Recebi ontem um email da minha amiga do coração Rosane de Curitiba que achei tão complexo que decidi responder publicamente aqui no blog. Transcrevo abaixo parte do email e minha resposta:
“Querido Ari, já nos conhecemos há mais de 10 anos o que me deixa a vontade para perguntar o que marcou mais sua vida escolar sendo portador de uma doença progressiva?”
Rosane, sua pergunta e o complemento de seu email me fizeram voltar no tempo e refazer alguns caminhos. Veja, você que é uma pesquisadora dedicada aos estudos da deficiência sabe muito bem que quando a pessoa é portadora de uma doença progressiva, como a Amiotrofia Espinhal, tipo III ou outra, ela tem dois caminhos a percorrer: ou ela procura viver se adaptando a doença ou ela esquece a vida e se dedica somente a doença. Sempre em minha vida procurei viver, mesmo sabendo que tinha uma doença marcante.
A minha infância não foi marcada pela Amiotrofia, o que mais me marcou quando criança foram o preconceito da sociedade e a discriminação sofrida na pele e no sentimento. Quando ingressei na escola não foi a Amiotrofia que me impossibilitou de estudar, o que me impediu foi a ação da diretora e das professoras que não me queriam em sala de aula. Ou seja, o fato de andar com dificuldade, de escrever devagar não me deixaram sequelas, entretanto, o fato de ter sido isolado, separado do grupo foi com tanta violência que até hoje, passados mais de 40 anos lembro-me de cada dia daquele vivido. Enquanto outras crianças brincavam no recreio eu era obrigado a ficar em sala de aula para não me relacionar com elas. Depois já no Ginásio (atual Ensino Fundamental II) eu e minha amiga Flávia ficávamos numa sala isolados de todos porque éramos alunos da AACD.
O preconceito é a pior doença da humanidade. O preconceito mata, mutila, destrói o ser humano. E o pior do preconceito é que ele não será curado pelas pesquisas em células-tronco e nem vai haver nenhuma droga capaz de minimizar seus efeitos danosos. Para curar o preconceito basta o respeito à diversidade humana e o amor entre as pessoas, valores tão simples de serem adotados.
Por isso Rosane que hoje não admito nenhum tipo de discriminação, e quando meu direito é violado vou buscar na justiça o equilíbrio da relação.
Adoro trabalhar com inclusão porque sei da sua importância na vida de uma criança com deficiência.
É isso amiga.
Meu nome é Ari Vieira, sou especializado em educação para pessoas com deficiência pela PUCSP. Quero ajudar os docentes a debater o tema inclusão das pessoas com deficiência e/ou mobilidade reduzida nas escolas. O blog será também uma importante ferramenta de consulta para quem for implantar a temática da inclusão na mobilidade urbana.
Ally e Ryan
quinta-feira, 4 de março de 2010
Email de uma amiga
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