguagem manual se faz por treinamento em que a criança aprende, por meio da imitação dos gestos dos adultos, os movimentos necessários a comunicação.

Conforme os estudos de Luria (LURIA, A. R. Pensamento e linguagem: as últimas conferências de Luria. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986. p.202):

Graças à linguagem, o sujeito pode penetrar na profundidade das coisas, sair dos limites da impressão imediata, organizar seu comportamento dirigido a uma finalidade, descobrir os enlaces e as relações complexas que são inatingíveis para a percepção imediata, transmitir a informação a outro homem, o que constitui um poderoso estímulo para o desenvolvimento mental, pela transmissão acumulada ao longo de muitas gerações.

Luria (1986) considera a linguagem e sua função reguladora como a capacidade de influenciar e modificar o comportamento dos homens. Uma criança ou uma pessoa com surdez que faz uso da linguagem acompanhada de gestos indicadores, que norteiam sua ação no meio ambiente, reorganiza a atenção e separa um objeto desejado dos outros objetos. A consequência dessa primeira fase da linguagem é o desenvolvimento da atenção da criança que deixa de se subordinar aos modelos apresentados pelo adulto e começa a organizar seu pensamento sobre uma base social.
Concordamos com o autor sobre a estruturação do pensamento com base na linguagem e acreditamos que o mesmo processo ocorre com os alunos do Lar Zagorski ao iniciarem a aprendizagem da linguagem manual.

A nossa experiência com alunos inseridos na Linguagem Brasileira de Sinais (LIBRAS) mostra concordância com as ideias de Luria (1986) sobre a importância da linguagem para estruturar o pensamento por meio da ajuda de outra pessoa mais experiente. Vygotsky , em seus estudos sobre o pensamento e a linguagem, defende a tese que a relação do homem com o mundo não é uma relação direta, mas uma relação mediada por meio de instrumentos e signos.

Outro princípio defendido por Vygotsky está na aprendizagem da criança com deficiência. De acordo com o estudioso, ela segue os mesmos caminhos da criança sem deficiência e, até mesmo as crianças mais graves podem aprender, os conteúdos acadêmicos e sociais, desde que recebam o ensino adequado às suas necessidades. Seguindo a fala do próprio documentário, “a existência de um plano social que irá determinar a qualidade do desenvolvimento e a intervenção pedagógica interferindo sobre o desenvolvimento”.

Em resposta à questão analisada, é possível compreender, pelo posicionamento que o ensino tem papel fundamental no desenvolvimento do psiquismo do indivíduo com deficiência. Por isso, ele deve ser enfocado individual e coletivamente, feitas mediações diretas e indiretas e diferenciadas por metodologias adequadas e conteúdos organizados, promovidos por meio do processo avaliativo diagnóstico dinâmico e de caráter científico. O ensino e a mediação só têm um caminho a seguir: ter finalidade de ensino e orientar o aluno a desenvolver-se cognitivamente por meio do pensar sobre: Como? Por quê? Para quê? devemos aprender determinado conteúdo.

Para atender ao ensino conforme a Teoria Histórico-Cultural defende, encontramos outro princípio apresentado no documentário que é a formação de professores. De acordo com o mesmo, estes ocupam uma posição especial na então União Soviética, sendo treinados em defectologia e disciplinas acadêmicas. Recebem 25% a mais que os professores que atendem a alunos de ensino básico e estão capacitados a trabalharem na teoria de Vygotsky para ajudarem seus alunos a sobreviverem no mundo exterior.

Entendemos que a formação desses professores vincula-se à prática pedagógica em direção a entender o homem como um ser social e histórico, que transforma o meio e é por ele transformado. Este estabelece relações com o mundo, servindo-se de mediações presentes nele e no seu grupo sociocultural. O homem constrói sua individualidade a partir da interação com o outro e na escola o professor tem a função de ensinar, ensinar conteúdos voltados aos conceitos científicos.

DEFECTOLOGIA - Campo de estudo que se estuda as pessoas que apresentam algum tipo de “defeito” – aqueles que não se enquadram nos parâmetros da normalidade. Seja sob uma condição física, seja sob uma condição psicológica.

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