"O educador é peça-chave. Ele transmitirá os valores, as motivações, as estratégias. Ajudará a interpretar a vida. Nós, educadores, estamos mais em jogo do que a criança e jovens. Se não formos capazes de ensinar, será impossível aprender" - FEUERSTEIN
Patricia Trigo
Olá, meus caros colegas:
Outro dia, ouvi de uma professora que "não leio sobre esses assuntos porque tenho tanta coisa para ler na minha área que não dá mais tempo pra ler mais nada".
Para quem não for desse "bloco" e perceber que educação é um todo e não apenas uma compartimentação do saber, sugiro a leitura do presente artigo.
Nele vocês lerão que "Numa escola inclusiva, a motivação é característica singular na aprendizagem do aluno. A Experiência da Aprendizagem Mediada realça a relação professor-educando, o grande dueto responsável pelo sucesso do trabalho, estabelecendo um vínculo afetivo. Uma vez este elo estabelecido, dá-se um passo em direção à aprendizagem, enriquecendo a auto-estima do aluno, sua autonomia e como ele aprende e se desenvolve cognitiva, social e emocionalmente.
Espera-se que o professor entenda que o conteúdo ensinado seja de total significação para a vida de seu aluno, usando sempre de crítica para discernir quando este terá dificuldade para transferir o que lhe foi ensinado. O educador deve reconhecer que o saber não tem dono. Nesse sentido, ele se dispõe, com muito mais facilidade, a entrar numa relação de troca por oposição, ao que Freire (1984) chamaria de uma educação bancária, em que ao aluno caberia apenas o papel de depósito de conteúdos, sem entendê-los. A relação de poder é revista e passa a ser mútua porque será construído na base da troca.
Cabe ao educador da escola inclusiva saber que a compreensão de suas atitudes com os portadores de necessidades especiais não passa apenas pelo estudo teórico e prático. Passa pela subjetividade porque os valores e crenças adquiridos durante a vida afetam, direta ou indiretamente, o fazer pedagógico."
...
A escola é o segundo ambiente social da criança. No colégio, os pequenos aprendem as regras de socialização e descobrem que o outro está presente em situações de compartilhar as descobertas e estabelecer limites. Com a proposta de inclusão, a escola deve estar, primeiramente, disposta a aceitar mudanças. E não só as de estrutura física. É necessário conscientizar todos os funcionários do estabelecimento, desde o porteiro até o diretor.
A instituição deve promover reuniões sistemáticas de planejamento com objetivos específicos para cada aluno com necessidades educativas especiais. A distribuição de textos permitindo discussões entre educadores e o esclarecimento de idéias promove, de forma natural, o intercâmbio de experiências. Sensibilizar os alunos com reflexões através de dinâmicas, facilita a integração. É importante que haja uma atenção mais detalhada diante do planejamento, como o espaço onde será realizada a atividade, a área que será ocupada, os materiais, instrumentos utilizados e a disposição da mobília na sala de aula.
A escola inclusiva considera importante a formação continuada do professor. Nesta renovação, o educador assume a característica de mediador, pesquisador e motivados tornando-se um colaborador no processo de aprendizagem. Os currículos devem ser mais flexíveis para dar sentido ao saber, ligado mais à ação."
Para mais, confiram o artigo na íntegra.
cordialmente,
Francisco Lima
A inclusão é um desejo do Ministério da Educação que desde 1996 tenta tirar do papel a lei que garante aos portadores de deficiência o direito de estudar em escolas comuns. Mas colocar alunos com necessidades educativas especiais numa classe regular não é um processo fácil.
A segregação vem sendo praticada a séculos e o fato da educação especial ter funcionado durante muito tempo dificulta fazer, de forma satisfatória, o planejamento, os programas de ensino e o currículo para a escola inclusiva. Na verdade, a inclusão é um grande desafio.
A caminhada de Reuven Feuerstein na educação começou quando ele foi chamado pelo Estado de Israel para desenvolver o potencial cognitivo das crianças judias frutos do Holocausto e outras de diversos lugares como Ásia e África. Testes como os de QI e provas piagetianas foram realizados para analisar o nível de retardo mental na maioria da população infantil. A partir deste fato, Feuerstein procurou um método que fosse diferente e viesse de encontro com as teorias da época onde o fracasso da aprendizagem era conseqüência da imaturidade biológica da estrutura cognitiva do indivíduo.
