Ally e Ryan

Ally e Ryan

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Brincar para todos

Depoimento de uma mãe

Se para toda criança a brincadeira é muito importante, para a criança com deficiência visual ela é fundamental. Lara, minha filha caçula, ainda bebê ficou cega, o que imprimiu novo rumo à minha vida.

A cegueira era um campo novo para mim e conhecê-la passou a ser a prioridade naquele momento. Precisava entender um mundo sem visão, em que os sentidos do tato, audição, olfato e paladar predominavam.

Procurar uma forma de me comunicar com Lara, ajudando-a a se desenvolver era urgente e eu não podia perder tempo. O que fazer?

Como nada sabia sobre o assunto, comecei do zero, buscando um caminho para iniciar de alguma forma nossa comunicação. No início usei somente a intuição, mas depois fui aprendendo com leituras, estudando, perguntando. Procurava brinquedos e inventava brincadeiras, conversávamos, explicava-lhe tudo o que havia e acontecia na casa para que pudesse participar.

Dessa forma ela foi se desenvolvendo, fomos nos integrando, vencendo as dificuldades e aprendendo com nossa convivência.

As brincadeiras com Lara, as nossas conversas, o contato corporal e sua participação na vida familiar me ajudaram a encontrar um caminho.

Com Lara, aprendi muito sobre a educação da criança com deficiência visual. E as outras crianças, com as quais tenho convivido, vêm aumentando, dia após dia, meu conhecimento e enriquecendo minha experiência.

Percebi que a convivência tem de ser muito alegre, cheia de otimismo e descontração e passei a acreditar na grande importância do brincar para o desenvolvimento infantil.

Comprovei como é imprescindível a interação e a participação da criança com deficiência visual na vida familiar, na escola, na comunidade e como isso é facilitado pelos brinquedos e brincadeiras.

Desde os primeiros anos em que atuei com as crianças, constatei a inexistência de brinquedos que pudessem ser percebidos pelos outros sentidos, que não a visão, e que possibilitassem uma aprendizagem significativa. Que falta faziam esses brinquedos! Foi assim que, a partir das brincadeiras com as crianças e, mais ainda, verificando suas necessidades, comecei a adaptar brinquedos e descobrir materiais que facilitavam a aquisição de determinados conceitos e habilidades, que ajudavam a criança a conhecer seu próprio corpo, ter contato com os objetos do ambiente, que melhoravam sua eficiência visual, desenvolviam os sentidos e a ajudavam a aprender braille.

Assim, comecei a desenvolver brinquedos e hoje são mais de cem e eles estão todos neste manual! Nesse processo, sempre tive como meta principal proporcionar alegria e diversão a todas as crianças e favorecer sua participação na vida familiar e na comunidade.

Mara O. Campos Siaulys
Revista do MEC

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