Descrição da foto: esse é o Laércio Sant'Ana, com terno e gravata; camisa azul, elegantemente vestido; rosto branco...
O universo da pessoa com deficiência visual sempre foi um mistério para mim. Ficava imaginando como eles poderiam fazer uma travessia sem ajuda, como respondiam e- mails, como se relacionavam no trabalho, na escola e na vida cotidiana.
Há alguns anos venho trabalhando em inclusão, como tenho uma deficiência, sofri na pele a questão do preconceito, porém, o fato de estudar com afinco foi a ação mais importante em minha vida para sair do mundo em que me encontrava.
A pouco tempo tive o prazer de conhecer virtualmente uma pessoa cega, funcionário da PRODAM-SP. Tudo aconteceu porque a CET/CETET tem um novo departamento de Ensino a Distância, e como queremos que nossos métodos sejam inclusivos ficamos com dificuldades no que tange a pessoa com deficiência visual. Fiz contato com um amigo meu, cego também que me indicou o Laércio Sant’Anna. Ele foi para uma reunião em nosso espaço, ciceroneado pela Deisy Paula, minha amiga e parceira da inclusão, e após um sucesso nas discussões, me enchi de coragem e o convidei para ser meu entrevistado do blog. A entrevista foi muito bem articulada e trocamos vários e-mails, no final o Laércio me concedeu uma verdadeira aula de inclusão da pessoa com deficiência visual, evidente que vou compartilhar com vocês. Dividi a entrevista em três partes, as respostas dele sempre vão estar em azul e alguns comentários que escrevi, colocarei em vermelho, não mudei absolutamente nada do que ele respondeu. Quero agradecê-lo publicamente pela entrevista e pela aula oferecida. Sigam abaixo a entrevista de Laércio Sant’Anna e peço a todos os educadores que reflitam mais sobre suas posições no sentido de resistir ao processo de inclusão das pessoas com deficiência em suas atividades:
BLOG - Laércio podemos iniciar a entrevista com você nos contando um pouco sobre sua vida, como adquiriu a deficiência visual, seu começo na escola, trabalho,namoro, casamento, filhos.
Laércio Sant’Anna – Eu já nasci cego. Estudei no Instituto de cegos Padre Chico em São Paulo até a 8ª série. Fiz o colegial em escola comum, na cidade de Mauá, onde morei até me casar.
Ainda em Mauá fiz violão clássico no conservatório daquela cidade, onde dei aula por 12 anos.
Antes de trabalhar na área de informática, fui músico na noite, toquei em estúdios de gravação e sou compositor.
Iniciei na informática em 1988 na Prodam, onde estou até hoje. Comecei minha carreira como programador de computadores, passando pela análise de programação e hoje análise de sistemas.
Fiz faculdade de administração de empresas.
Casei-me no ano de 2000 e não tenho filhos.
BLOG - Na escola qual foi sua maior dificuldade?
Laércio - Por ser uma escola voltada para cegos, não enfrentávamos dificuldades, afinal, tudo era adequado a uma pessoa cega.
Comentário – li esta resposta do Laércio diversas vezes e pensei que se realmente seria mais adequado estudar numa escola assim. No entanto, nossa sociedade deve buscar na diversidade sua real aproximação. Se pessoas sem deficiência estudam em escolas regulares, se cegos ou surdos estudarem em escolas especiais, que tipo de sociedade iremos construir? Fiz outra pergunta complementar a esta ao Laércio e a resposta dele foi na direção da inclusão, leiam:
BLOG - Você acha que uma pessoa cega deve estudar numa escola assim ou ela deve ir para uma escola regular e incentivar à escola a se modelar na inclusão? Ou seja, a escola deve estar preparada para receber qualquer criança com deficiência?
Laércio - Eu penso que o ideal é que as escolas se adaptem para receber todos os tipos de alunos, tenham ou não alguma deficiência. A escola voltada para o ensino de uma pessoa cega, por exemplo, obviamente oferece condições melhores para o aprendizado do aluno, em contra partida, tira dele o convívio com a sociedade, o que também é uma perda. Desse modo, a única forma de se ter tudo é as escolas estarem preparadas para ensinar a todos. O problema é que isso é, em minha opinião, quase utópico...
O poema abaixo sempre foi motivo para me empurrar para frente, acredito muito que ainda vamos ter uma sociedade perto do ideal, basta seguir os passos da utopia:
"A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar".
Eduardo Galeano
BLOG - Antes de ingressar na PRODAM, você teve outra experiência profissional?
Laércio - Como citei acima, fui músico. Fui não, sou, afinal, acredito que, embora não exerça mais essa atividade profissionalmente, quem já foi músico, não deixa de ser mais.