A Experiência da Aprendizagem Mediada é a uma interação na qual o mediador (pai, mãe, professor) se situa entre o organismo do indivíduo mediado (filho ou aluno) e os estímulos (os objetos, problemas ou sinais) de forma a selecioná-los, ampliá-los ou interpretá-los utilizando estratégias interativas para produzir significações além das necessidades imediatas da situação. O aprendiz não se beneficia somente da exposição direta a um estímulo em particular mas cria, a partir dela, orientações, atitudes e técnicas que o modifica. A EAM1 é o que determina a flexibilidade que afeta o indivíduo de maneira significativa produzindo a plasticidade da inteligência. Ela é o elemento central da teoria de Feuerstein e forma as bases dos sistemas aplicados ao Processo de Avaliação do Potencial de Aprendizagem (LPAD) e ao Programa de Enriquecimento Instrumental (PEI). A EAM pode se melhor traduzida assim:
S = H -> O <- H = R
Legenda: S= estímulos; H= mediador; O= organismo; R= reações do organismo
Para Feuerstein, há um mediador, necessariamente um ser humano, que seleciona, filtra, organiza, nomeia e dá significado aos objetos. O mediador transmite sua visão do mundo e, antes que o mediado estabeleça sua própria visão, ele equilibra o seu conhecimento com o saber do mediador. Nesse sentido, pode-se afirmar que os vários momentos com pais e professores são momentos de experiência de aprendizagem mediada, onde o foco não se dá no conteúdo das informações, mas sim no diálogo intencional entre o emissor e o receptor da mensagem. Para Feuerstein, as dimensões de intencionalidade (o verdadeiro objeto do mediador) e a transcendência (fazer o mediado pensar sobre o que acontece) são essenciais para uma efetiva EAM. É ela que assegura a mudança de natureza estrutural.
Numa escola inclusiva, a motivação é característica singular na aprendizagem do aluno. A Experiência da Aprendizagem Mediada realça a relação professor-educando, o grande dueto responsável pelo sucesso do trabalho, estabelecendo um vínculo afetivo. Uma vez este elo estabelecido, dá-se um passo em direção à aprendizagem, enriquecendo a auto-estima do aluno, sua autonomia e como ele aprende e se desenvolve cognitiva, social e emocionalmente.
Espera-se que o professor entenda que o conteúdo ensinado seja de total significação para a vida de seu aluno, usando sempre de crítica para discernir quando este terá dificuldade para transferir o que lhe foi ensinado. O educador deve reconhecer que o saber não tem dono. Nesse sentido, ele se dispõe, com muito mais facilidade, a entrar numa relação de troca por oposição, ao que Freire (1984) chamaria de uma educação bancária, em que ao aluno caberia apenas o papel de depósito de conteúdos, sem entendê-los. A relação de poder é revista e passa a ser mútua porque será construído na base da troca.
Cabe ao educador da escola inclusiva saber que a compreensão de suas atitudes com os portadores de necessidades especiais não passa apenas pelo estudo teórico e prático. Passa pela subjetividade porque os valores e crenças adquiridos durante a vida afetam, direta ou indiretamente, o fazer pedagógico. Vale ressaltar que a avaliação deve ser diversificada pelo professor, oferecendo várias oportunidades e formas diferentes do aluno mostrar o seu progresso.
Como o lar é a primeira escola da criança, os pais, no papel de mediadores, devem apresentar situações à criança com a preocupação de focar mais os aspectos que as respostas. Porque sem a mediação, a informação é captada de forma difusa e fragmentada, pondo em risco a integração da criança. Mediação pobre, segundo Fonseca (2002):
(...) tende a afetar as estruturas cognitivas da criança, tornando-as assistemáticas e episódicas, não permitindo, conseqüentemente, que seu comportamento seja elaborado de modo preciso e ajustado. Se a interação entre professores e alunos for carente de mediação, as crianças tendem a ser mais desorganizadas, mais impulsivas e menos reflexivas, numa palavra, menos adaptadas às situações e aprendizagens futuras. (FONSECA, 2002, pp.14).
