Ally e Ryan

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domingo, 23 de maio de 2010

Jornal Folha de São Paulo

ANÁLISE

Surpreende que cerca de 30% dos atropelados sejam idosos?
EDUARDO BIAVATI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quando o sinal abre, a imagem é de um boneco com as pernas abertas, o braço adiante, como se caminhasse, passo a passo, para chegar ao outro lado da rua. Para que ninguém tenha dúvida, lê-se o comando "walk" (caminhe) nos focos para pedestre norte-americanos -certamente porque é mais seguro andar do que correr.
Mas ninguém repara no bonequinho verde. Os olhares estão aguardando outro sinal: o vermelho dos carros. Dá tempo de atravessar? Será que vai abrir? E se o motorista avançar? Não dá para confiar em bonequinho verde. Devidamente educados, os pedestres reproduzem um comportamento submisso.
Observe seu olhar de pedinte, já com os pés na faixa, tateando sua sobrevivência. Dá para aguardar um momentinho enquanto atravesso? A vida de pedestre em São Paulo é esse humilhante cotidiano de se curvar sempre à fluidez dos veículos. Um estorvo nos cálculos da engenharia de tráfego. Melhor seria que não existisse, mas já que está em toda parte, calcula-se que ele caminhe a 1,2 m/s e não comprometa o sistema viário.
Essa velocidade não é para qualquer um: mais de 600 acabam mortos no meio da travessia todos os anos em São Paulo. Surpreende que aproximadamente 30% dessas vítimas tenham mais de 60 anos de idade?
Como é possível atravessar a 1,2 m/s se antes a pessoa gastou o fôlego subindo ladeiras e desviando de montes de lixo? Resta ao lado, ainda bem, o asfalto da pista, onde morrerá quase metade das vítimas do trânsito.
Pobres pedestres! Contamos, ao menos, com a esperança de que tudo pode mudar quando a segurança se torna prioridade, como ocorreu em Brasília, há dez anos.

EDUARDO BIAVATI é sociólogo e especialista em educação para o trânsito

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