Hoje participo de um grupo de música raiz(Guyrá) http://www.guyra.com.br .
OBS: a entrevista continua amanhã.
Há alguns anos venho trabalhando em inclusão, como tenho uma deficiência, sofri na pele a questão do preconceito, porém, o fato de estudar com afinco foi a ação mais importante em minha vida para sair do mundo em que me encontrava.
A pouco tempo tive o prazer de conhecer virtualmente uma pessoa cega, funcionário da PRODAM-SP. Tudo aconteceu porque a CET/CETET tem um novo departamento de Ensino a Distância, e como queremos que nossos métodos sejam inclusivos ficamos com dificuldades no que tange a pessoa com deficiência visual. Fiz contato com um amigo meu, cego também que me indicou o Laércio Sant’Anna. Ele foi para uma reunião em nosso espaço, ciceroneado pela Deisy Paula, minha amiga e parceira da inclusão, e após um sucesso nas discussões, me enchi de coragem e o convidei para ser meu entrevistado do blog. A entrevista foi muito bem articulada e trocamos vários e-mails, no final o Laércio me concedeu uma verdadeira aula de inclusão da pessoa com deficiência visual, evidente que vou compartilhar com vocês. Dividi a entrevista em três partes, as respostas dele sempre vão estar em azul e alguns comentários que escrevi, colocarei em vermelho, não mudei absolutamente nada do que ele respondeu. Quero agradecê-lo publicamente pela entrevista e pela aula oferecida. Sigam abaixo a entrevista de Laércio Sant’Anna e peço a todos os educadores que reflitam mais sobre suas posições no sentido de resistir ao processo de inclusão das pessoas com deficiência em suas atividades:
BLOG - Laércio podemos iniciar a entrevista com você nos contando um pouco sobre sua vida, como adquiriu a deficiência visual, seu começo na escola, trabalho,namoro, casamento, filhos.
Laércio Sant’Anna – Eu já nasci cego. Estudei no Instituto de cegos Padre Chico em São Paulo até a 8ª série. Fiz o colegial em escola comum, na cidade de Mauá, onde morei até me casar.
Ainda em Mauá fiz violão clássico no conservatório daquela cidade, onde dei aula por 12 anos.
Antes de trabalhar na área de informática, fui músico na noite, toquei em estúdios de gravação e sou compositor.
Iniciei na informática em 1988 na Prodam, onde estou até hoje. Comecei minha carreira como programador de computadores, passando pela análise de programação e hoje análise de sistemas.
Fiz faculdade de administração de empresas.
Casei-me no ano de 2000 e não tenho filhos.
BLOG - Na escola qual foi sua maior dificuldade?
Laércio - Por ser uma escola voltada para cegos, não enfrentávamos dificuldades, afinal, tudo era adequado a uma pessoa cega.
Comentário – li esta resposta do Laércio diversas vezes e pensei que se realmente seria mais adequado estudar numa escola assim. No entanto, nossa sociedade deve buscar na diversidade sua real aproximação. Se pessoas sem deficiência estudam em escolas regulares, se cegos ou surdos estudarem em escolas especiais, que tipo de sociedade iremos construir? Fiz outra pergunta complementar a esta ao Laércio e a resposta dele foi na direção da inclusão, leiam:
BLOG - Você acha que uma pessoa cega deve estudar numa escola assim ou ela deve ir para uma escola regular e incentivar à escola a se modelar na inclusão? Ou seja, a escola deve estar preparada para receber qualquer criança com deficiência?
Laércio - Eu penso que o ideal é que as escolas se adaptem para receber todos os tipos de alunos, tenham ou não alguma deficiência. A escola voltada para o ensino de uma pessoa cega, por exemplo, obviamente oferece condições melhores para o aprendizado do aluno, em contra partida, tira dele o convívio com a sociedade, o que também é uma perda. Desse modo, a única forma de se ter tudo é as escolas estarem preparadas para ensinar a todos. O problema é que isso é, em minha opinião, quase utópico...
O poema abaixo sempre foi motivo para me empurrar para frente, acredito muito que ainda vamos ter uma sociedade perto do ideal, basta seguir os passos da utopia:
"A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar".
Eduardo Galeano
BLOG - Antes de ingressar na PRODAM, você teve outra experiência profissional?
Laércio - Como citei acima, fui músico. Fui não, sou, afinal, acredito que, embora não exerça mais essa atividade profissionalmente, quem já foi músico, não deixa de ser mais.
Hoje participo de um grupo de música raiz(Guyrá) http://www.guyra.com.br .
OBS: a entrevista continua amanhã.
Bom dia.... amei o começo da entrevista, dá vontade de saber mais....aguardo ansiosamente a segunda parte!!! E fiquei curiosa para escutar o nosso músico....rsssss
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