Quando se trata de uma criança com necessidades educativas especiais, a função da família fica ainda mais destacada. Os pais desempenham uma participação fundamental no que diz respeito à estimulação e intervenção precoce. Quanto mais cedo se incentivar a criança, mais objetivos ela consegue alcançar aumentando a confiança e a auto-estima. Pesquisando sobre deficiências ou sobre a dificuldade da criança, os pais vão superar o luto pela perda do filho perfeito com menos dificuldade e redefinir o conceito de vencedor.
A escola é o segundo ambiente social da criança. No colégio, os pequenos aprendem as regras de socialização e descobrem que o outro está presente em situações de compartilhar as descobertas e estabelecer limites. Com a proposta de inclusão, a escola deve estar, primeiramente, disposta a aceitar mudanças. E não só as de estrutura física. É necessário conscientizar todos os funcionários do estabelecimento, desde o porteiro até o diretor.
A instituição deve promover reuniões sistemáticas de planejamento com objetivos específicos para cada aluno com necessidades educativas especiais. A distribuição de textos permitindo discussões entre educadores e o esclarecimento de idéias promove, de forma natural, o intercâmbio de experiências. Sensibilizar os alunos com reflexões através de dinâmicas, facilita a integração. É importante que haja uma atenção mais detalhada diante do planejamento, como o espaço onde será realizada a atividade, a área que será ocupada, os materiais, instrumentos utilizados e a disposição da mobília na sala de aula.
A escola inclusiva considera importante a formação continuada do professor. Nesta renovação, o educador assume a característica de mediador, pesquisador e motivados tornando-se um colaborador no processo de aprendizagem. Os currículos devem ser mais flexíveis para dar sentido ao saber, ligado mais à ação.
Feuerstein afirma que o trabalho de mediação é uma experiência intrapessoal produzida por situações interpessoais. O que medeia o indivíduo é o fato de que ele, enquanto sujeito, interage com o outro que é sujeito também, concretizando a reciprocidade entre as pessoas.
Nenhuma tecnologia ou método revolucionário poderá, no entanto, fazer efeito sem a mediação pedagógica. Mas esta, para ganhar eficácia, precisa ser confiada a professores que conheçam a teoria da Experiência da Aprendizagem Mediada de Feuerstein, onde uma mediação consciente e direcionada é o grande facilitador da aprendizagem. Através desta teoria, o professor será capaz de refletir sobre sua prática pedagógica, inovando sua criatividade.
A luta pela inclusão abrange também a certeza de que os alunos com necessidades especiais aprendem. É verdade de que uma forma mais lenta, com metodologia diferenciada, muita paciência e dedicação. Preservar é fundamental. Muitos educadores, talvez por falta de informação ou interesse, não entendem que um aluno, com algum tipo de deficiência pode fazê-lo.
Numa escola inclusiva, o aluno aprende com o professor e este, sobretudo, com o aluno. É uma pista de mão dupla. Ultrapassando as lombadas e desviando os obstáculos. Sem pressa e obedecendo a sinalização de cada educando. Porque é assim que se chega ao final do caminho onde há muitas possibilidades de continuar seguindo em frente.
1- Abreviação de Experiência da Aprendizagem Mediada.
Bibliografia consultada
- ALVES, Fátima. Inclusão: novos olhares, vários caminhos e um grande desafio. Rio de Janeiro: WAK, 2003.
- BEYER, Hugo Otto. O fazer pedagógico: a abordagem de Reuven Feuerstein, a partir de Piaget e Vygotsky. Porto Alegre:Mediação,1996.
- BRIGGS, Dorothy Corkille. A auto estima do seu filho. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
- FONSECA, Vitor da. Pais e filhos em interação - aprendizagem mediatizada no contexto familiar. São Paulo: Salesiana, 2002.
- ______. Educação Especial - programa de Estimulação Precoce: uma introdução às idéias de Feuerstein. Porto Alegre: Artmed,1995.
- FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 1984.
- GOMES, Cristiano. Feuerstein e a construção mediada do conhecimento. Porto Alegre: Artmed, 2002.
- MAGALHÃES, Rita de Cássia B.P. (org.) Reflexões sobre a diferença: uma introdução à educação especial. Fortaleza: Demócrito Rocha, 2002.
- STAINBACK, Susan & William. Inclusão: um guia para educadores. Porto Alegre: Artmed,1999.
- VOIVODIC, Maria Antonieta. Inclusão escolar das crianças com Síndrome de Down. Petrópolis: Vozes, 1994.
Fonte: Rede Saci - http://www.saci.org.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário