Ally e Ryan

Ally e Ryan

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Breve parada no tempo

Deisy Paula comigo

a sala onde foi ministrada a aula

Hoje, 3 de dezembro, dia Internacional da Pessoa com Deficiência. Talvez tenha dado minha última aula na CET. Confesso que internamente estava bastante emocionado e procurei em muitos momentos ocultar esses sentimentos que queriam vir para fora. Minha amiga Deisynha ficou ao meu lado, mas em breve vou contar a história dela e assim todos entenderão que duas almas podem se amar assim...
O Milton que está comigo no projeto estava bem e na sua fala foi bastante esclarecedora.
Convido todos a lerem o texto abaixo da vereadora Mara Gabrilli, publicado hoje na Folha:

Avançamos - e agora?
MARA GABRILLI

Agora, precisamos de você para avançar mais: seja inclusivo. Cobre e promova a acessibilidade. Esse é um ato de cidadania e respeito PAULA, NASCIDA em 1962, teve poliomielite -uma doença praticamente erradicada do Brasil.
Ela não anda e tem dificuldade para movimentar os braços. Usa cadeira de rodas desde menina. Roberto, 50 anos, há 15 encontrou nas ondas rasas do mar um caminho curto entre a despedida da praia numa tarde ensolarada e uma cadeira de rodas para o resto da vida. Mara, que sofreu um acidente de carro aos 26 anos, descobriu, após perder todos os movimentos do corpo, que a mobilidade mais importante está na cabeça, porque é ali que está a "alavanca" da liberdade.
Essas pessoas enfrentaram, cada uma à sua época, a dificuldade de ter deficiência no Brasil. Com certeza, há muitas histórias. Hoje, 3/12, quando celebramos o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, estabelecido pela ONU em 1998, aproveito para contar algumas. Em 2005, quando assumi a primeira secretaria do país para tratar do tema, foi comum ouvir dos jornalistas que esse tema era "triste", que "não rendia pauta".
Paula demorou para cursar o ensino regular -seus pais achavam que criança com deficiência era doente e não precisava ir à escola. Roberto passou anos sem sair de casa -os locais de sua cidade não ofereciam acesso.
Das barreiras de atitude às barreiras físicas e sistêmicas, é com surpresa que observo o quanto avançamos.
E é aqui que as três pessoas de que falei (uma delas, eu mesma) se cruzam: quando as colocamos nos dias de hoje.Já podemos sair às ruas e ver melhorias na acessibilidade de nossas cidades e no conceito de deficiência para a sociedade. Não somos mais coitadinhos, olhados na rua como se fôssemos do planeta da cadeiralândia.
Empresários e empreiteiros preocupam-se em cumprir as leis que obrigam tanto a adequação física das edificações quanto a empregabilidade das pessoas com deficiência -felizmente, a lei de cotas as está colocando de fato no mercado de trabalho. Os governos já não ignoram essa parcela da população em suas políticas públicas -e, se o fazem, hoje estamos lá para lhes puxar as orelhas.
A Prefeitura de São Paulo, quando governada por José Serra, foi pioneira em criar a primeira Secretaria da Pessoa com Deficiência do Brasil, por meio da qual criamos diversos programas de inclusão.
Como exemplo prático desse marco, cito apenas nossa avenida símbolo, a Paulista, que tornou-se também modelo de excelência em termos de acessibilidade após sua reforma e, hoje, é um local universal: confortável e seguro para qualquer pedestre, com deficiência ou não.
Outro dia, em um evento público que envolvia pessoas com deficiência, o assunto que permeava as rodinhas me deixou reflexiva. Não ouvi o comum das brigas contra preconceito, do desconhecimento das pessoas diante das deficiências ou da falta de adequação dos espaços. Claro que esses itens ainda não estão resolvidos, mas já entraram na pauta pública -já rolamos a primeira pedra.
O que se debatiam eram temas como a inclusão de pessoas com deficiência nos concursos públicos; a gestão financeira dos bens das pessoas com deficiência intelectual -que passaram a ter rendimento sem ter conhecimento pleno de como utilizá-lo; a discussão sobre como disponibilizar guias-intérpretes para pessoas com surdocegueira (que não ouvem nem enxergam) e que precisam de interpretação por meio do tato.Aliás, fiz minha primeira lei municipal criando uma Central de Intérpretes para Surdos e Guia-Intérprete para Surdocegos na cidade.
A central é um atendimento em tempo real com operadores que se comunicam com cidadãos surdos em todas as regiões de São Paulo via webcam, em Libras (língua brasileira de sinais). Ouvi dizer, com alegria, que em breve um piloto será implantado em três subprefeituras da cidade. Todos assuntos complexos, não? É a esse ponto que pretendo chegar.
Não estamos mais discutindo rampas. Não estamos mais brigando para que as pessoas nos enxerguem. Estamos, agora, mergulhando em questões mais profundas da inclusão. Tenho certeza de que Paulas, Robertos e Maras já podem circular com mais autonomia com suas cadeiras de rodas, muletas, bengalas, cães-guia e encontrar aspectos bem mais inclusivos do que encontravam antes.
Hoje, 11 anos depois da criação da data pelas pessoas com deficiência no mundo todo, posso dizer que avançamos, sim. Agora, precisamos de você para avançar mais: seja inclusivo. Cobre e promova a acessibilidade. Esse é um ato de cidadania e respeito ao próximo -e a você mesmo.

MARA CRISTINA GABRILLI , 42, tetraplégica, psicóloga e publicitária, é vereadora da cidade de São Paulo pelo PSDB e fundadora da ONG Projeto Próximo Passo, hoje Instituto Mara Gabrilli. Foi secretária municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida da Prefeitura de São Paulo (2005-2007). www.maragabrilli.com.br


2 comentários:

  1. Senti uma grande emoção quando vi a nossa foto aqui.... obrigada pelo krinho e amor
    Beijos doces

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  2. Como não colocar nossa foto...iniciamos juntos todo esse processo. Beijos Ari

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