O Departamento de Transportes Públicos - DTP, foi uma escola de conhecimento. A ordem que veio da gestão era fiscalizar com rigor e aplicar a lei com severidade em todos aqueles que não utilizarem seus veículos aos fins que se destinavam. Na época os taxistas não tinham respeito pelos usuários, os motoristas de ônibus agiam da mesma forma e os condutores escolares dirigiam como se não houvesse a presença do Poder Público para fiscalizá-los.
Nesse cenários conheci novos e bons amigos. Marcelo Verago, Facchini e o saudoso Roberto. Na linha de rua, bons fiscais, como o Armando, Alberto Macário, Avelino e o Cidão.
Cabia a mim e ao Marcelo dar o suporte jurídico, mas a pressão que recebíamos era muito forte. Lidar diretamente com empresários de ônibus, empresários de frota de táxi, presidente do sindicato dos motoristas de táxi e condutores escolares fazia do setor uma verdadeira “panela de pressão”. E não somente isso: até a Câmara dos Vereadores queria interferir no nosso trabalho. Criamos um serviço de atendimento ao usuário que quisesse denunciar taxista ou motorista de transporte escolar (a CMTC atendia reclamações contra os condutores de transporte coletivo).
O setor de transportes da cidade era um verdadeiro caos. Transportes clandestinos, tanto de ônibus como de táxi espalhavam-se pela cidade.
Senti muito a diferença quando sai do CETET e fui para lá. No DTP seu desempenho era diariamente cobrado e fiscalizado pela Procuradoria do Município, portanto, tínhamos que permanecer atentos e concentrados o tempo todo.
Mesmo assim, com pouca estrutura, conseguimos dar um padrão de atendimento aos usuários do transporte público. Eu e o Marcelo trabalhamos em perfeita sintonia, nenhum tentou prejudicar o outro, isso facilitou o trabalho.
O problema de transporte e trânsito era muito grave, a gestão Erundina não deu a resposta que a cidade queria. Numa entrevista concedida à Fundação Perseu Abramo em 30.01.1990, um ano após a prefeita assumir ela respondeu assim uma pergunta:
FPA:E em contrapartida? Qual é o grande problema que nós ainda não conseguimos resolver?
Luiza Erundina -O do transporte. Transporte e trânsito. O problema é estrutural e a solução definitiva foge, a meu ver, ao âmbito municipal. Por isso, é importante a luta que está sendo levada pela Frente Nacional de Prefeitos. Ou o governo federal reconhece, conforme está na Constituição, que o transporte é um direito do cidadão e, como tal, fornece recursos para essa área, ou os municípios não vão conseguir dar conta. Porque não dá para você ficar dependendo apenas da tarifa, que já é pesada e, mesmo assim, não cobre a planilha de custos.Evidentemente, não dá para pensar em aumentá-la muito, pois o usuário não conseguiria suportar. A nossa proposta, então, é que se tenha uma tarifa social subsidiada pelos poderes públicos municipal e federal e pela iniciativa privada. Nós, inclusive, já encaminhamos um projeto de lei para a Câmara, criando um fundo municipal de transporte, para o qual será destinado o dinheiro proveniente da cobrança das multas de trânsito, da Zona Azul. e de impostos da iniciativa privada, desde que o governo federal reconheça aos municípios o direito de tributar as empresas sobre o seu faturamento. É bom deixar claro que a Prefeitura de São Paulo já subsidia fortemente a tarifa de ônibus. Afinal, como já disse, o transporte é um direito do cidadão, assim como a saúde, a educação e a cultura.
Quanto ao problema do trânsito, estamos fazendo algumas obras em vias públicas para dar mais fluidez ao tráfego. Não adianta jogar muitos ônibus na rua, porque eles vão agravar ainda mais os congestionamentos. A melhoria do transporte coletivo está associada a um bom plano viário. Até o final deste ano, vamos entregar dois corredores exclusivos para ônibus. Além disso, estamos alargando duas grandes avenidas da Zona Sul, a região mais sacrificada da cidade em termos de transporte, e complementando o complexo viário João Dias. (entrevista completa no endereço da Fundação Perseu Abramo,
http://www2.fpa.org.br/portal/modules/news/article.php?storyid=642 )
Mesmo assim continuamos nosso trabalho na tentativa de oferecer um serviço com o mínimo de qualidade aos usuários da cidade.
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