A cada ano estima-se que mais de 800 mil pessoas perdem a vida em acidentes de trânsito no mundo. No Brasil, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde - OMS, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA e da Associação Nacional de Transportes Públicos – ANTP, são 30 mil mortes por ano no trânsito e aproximadamente 300 mil pessoas feridas. O setor econômico é diretamente afetado, uma vez que o custo dos acidentes é demasiadamente alto, se considerarmos a frágil economia dos países em desenvolvimento e a grande incidência de acidentes. A maioria destes acidentes envolve os usuários mais vulneráveis: pedestres, ciclistas e motociclistas. Mais de 50% das mortes no trânsito são causadas por atropelamentos que no Brasil, ocorrem a cada 7 minutos (DENATRAN).
A sociedade está se tornando cada dia mais urbana. A proporção entre a população que vive em áreas urbanas e a população total brasileira, ou seja, a taxa de urbanização no país, é de 83,5%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) da PNAD, 2008. E, neste contexto, o automóvel apresenta-se como modo de transporte dominante na organização do espaço urbano, e em consequência, na prioridade dos órgãos gestores em relação à mobilidade urbana no Brasil, que obedece à lógica de gestão, centrada quase que exclusivamente nesse único modo de transporte, trazendo efeitos danosos para os cidadãos no que tange à qualidade de vida.
Segundo estudos de Eduardo Vasconcellos (2007) dos 204 milhões de deslocamentos por dia nas cidades brasileiras, mais da metade destes, 51% correspondem a viagens a pé ou feitas de bicicletas, e 29% foram feitas por transporte público. Isso mostra que apenas 20% da população utiliza automóveis ou motocicletas para se deslocarem. A priorização desse modal provoca, entre outros fatores, desequilíbrios ambientais, comprometendo a qualidade de vida de todos os habitantes, afetando sobremaneira o grupo formado por idosos, crianças e pessoas com deficiência. A questão da mobilidade, no entanto não pode ser vista apenas como um problema físico-territorial, devendo envolver, portanto, uma discussão ampla sobre comportamento e cidadania.
As condições atuais das cidades apontam para uma obrigatória mudança de rumos no exercício da mobilidade urbana. Para isto a educação de trânsito constitui-se em uma ferramenta indispensável para a prática da cidadania e para uma “nova mobilidade” fundamentada na utilização dos meios não motorizados, pautando-se na lógica do respeito ao público e imprimindo a noção de comunidade e solidariedade.
“Na prevenção de acidentes, a adoção de medidas de educação que levem os usuários a terem atitudes e comportamentos de convivência no trânsito pode ser considerada como um componente essencial para este objetivo. É necessário a busca de estratégias que possam otimizar ao máximo os recursos disponíveis e estabelecer parcerias que garantam a efetividade das estratégias traçadas. A educação para o trânsito é um setor que possui um grande potencial para efetividade das medidas a serem tomadas nesta área, notadamente se for construída de forma sistêmica e não isoladamente como vem sendo tratada no Brasil. É necessário que ocorra uma “nova cultura” na mobilidade, que promova a apropriação equitativa do espaço e do tempo na circulação urbana, priorizando os modos de transporte coletivo, a bicicleta e os deslocamentos a pé. Essa nova forma de ver a mobilidade deve promover o reordenamento dos espaços e das atividades urbanas, de forma a preservar, defender e promover a qualidade ambiental das cidades brasileiras”. ( Patrícia de Almeida Villela – Pedagoga, coordenadora do Setor de Educação para o Trânsito da SETTRAN, mestranda do Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia)
Nesse sentido, podemos inferir que a Educação para o Trânsito, como um processo pedagógico tem por finalidade formar ou transformar comportamento através da expressão das potencialidades individuais, possibilitando o desenvolvimento da capacidade crítica e do senso de responsabilidade para a vida coletiva em trânsito. Entretanto, a educação de trânsito, em muitos momentos, reproduz o modelo da opção pelo automóvel em prejuízo dos meios não motorizados constituídos pelos deslocamentos a pé e de bicicleta, fato que precisa ser mudado e que já está sendo modificado em várias cidades brasileiras. A Cia. Engenharia de Tráfego de São Paulo, através do Centro de Educação de Trânsito vem adotando em suas atividades educacionais prioridade aos atores menos favorecidos no trânsito, procurando em suas ações permanentes e pontuais minimizar os conflitos urbanos.
O CETET/CETSP, adotou como uma de suas estratégias a realização de cursos para professores. São cursos presenciais e a distancia (EAD). Vale ressaltar a importância de trabalhar com os educadores que estão em contato diariamente com os alunos na sala de aula, e que podem continuar o trabalho de educação para o trânsito no cotidiano escolar. Na realização desta atividade, é importante que o professor desperte para a necessidade de educar a criança para ser pedestre, ciclista, condutor ou passageiro de veículo. O professor precisa estar ciente de seu papel enquanto multiplicador de atitudes cidadãs e seguras no trânsito, para transmitir aos alunos valores como responsabilidade, gentileza, respeito e cidadania. Os professores inclusive são orientados no atendimento para alunos com deficiência.
É mister ressaltar que ao lado da educação de trânsito, a engenharia de tráfego, o planejamento urbano e a fiscalização de trânsito também são essenciais para a implementação de uma “nova mobilidade” urbana, voltada para a cidadania. Entretanto, a educação para o trânsito possui um caráter especial neste contexto, porque é através da conscientização do indivíduo, ou seja, através de estratégias educacionais voltadas para a cidadania, que será possível a formação de cidadãos críticos, que possam compreender os efeitos danosos que o automóvel traz para a cidade e reivindicar um transporte público de qualidade, calçadas seguras e ciclovias. Sendo capaz de participar da luta em prol de um trânsito mais humano e mais seguro. A educação para o trânsito torna-se, assim, uma ferramenta de importância fundamental para possibilitar uma nova mobilidade urbana, pautada no respeito ao próximo, ao público e ao meio ambiente. Preparar a criança para que ela cuide de sua cidade, que tenha respeito ao próximo, que adquira atitudes básicas de cidadania é fundamental para prepararmos uma relação urbana melhor do que vivemos atualmente.
Oi Ari! Sou Juliana Soares, amiga da Ilmarcir, em Fortaleza. Perdi um primo há 3 anos num acidente de trânsito e outro perdeu a visão de um olho. Até hoje ninguém foi punido. Seria arquiteto se não tivesse falecido. Suas idéias eram geniais! Fico imensamente feliz de saber que existem pessoas sensíveis e conscientes do problema - falta de educação no trânsito. O Juiz do caso disse que no Paraná os índices de acidente são menores e justificou alegando que seria pela boa educação. Falou de países europeus também, sempre afirmando que trânsito é uma questão de boa educação. Obrigada.
ResponderExcluirOlá Juliana, muito bom saber que você e a Juliana são amigas. Preciso conversar contigo sobre um depoimento que gostaria que me desse para postar no blog, me escreve no email arisol@uol.com.br
ResponderExcluirObrigado. Aguardo sua comunicação.