A eleição municipal de 1988 em São Paulo apresentou-se como uma das mais vibrantes na história de São Paulo do período pós-redemocratização. Três candidatos disputaram voto a voto até o fim. Do então PDS , Paulo Maluf liderou durante a maior parte do tempo as pesquisas, enquanto o PMDB, fortalecido pela conquista do governo do estado em 1986, tentava vencer a eleição na capital com o candidato Osvaldo Leiva, apoiado pelo governador e pelo prefeito Jânio, aliás, o apoio do prefeito foi isolado, considerando que a base janista, tanto do governo como no apoio popular ficou ao lado de Paulo Maluf. A dissidência do PMDB, que dois anos antes havia fundado o PSDB lança o candidato José Serra. Por fora, estava o PT, que apresentava uma ex-integrante das Ligas Camponesas da Paraíba como candidata a prefeito. Luiza Erundina venceu a convenção do partido com 55% dos votos dos militantes. A cúpula do partido desejava que o candidato fosse Plínio de Arruda Sampaio, que gozava de bom trânsito junto à Igreja católica e era visto como moderado. Lula e José Dirceu praticamente não participaram da campanha.
Luiza Erundina emigrou para a capital paulista em 1971, por conta da repressão ao movimento no campo pela ditadura militar. Tornou-se presidente da Associação Profissional das Assistentes Sociais de São Paulo e foi chamada por Lula, junto com outras lideranças sindicais, para fundar o Partido dos Trabalhadores em 1979. Dentro do partido, começou sua trajetória de conquistas na política. Em 1982, foi eleita vereadora na capital paulista e quatro anos mais tarde, deputada estadual.
A vida de Erundina e de seu partido não era fácil, como se pode notar na entrevista dos candidatos ao programa Roda Viva, logo depois de sua candidatura ser oficializada. O jornalista Boris Casoy é dos mais virulentos contra a petista, repetindo uma pergunta que, para ele, é “clássica”, sobre a crença da parlamentar em Deus. Uma de suas dóceis questões é “Deputada, a senhora fala em espaços democráticos e democracia, prevê obediência à lei. A senhora tem apoiado, quando não promovido, invasões de terrenos urbanos em São Paulo ao arrepio da lei. Como a senhora pretende tratar esta questão das invasões, se é que a senhora vai parar de invadir, na prefeitura de São Paulo, se a senhora for eleita?”.
A entrevista pode ser acompanhada no “Memória Roda Viva”, através do endereço http://www.rodaviva.fapesp.br/materia/306/entrevistados/luiza_erundina_1988.htm
A campanha
O hoje deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB) participou da empreitada de Erundina. Foi a primeira vez que os comunistas se aliaram ao PT em São Paulo, junto com o PCB. Antes, haviam se coligado com o PMDB (apoiando FHC em 1985). No livro No Olho do Furacão, Rebelo conta como estava o clima da campanha em 14 de setembro. “À época, o pleito era disputado em turno único e a votação seria no dia 15 de novembro”.“Maluf dispara nas pesquisas e chega perto de 40%, enquanto o índice de Erundina sofre uma pequena queda. Mas é o bastante para que a campanha, ainda em busca de afirmação, entre em zona de turbulência. Argumentamos que o crescimento de Maluf e o nosso ligeiro declínio não têm maior significado. Maluf cresce no vácuo das forças conservadoras que, entre ele, Leiva e a alternativa PSDB, depositam mais confiança no ex-governador de São Paulo.”
O candidato tucano era José Serra e o partido recém-criado utilizava da bandeira da ética para se diferenciar da agremiação-mãe, o PMDB. O jingle serrista trazia versos com trocadilhos feitos com o nome do candidato (Serra, serra, serra essa mamata...) e seu principal adversário era justamente o peemedebista João Leiva. A estratégia era chegar ao segundo lugar nas pesquisas e desbancar o ex-secretário do governador Quércia, canalizando os votos anti-malufistas. Mas, com a ajuda da máquina, Leiva já era o segundo colocado em outubro.
Com um Leiva estagnado e um Serra sem discurso, Erundina começa a subir nas pesquisas. A cinco dias da eleição, ela tem 19% e está empatada com o peemedebista; Maluf tem 28%. Um dia antes, uma tragédia. Trabalhadores da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) que ocupam a empresa são reprimidos pelo exército e pela PM. Em meio ao que se convencionou chamar de massacre, três operários mortos e uma centena de feridos. Este acontecimento teve um forte apelo popular, alguns setores ligaram o candidato Maluf às forças militares, isso minou o candidato.
A vontade de mudança tomava corpo e Erundina crescia na reta final. Aldo Rebelo conta uma história exemplar do engajamento que vinha naturalmente para a petista às vésperas da eleição. “Alexandrina, Irene e Conceição são pernambucanas, moram no fundão da Zona Leste e ganham a vida fazendo faxina e costurando para famílias de classe média. Ontem elas receberam uma oferta para ganhar cinco mil cruzados cada uma para fazer boca-de-urna para o candidato do PDS, Paulo Maluf. São quase 15 horas e só agora elas estão tomando a primeira refeição do dia: um sanduíche de queijo que recebem na porta do colégio. Mas estão satisfeitas. Rejeitaram a oferta de cinco mil cruzados e fazem boca-de-urna, de graça, para Luiza Erundina e para o candidato a vereador do PCdoB”.
Os empregados da CET torciam em silêncio pela vitória de Erundina, não em sua totalidade, mas poucos dias antes das eleições participamos de uma panfletagem no centro de São Paulo; infelizmente não posso citar as pessoas que estavam comigo, porque algumas delas ainda trabalham na CET e não tenho autorização para revelar.
Sem urna eletrônica, a apuração é lenta. Os primeiros votos a chegar são das regiões mais nobres e centrais. A apuração na periferia começa a dar a vitória para a primeira prefeita mulher de São Paulo, como conta Rebelo. Em Guaianases, ela tem 41% dos primeiros votos apurados, João Leiva fica em segundo com pouco menos de 20% e Paulo Maluf fica em quarto, depois dos votos em branco.
Erundina vence com 29,84% dos votos, seguida por Maluf que fica com 24,45%. Leiva vem a seguir com 14,17% e o tucano Serra tem 5,59%, quase empatado com o candidato do PL João Mellão, que alcança 5,39%.
No mesmo dia em que a apuração termina, uma amiga liga para mim e fala que não estava acreditando. Para nós foi um alivio, iríamos ter uma mudança de rumo na CET.
Naquele ano, a festa de natal foi comemorada efusivamente, o coronel fez um discurso de despedida, disse que “São Paulo iria se arrepender da escolha, elogiou as Forças Armadas”.
Era o fim da gestão Jânio Quadros e um novo horizonte surgia para a CET e para o CETET em particular.
Puxa Ari, que trabalho excelente de pesquisa.
ResponderExcluirValeu, volta logo.
Carlos
Amigo..concordo com o amigo ai de cima.. isso que é pesquisa... como nao sou chegada em politica e nessa epoca eu ainda era criança.. nao vou comentar ta.. a nao ser lhe dar parabéns pelo blog.
ResponderExcluirbjs
Ariana