Ally e Ryan

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quinta-feira, 20 de outubro de 2011

25 mitos sobre gagueira -2


8. Mito: Geralmente tenho dificuldade para dizer meu nome e meu número de telefone quando as pessoas solicitam. Entretanto, consigo dizê-los fluentemente se estou sozinho. Isso é uma evidência de que a gagueira é psicológica.

Realidade: Este efeito pode ser explicado por três fatores. Primeiro, a gagueira é um distúrbio de fala espontânea, isso quer dizer que ela tende a se manifestar com maior intensidade quando a fala é utilizada de maneira proposicional, isto é, quando a fala de fato tem finalidade prática. Falar uma expressão fora de contexto (quando se está sozinho, por exemplo) diminui a proposicionalidade daquela expressão, fazendo com que a gagueira também diminua. Segundo, no contexto real, existe uma pressão de tempo natural, ou seja, a expressão deve ser proferida no tempo adequado. Lembrando que a dificuldade de temporalização é justamente a maior dificuldade das pessoas que gaguejam, não é de se espantar que a dificuldade aumente quando a pressão de tempo está presente. Terceiro, se a pessoa reagir negativamente frente à antecipação da ocorrência da gagueira, a gagueira também terá maior probabilidade de ocorrer devido à ativação da resposta de congelamento, que faz com que o corpo tenda a paralisar, alterando assim a produção da fala. É bom lembrar que muitos outros distúrbios oscilam de acordo com a situação (por exemplo: Síndrome de Tourette, disfonia espasmódica, doença de Parkinson), não sendo esta uma característica exclusiva da gagueira.

9. Mito: Se eu não gaguejasse, minha vida seria perfeita e eu conseguiria realizar todos os meus sonhos.

Realidade: A gagueira de origem hereditária parece envolver níveis elevados do neurotransmissor dopamina e um funcionamento atípico de receptores dopaminérgicos em determinadas áreas do cérebro. O excesso de atividade dopaminérgica está relacionado a dificuldades na automatização de movimentos (como os de fala, gerando a gagueira), mas também está relacionado a um maior desempenho intelectual, maior capacidade de atenção e menor tendência à hiperatividade e impulsividade. A gagueira por lesão neurológica envolve dano físico ou bioquímico aos núcleos da base, estando relacionada a menor capacidade de atenção e maior tendência à hiperatividade e impulsividade. Portanto, se você não gaguejasse, você não seria quem é; sua vida e seus problemas seriam outros.

10. Mito: Pessoas que gaguejam são menos inteligentes.

Realidade: Não há relação de causa ou conseqüência entre gagueira e inteligência, ou seja, não é a falta de inteligência que causa a gagueira e nem a gagueira deixa a pessoa menos inteligente. Algumas pessoas com gagueira optam por expressar menos suas opiniões oralmente; eventualmente esta atitude pode dar a impressão para o interlocutor de que a pessoa é menos inteligente, mas este geralmente não é o caso.

11. Mito: A gagueira está mais presente em sociedades que estimulam a competição e que cobram melhor desempenho do indivíduo.

Realidade: A gagueira é um distúrbio que parece afetar igualmente todas as classes sociais, etnias, sociedades e culturas - desde comunidades indígenas da América do Sul ou do Norte, até executivos de Tóquio e Wall Street.

12. Mito: A criança gagueja para chamar a atenção dos pais.

Realidade: A gagueira não é um comportamento voluntário. Portanto, a criança não gagueja porque quer ou para chamar a atenção dos pais.

13. Mito: A criança começou a gaguejar depois do nascimento do irmão, porque ficou com ciúmes dele.

Realidade: A aparente relação causal entre o início da gagueira e o nascimento de um irmão mais novo não passa de mero acaso. O freqüente intervalo de 2-3 anos entre o nascimento de dois irmãos é a chave de toda a explicação. A gagueira inicia geralmente por volta dos 2-3 anos em razão de uma fase natural de desenvolvimento das estruturas cerebrais responsáveis pela automatização da fala (os núcleos da base). Esse período coincide com a diferença de idade que é mais comum entre dois irmãos. Ou seja, devido ao fato acidental de que ambos, o surgimento da gagueira e a diferença mais provável de idade entre irmãos, estejam em torno de 2-3 anos, há uma grande probabilidade de que uma criança comece a gaguejar próximo ao nascimento do seu irmão.

14. Mito: Pais de crianças que gaguejam são os principais responsáveis pelo distúrbio do filho, pois a gagueira resultaria de uma educação repressora e recriminadora.

Realidade: A gagueira é um distúrbio neurobiológico cuja manifestação, na grande maioria das vezes, acontece à revelia de qualquer comportamento dos pais.

- Quando a gagueira ocorre devido à herança genética, significa que a criança possui genes que a predispõem ao distúrbio. Como os genes são determinados no momento da fecundação, os pais não podem escolher os genes que o filho irá receber. Por outro lado, sabe-se que o ambiente influencia a expressão genética. Desta forma, propiciar que a criança se desenvolva em ambientes (familiar, escolar, social) que favoreçam o adequado desenvolvimento da linguagem pode ser considerado como um fator de proteção.

- Quando a gagueira ocorre devido à lesão neurológica, geralmente a lesão foi causada por algum acidente em que a criança bateu a cabeça (acidentes domésticos, esportivos ou automobilísticos). Crianças entre 0 e 4 anos e adolescentes entre 15 e 19 anos são os mais propensos a sofrer trauma de crânio. O que os pais podem fazer é tentar evitar a ocorrência destes acidentes, tomando as precauções necessárias.

Embora os pais praticamente não possam evitar o início da gagueira, podem evitar que ela se agrave e se torne crônica. E é justamente em relação a estes aspectos que atitudes esclarecidas por parte dos pais são importantes. (continua amanhã)

Autores: Sandra Merlo e Hugo Silva.

Revisão: Ignês Maia Ribeiro.

FONTE: Instituto Brasileiro de Fluência

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