Ally e Ryan

Ally e Ryan

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Dorothea S. Carvalho, minha primeira professora

Descrição da imagem: figura em formato retangular, foto antiga mostrando uma imagem minha do lado direito com 8 anos (foto de 1967) e meu irmão do lado esquerdo. Estamos uniformizados com os trajes escolares da época, camisa com gravata borboleta e calção com suspensório.

Feliz dia dos professores para todos nós

Tenho uma doença neuromuscular, Amiotrofia Espinhal Progressiva III. Andei até os 17 anos quando vim parar na cadeira. Embora andasse (mas não corresse) com alguma dificuldade, às vezes precisava me sentar senão cairia no chão, tive uma infância um pouco complicada. Quando minha mãe foi me matricular na escola (1967) a diretora não me permitiu ficar ao lado de outras crianças, ela achava que eu tinha uma doença contagiosa (minha doença somente foi diagnóstica em 1977). Fiquei numa sala separada sem nenhuma evolução educacional por quase dois anos (uma parte desta história está disponível no link http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/leitores+do+ig+homenageiam+professores/n1237801386978.html
onde dei uma entrevista ao Ig). Uma professora Doroteha, minha anja, um dia foi até essa sala e observou algumas tarefas que estava realizando. Nisso ela chamou a diretora e disse que eu deveria frequentar uma sala comum. Depois de muito insistir, em 1969 fui levado por essa alma iluminada à sala comum e iniciei meus estudos na sala dela.


 Aí começou minha evolução. Dois anos depois fui fazer tratamento na AACD e sai da escola. Na AACD tinha amiga Flávia (até hoje somos amigos), e quando não estávamos fazendo o tratamento, nossa diversão era ler, estudar e se informar. Nosso médico, outro anjo, dr. Renato Bonfim (falecido em 1989) vendo nosso esforço decidiu nos matricular numa escola perto da AACD. Aí mais uma vez passamos por exclusão. Como éramos da AACD ficávamos numa sala isolados e as lições eram levadas por professoras. Mas, a gente não podia se relacionar com outras crianças ou adolescentes. Nessa escola conclui o antigo ginásio e iniciei o colegial. Parei de andar, a situação ficou ruim, me recusei no começo a ir para a escola em cadeira de rodas, até que finalmente descobri que ela iria me libertar. Aos 18 anos sai da AACD, terminei o ensino médio, entrei na PUCSP para estudar Ciências Sociais. Comecei a trabalhar no jornal Folha, passei a me relacionar com namoradas, e comecei a trabalhar por inclusão. 


 Conheci minha esposa em 1983. Nos casamos um ano depois, temos dois filhos e dois netos lindos demais. No ano que me casei, já estava formado em Ciências Sociais, adorava lecionar e cursava Direito. Depois fiz especialização em Educação para crianças com deficiência na PUC. Em resumo é isso. Sempre falo para os meus alunos com deficiência que o estudo é fundamental para tirá-los da exclusão. Sempre me emociono quando lembro desses fatos, mas acho importante que todos saibam que a pessoa com deficiência pode ter uma vida digna, ser produtiva, se relacionar sexualmente, errar, acertar e qualquer outra coisa, como qualquer pessoa.

 Agradeço a Deus por um dia ter me colocado a professora Dorothea S. Carvalho no meu caminho. Quando me formei em Direito fui à procura dela e a encontrei. Ela foi minha convidada de honra na minha formatura e até hoje, ela com 92 anos lembra de mim e sempre fala com carinho do dia que me levou para a sala dela...Feliz dia dos Professores para todos que lutam por um ensino melhor e valoriza a diversidade humana.

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